Arte de grafiteiros e rappers colore sábado dos brasileiros
Ao chacoalhar e apertar repetidas vezes o spray de tinta contra a parede, o grafiteiro Adriano dos Santos Damasceno, de 30 anos, tem a certeza de que está dando uma pequena, porém significativa, colaboração para tornar o mundo um lugar mais bonito e agradável. A certeza de Adriano é compartilhada por cerca de 500 grafiteiros em 13 estados e no Distrito Federal (DF) que, como ele, participaram neste sábado (21) do evento Brasil em Cores.
Publicado 22/02/2015 12:06
Adriano é um dos idealizadores desse evento, que foi organizado a partir de um grupo do WhatsApp, com o objetivo de expandir a cultura urbana no Brasil. Os trabalhos serão divulgados na página do Brasil em Cores 2015 no Facebook. Posteriormente, serão feitos um livro digital e um calendário com as imagens.
No DF cerca de 30 grafiteiros pintaram os muros do Sesc de Taguatinga. A expectativa é que, em todo o país, mais de 500 grafiteiros usem dessa arte para expor suas mensagens. “Aqui em Brasília, estamos mostrando os diversos tipos de belezas que nosso país tem. Há desenhos que mostram a beleza feminina e de nossas raças, bem como da fauna e da flora”, disse o grafiteiro e organizador do evento.
Inspiração para estes e outros desenhos não falta. “Vivemos a problemática urbana e as dificuldades para acesso à arte nas comunidades. Nesse sentido, o hip hop tem sido um canal muito eficiente. As temáticas sociais vêm de forma quase automática”, disse Adriano. “O que buscamos por meio de nossa arte é dar qualidade de vida e fazer a diferença em nossas comunidades.”
Para Adriano, além de ser um meio de socialização, o grafite ajuda a resgatar os mais novos das ruas e das más companhias. "O prazer que [os mais jovens] sentem com o grafite evita que busquem outros prazeres efêmeros na cidade, porque estão ocupando a cabeça de forma positiva, desenvolvendo sempre temas e ideias”, destacou, referindo-se não apenas ao grafite, mas aos outros elementos do hip hop: break, DJ e rap.
A presença de mulheres tem sido cada vez maior nesse ambiente que, até alguns anos, era, em sua absoluta maioria, masculino. Sabrina Falcão (foto), de 31 anos, é uma delas. “Hip hop é protesto, e a figura feminina também se insere nesse contexto, inclusive contra o machismo. O ambiente pode ainda ser majoritariamente masculino, mas nunca senti barreiras, nem aqui, nem em qualquer outro núcleo social. Mas acho que isso tem mais a ver com a minha postura”, argumenta Sabrina.
A sensibilidade feminina agrega valor à arte que ela escolheu para representar seus sentimentos, suas angústias. “Faço grafite porque é uma arte que envolve sentimento e, por meio dele, me sinto parte de um processo criativo. É preciso sensibilidade até para apertar o cap [bico do spray de tinta usado para fazer o grafite] do jet [spray]. Elementos como força, ângulo, vento, superfície e ambiente, tudo junto faz parte do resultado na arte final”, acrescentou.
No caso do evento de Brasília, o som dos sprays sendo chacoalhados misturava-se às vozes que, a poucos metros dali, participaram da Batalha da Senzala, um duelo de rimas cantadas por vários rappers da cidade. Por isso, na capital federal, o evento chamou-se Brasil em Cores e Rimas.
Usando uma camisa com a mensagem “homofobia mata”, o rapper, MC e educador social Marcão Aborígene, de 29 anos, explica como os duelos foram organizados. “Nós apresentamos, na hora, os temas que deveriam ser abordados de improviso pelos competidores para que o público escolhesse o melhor. O prêmio é a socialização do conhecimento.”
Entre os temas colocados no desafio estão alguns relacionados à política, ao sexismo, aos preconceitos, à xenofobia, à periferia, ao extermínio da juventude e à desmilitarização da polícia. “Eles foram definidos a partir de levantamentos feitos sobre a conjuntura das comunidades, do país e do mundo”, justifica o organizador do duelo de rappers.
Como disse Adriano Damasceno: “as pessoas podem ajudar o mundo. E o hip hop pode ajudar as pessoas a mudar o mundo”.
Fonte: Agência Brasil