Renato Rabelo conclama unidade pelo desenvolvimento do Brasil
Com o objetivo de refletir sobre a configuração social e política do Brasil nos últimos anos e buscar pistas para entender a contradição por trás da dicotomia avanço/atraso, teve início na noite desta sexta-feira (30), na sede do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o 3º Seminário de Estudos Avançados.
Publicado 30/01/2015 23:23
A atividade, que é organizada pela Secretaria Nacional de Formação e Propaganda, através da Escola Nacional de Formação João Amazonas e da Fundação Maurício Grabois, foi aberta pela conferência “Significado e alcance da quarta vitória do povo brasileiro e os desafios do desenvolvimento”, conduzida pelo presidente Nacional do PCdoB, Renato Rabelo. O evento que reúne cerca de 90 quadros e lideranças do Partido, vindos de 20 estados brasileiros, tem como objetivo realizar um movimento de análise da realidade concreta para, assim, cimentar o entendimento dos desafios de um novo ciclo de desenvolvimento social.
Ao longo de mais de duas horas, Renato Rabelo apresentou um raio x da conjuntura nacional, indicando a importância do significado e alcance da quarta vitória do povo brasileiro, com a recondução da presidenta Dilma Rousseff à presidência, e os desafios da luta pelo projeto nacional de desenvolvimento.
Luta política
Renato Rabelo alertou para a acirrada disputa política em curso e destacou que para entender o governo é preciso levar em conta o contexto social, politico e econômico, ou seja, as condições objetivas, que atravessamos. “Temos que compreender as condições para, assim, entender a complexidade, a agudez dos desafios que estão postos”, salientou ele.
O presidente do PCdoB lembrou que um dos principais desafios para 2015 e a retomada do desenvolvimento, alinhado a um movimento que frei o avanço da desigualdade, a concentração da riqueza, endividamento publico e das famílias. E pontuou que, na atual conjuntura, somente a esfera financeira deita em berço esplêndido. “Ônus ficou para os trabalhadores e trabalhadoras, não só do Brasil, mas de todo o mundo, e para a maioria da economias nacionais”.
Ele lembra que o sistema mundial vive um impasse, chamado por alguns de “síndrome crônica de déficit de demanda”. Tais reflexos chegaram ao Brasil e sentimos como resultado desse impasse grande estagnação, queda dos preços das commodities, por exemplo. Esse cenário, indica Rabelo, quando associado às dificuldades estruturais internas, às oscilações climáticas, ao baixo crescimento, ao limite da meta, ao déficit em conta corrente, sem falar no avanço das forças de direita e o papel do consórcio oposicionista, determinam difíceis condições para o país avançar.
O líder comunista ressaltou que as eleições presidenciais evidenciaram uma aguda disputa política ideológica, que resultou em um cenário com distintas correlações de forças, tendo como resultado a estruturação de um Congresso ainda mais conservador. “Diante desse cenário, o governo tendeu para uma manobra que nos leva a uma flexão na orientação econômica e na formação do governo”, ponderou. E completou: “O quadro atual deixa claro que o momento é de reforço da unidade, pois nossa luta é contra a oposição conservadora”.
Retomada do crescimento
“A retomada do crescimento de forma progressiva e continuada é fundamental para o avanço nas mudanças”, reafirmou o presidente do PCdoB. Ele lembra que o Brasil possui um grande potencial para o seu crescimento, seja por ser um grande mercado, seja pela sua atratividade como território global para os investimentos [atualmente o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking de preferencia para investimentos estrangeiros].
Foto: Cezar Xavier
“A grande questão, hoje, é por onde alavancar esse crescimento. Um dos caminhos é a modernização do setor logístico do país, já fomentado pela presidenta Dilma”, afirmou Renato Rabelo, ao comentar que o governo Dilma tem como projeção investir nesse setor recursos da ordem de R$ 1 trilhão de reais.
Ao falar sobre o ajuste fiscal, Renato Rabelo alertou que é preciso parcimônia, pois esse debate exige uma reflexão ampla tanto no interior da sociedade civil como no Congresso Nacional. “O PCdoB defende um ajuste que garanta o estimulo à produção e consumo, aumento da capacidade do investimento público, que assegure as conquistas sociais e trabalhistas. Para tanto, um caminho justo é a tributação das grandes fortunas”.
Ele lembra que na proposta do governo o que está colocado é um ajuste gradativo, sem comprometer o emprego e a renda. “Avaliamos que uma linha contracionista é nociva para o próprio desenvolvimento da economia nacional nesse momento”, avisou Renato.
Contribuição do PCdoB
Na oportunidade, o presidente nacional do PCdoB citou a proposta enviada à presidenta Dilma que apresenta soluções para a retomada do crescimento do país. Ele ainda fez duras críticas para o que chamou de tripé nocivo da economia – superávit primário, taxa de juros e câmbio -, que da forma que está só desequilibra e prejudica o crescimento do país.
E destacou que “para se alcançar os objetivos estratégicos necessários para que o Brasil siga firme nas mudanças, é preciso delinear e executar um novo projeto nacional de desenvolvimento que dê conta das condições históricas atuais”.
Renato Rabelo ainda lembrou que os comunistas não devem perder de vista que, ao mesmo tempo em que travamos a luta para consolidar uma nova forma de governar, o mundo assiste a uma violenta reestruturação geral do pensamento neoliberal, que se intensifica com a crise sistêmica e estrutural do capitalismo.
Centralidade das forças sociais
Diante do exposto, Renato voltou a falar da centralidade de se reunir forças maiores para garantir o lastro de uma frente que possibilite ao Brasil seguir no caminho do desenvolvimento sem perder de vista os direitos sociais e dos trabalhadores. “Constatamos que a sociedade está ansiosa para garantir avanços, ela almeja, justamente, maiores conquistas. A condição para isso é a retomada do desenvolvimento”.
Todavia, o dirigente nacional alertou que há, efetivamente, uma convergência tácita para fragmentar os setores que lutam pelo avanço de um país justo e que valorize o trabalhador. Desse modo, afirmou ele, “a resposta à disputa de hegemonia política e cultural no sentido mais avançado não terá êxito com uma esquerda fragmentada e atomizada. Pelo contrário, só com a junção de forças, com a definição de uma plataforma comum e atual, é que teremos munição para uma ação ampla e robusta, que se converterá em uma reposta candente às exigências atuais, necessárias para o avanço transformador da atualidade”.
E completou: “Não devemos perder de vista a atualidade e vivacidade que possui o programa do Partido. Entender a sua aplicação aos desafios da atualidade, com foco na realização e execução do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND), com vistas a implantar uma transição ao socialismo, torna-se fundamental diante da atual conjuntura”.
Assim, orientou o líder comunista, urge a elaboração de um esboço da situação e papel do movimento de esquerda e comunista no Brasil e no mundo. “Precisamos olhar para caldo produzido no 13 º Congresso do Partido, para assim entender os impactos dos resultados das eleições de 2014”.
Por fim, ele ponderou que “vivemos em um período de grande dispersão e confusão, dessa forma, fortalecer a identidade do partido e o seu projeto é fundamental para garantir o enfrentamento às forças conservadoras. Nós devemos tomar nas mãos é o PCdoB hoje, ter ciência dos seus desafios, está preparado para essa nova realidade”.
Joanne Mota
Da Redação do Vermelho