Geraldo Galindo: 13 de Março, um dia histórico 

O acirramento da disputa política em curso no Brasil terá desfecho imprevisível. Inconformados com o resultado da eleição de 2014, os partidos conservadores e a mídia colonizada a eles associados tomaram a decisão de desestabilizar o governo para ter como perspectiva encerrar o ciclo de governos progressistas ao final ou durante o atual mandado.

Por Geraldo Galindo*

A tradição da história recente indica que a direita brasileira, com fortes vínculos com o imperialismo norte-americano, tem disposição para romper sem pudor com a legalidade democrática quando sente seus interesses contrariados por governos progressistas que promovam ou acenem com ampliação de direitos para as camadas mais necessitadas. Para tanto, usam despudoradamente os grandes meios de comunicação para cercar os protagonistas das experiências democráticas e levá-los ao isolamento e ao descrédito.

Nós da esquerda atravessamos um momento extremamente complexo. Estamos sendo vítimas de um massacre midiático dos mais cruéis e perversos. Enquanto a bateria de ataques diários de desqualificação de nossas lideranças chega à casa de dezenas de milhões de brasileiros, não temos armas da mesma envergadura para fazer a disputa de ideias e opiniões. Na campanha eleitoral de 2014, com o tempo de TV de que dispúnhamos, conseguimos equilibrar um pouco o jogo, colocando nossas opiniões, o que possibilitou recuperar parte da popularidade perdida pela presidenta e vencer as eleições. No atual momento, não temos esse contraponto. E assim, os adversários vão corroendo covardemente a imagem de Dilma e do PT.

Todas as entidades e militantes do campo antineoliberal e anti-imperialista têm a compreensão de que a alternativa é mobilizar o povo para resistir ao golpe em construção e assegurar o mandato da presidenta Dilma. Mas isso não é fácil em momento de cerco, na medida em que as posições das classes dominantes são difundidas à exaustão, gerando confusão e incompreensão até mesmo na nossa própria base de sustentação, sem falar dos equívocos do governo que terminam por gerar desestímulo em parte de nossa tropa. Assim, levando em conta um cenário absolutamente adverso e problemas de exclusivismo na preparação dos atos, o dia 13 foi um grande sucesso, surpreendeu até os mais pessimistas e demonstrou que temos capacidade de mobilizar parcela importante de nossa militância e do povo, receosa com a possibilidade de um retrocesso político de consequências imprevisíveis.

Nodomingo (15), acontecerão as manifestações dos golpistas a cobrar o impeachment da presidenta Dilma com ampla convocação e divulgação da mídia corrompida e venal. Alegam esses setores o inconformismo com a corrupção, um contrabando para disfarçar sua real indignação de não aceitar que dezenas de milhões de brasileiros passassem a ter acesso a políticas públicas que efetivamente melhoraram a qualidade de vida dessas pessoas. Os grandes jornais e TVs que pouco espaço dedicaram à nossa jornada de luta e tentaram colocá-la menor do que foi ou desqualificá-la – como era previsível – , vão estampar em suas manchetes que as mobilizações da direita golpista foram maiores, o que pode acontecer. Mas isso não deve frear nossos ânimos. Ao contrário, quanto maior for a dos adversários, nos esforçaremos mais ainda para ampliar nossas mobilizações.

O dia 13 de março é um dia histórico porque em meio a tamanha adversidade fizemos uma demonstração pública de que não nos curvaremos diante da marcha golpista em curso. Lançamos a mensagem aos nossos aliados e inimigos de classe de que no Brasil há uma parcela esclarecida e politizada da sociedade que resistirá até o último momento contra os que pretendem romper com a legalidade democrática, criminalizar os movimentos sociais e retornar com a agenda neoliberal. E deixamos claro que a Petrobrás é do povo brasileiro, que não aceitamos sua privatização, assim como defendemos o fim do financiamento empresarial das campanhas eleitorais, razão principal dos sucessivos escândalos que assolam o país.

A data também pode ser colocada como ponto de partida para sucessivas mobilizações de rua que a conjuntura vai exigir e momento de rearticulação da CMS – Coordenação dos Movimentos Sociais –, como fórum amplo para unificar a agenda de luta da classe trabalhadora. Penso que devemos fazer atos em todo o país no dia 1º de Abril, data do golpe de 1964, pra levantar bem alto a bandeira da defesa da democracia. Estão de parabéns as centrais sindicais, as entidades estudantis, o MST e todas as demais entidades que contribuíram para o êxito do dia nacional de lutas e para renovar fôlego à nossa aguerrida militância. A guerra continua, novas batalhas virão.

(*) Geraldo Galindo é secretário de Comunicação e de Movimentos Sociais do PCdoB-BA.