Vitória eleitoral da esquerda na encruzilhada trágica do povo grego
Os resultados das eleições legislativas na Grécia, realizadas neste domingo (25), constituíram uma forte condenação do povo às políticas de direita do partido conservador Nova Democracia e da social-democracia tradicional, representada pelo Pasok. No governo, esses partidos levaram a efeito uma política antinacional e antipopular que conduziu a Grécia à ruína e o povo ao desespero.
Por José Reinaldo Carvalho*
Publicado 26/01/2015 12:01
Sob o tacão da União Europeia e dos organismos financeiros internacionais, especificamente o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, o país tem vivido a longa noite da austeridade, que se traduz em bancarrota econômica e catástrofe social, com a perda de direitos e sistemáticos ataques aos trabalhadores, desemprego em massa e penúria generalizada. As políticas de ajuste e arrocho impostas à Grécia traduziram-se também em alienação da soberania nacional e das riquezas do país.
Esses partidos e essas políticas foram fragorosamente derrotados – este é o principal aspecto a assinalar dos resultados eleitorais.
Saliente-se que as eleições gregas foram realizadas sob pesada chantagem da União Europeia e da mídia conservadora, associando a vitória da esquerda a uma catástrofe ainda maior.
Conhecidos os resultados, aumenta o volume da orquestração pedindo moderação e entendimento. A União Europeia tudo fará para neutralizar a ação do novo governo e impedir a ruptura com suas políticas. Não admite que se arrede um milímetro do sacrossanto memorando que contém as medidas lesivas à soberania nacional e aos direitos do povo Por isso, mesmo antes de constituído o novo governo, a União Europeia advertiu que há “acordos anteriores a cumprir”.
Syriza, a coalizão de esquerda vencedora, capitalizou o profundo descontentamento do povo.. Conquistou 36 por cento dos votos e elegeu 149 deputados, apenas dois a menos que o necessário para constituir a maioria absoluta. Durante a campanha eleitoral, seu líder Alexis Tsipras- que será nomeado primeiro-ministro – comprometeu-se com uma plataforma de mudanças, contrária às políticas impostas pelo capital financeiro e a União Europeia.
O Partido Comunista da Grécia alcançou 5,5% da votação, elegendo 15 deputados. Credencia-se a reforçar a resistência e a luta em defesa dos interesses dos trabalhadores e pelo poder popular.
A vitória eleitoral da "Coalizão da Esquerda Radical" abre uma nova etapa na luta do povo grego que sob os governos da Nova Democracia e do Pasok viu-se diante de uma encruzilhada trágica.
Há momentos na história dos povos e das nações em que as meias medidas, as ambiguidades, as cedências conduzem a mais destruição e fracasso. Nitidez, verticalidade e frontalidade é do que o povo grego necessitará para enfrentar os obstáculos e as condicionalidades que a União Europeia, o sistema imperialista e os organismos econômicos e financeiros internacionais interporão na nova etapa que se abre. Tais obstáculos e condicionalidades vão além dos fatores econômicos. A Grécia é peça importante nos planos estratégicos dos imperialismos estadunidense e europeu e uma base militar do principal instrumento agressivo desses imperialismos – a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Praticar uma política externa em antagonismo a essas forças, contribuir na luta contra o militarismo, o intervencionismo e por uma Europa de paz é um desafio estratégico para as forças progressistas, da mesma magnitude que a ruptura com as políticas econômico-financeiras neoliberais e conservadoras.
Superar a encruzilhada trágica, enfrentar os novos desafios são missões em que o povo grego contará com a solidariedade dos trabalhadores, dos povos e das forças progressistas, entre estas os comunistas, de todo o mundo.
*José Reinaldo é editor do Vermelho