Partido Comunista da China sob ataque da mídia estadunidense
O Partido Comunista da China está sob forte ataque da mídia estadunidense, contando inclusive com a opinião de prestigiosos acadêmicos estudiosos de China. Não é incomum que os grandes conglomerados de mídia internacionais dediquem algumas páginas a criticar a China e desconstruir a imagem positiva de sua experiência socialista. Contudo três recentes artigos publicados por consagrados meios de comunicação superaram o padrão das críticas ao fazer previsões improváveis.
Por Gaio Doria
Publicado 08/03/2015 13:54
Em coluna de opinião publicada no Wall Street Journal no dia 29 de Janeiro de 2015, Michael Auslin – acadêmico e especialista em Ásia – descreve ter estado em um jantar privado, em Washington D.C, com diplomatas estrangeiros e importantes intelectuais. Neste, um prestigiado acadêmico estudioso da China haveria proferido a seguinte sentença: “eu não posso precisar uma data, mas o Partido Comunista da China está entrando em seu jogo final” . A afirmação parece ter atingindo um consenso geral, pois ninguém presente no jantar contrapôs o acadêmico.
Este, supostamente responsável pela declaração bombástica, teria décadas de experiência de pesquisa, com frequentes visitas à China e fortes laços junto a oficiais chineses. Curiosamente, não foi revelado o nome de nenhum dos presentes no jantar no artigo, mas este não poupa esforços em descrever com os já tradicionais argumentos a razão pela qual a queda seria eminente. No entanto, nos chama a atenção que o presidente Xi Jinping é apontado como o maior pivô da destruição do Partido. O motivo? Justamente por estar fazendo um bom governo. A suposta concentração de poder nas mãos de Xi e sua guinada para esquerda está incomodando muito Washington.
Segundo Auslin, a bem sucedida campanha anticorrupção não teria eficácia no longo prazo, uma vez que a campanha seria apenas uma caça as bruxas entre facções rivais. Um teatro com intuito de recuperar junto ao povo chinês a credibilidade do Partido. Mais cedo ou mais tarde algumas facas iriam atrás de Xi. O autor admite que o colapso do Partido seria violento e termina o texto apontando caminhos que o “Ocidente” poderia tomar para lidar com a situação.
Como a verdade mais cedo ou mais tarde sempre aparece, no dia 6 de março de 2015, o renomado acadêmico David Shambaugh publicou um ensaio – vejam, também no Wall Street Journal – sobre o pressuposto inicio do estágio final do Partido Comunista da China. O fato da matéria ter sido publicada durante o evento político mais importante da República Popular da China, as “duas sessões”, não é mera coincidência.
Para quem não conhece, David Shambaugh é professor de ciência política e assuntos internacionais na George Washington University , em Washington D.C. David publicou inúmeros artigos e livros sobre a China contemporânea. É extremamente bem conectado com oficiais chineses e visita regularmente grandes institutos de pesquisa no país, dentre eles a própria escola de formação do Partido Comunista da China. Ele é bem reconhecido por ter uma visão mais crítica e menos alarmista.
No Brasil, chegou a dar uma palestra sobre a situação político-econômica da China a convite do Instituto Fernando Henrique Cardoso e do Conselho Empresarial China Brasil.
Seria ele o prestigioso acadêmico presente no jantar – responsável pela afirmação apocalíptica – que Auslin citou em sua coluna? É difícil precisar, mas a tese central do texto deixa poucas dúvidas. Shambaugh afirma que o fim do Partido Comunista estaria próximo e as medidas tomadas por Xi Jinping estariam direcionando o país para um ponto de ruptura. O ensaio, coincidentemente, trata de detalhar muitos dos argumentos apresentados superficialmente na coluna de Auslin. O intelectual troca o método cientifico pela bola de cristal e argumenta que o sistema político chinês estaria quebrado e sua aparente estabilidade seria fruto da conivência momentânea de setores da sociedade chinesa prontos para estraçalhar a ordem vigente. O autor cautelosamente não se arrisca em firmar uma data, mas profetiza o inicio do fim e um fim violento.
Esta discussão extrapolou as páginas do Wall Street Journal quando Peter Mattis, pesquisador da fundação Jamestown e pesquisador visitante na National Cheng-chi University’s Institute of International Relations in Taipei, Taiwan, publicou no dia 2 de março de 2015, um artigo intitulado Juízo Final: Preparando-se para o colapso da China. O artigo é um exercício grotesco de recomendações para o governo de Washington no caso de uma eventual queda do governo chinês.
O texto foi publico no famoso The National Interest, um periódico bimestral, famoso por defender o ponto de vista estadunidense e por ter publicado em 1989 o controverso artigo de Francis Fukuyama sobre o fim da história.
Enquanto o Partido Comunista da China, em seu último congresso, afirmara a democracia como valor fundamental do socialismo, os intelectuais de Washington preveem apocalipses políticos. Um país firma sua posição de combate à corrupção e caminhada rumo à democracia socialista; o outro decreta seu fim baseado nas mesmas medidas. Alguém está redondamente equivocado. Ou alguém está usando seus aparelhos ideológicos para detratar a China, que cada vez mais avança como vanguarda na construção de uma nova ordem mundial. A China incomoda muito por ser a concretização de uma antítese a todas as teses consagradas e defendidas pelo ocidente capitalista – cuja liderança é assumida por Washington.