O Globo: O perito não colaborou

 A história é assim: o jornal O Globo, bem como a monolítica mídia hegemônica, está apoiando por debaixo dos panos a candidatura do deputado federal Eduardo Cunha, o probo, para a presidência da Câmara. O probo gravou o que seria uma “armação” contra ele e a divulgou insinuando claramente que o governo estaria por trás da manobra visando prejudicá-lo na disputa.

O que faz o jornal O Globo? Pega a gravação e entrega para o controvertido perito Ricardo Molina analisar o áudio. Os editores do jornal já tinham até reservado espaço na capa para a manchete que sairia na edição de 22/1 alardeando a legitimidade do áudio apresentado por Cunha. Mas…

O Globo: O perito não colaborou – II

Molina é aquele que apareceu no Jornal Nacional em 2010 tentando provar que a bolinha de papel que atingiu a careca de José Serra era uma pedra. Talvez escaldado do ridículo que passou, Molina desta vez não colaborou com as expectativas globais e deu um laudo constrangedor para quem o contratou: “No caso em tela podemos afirmar, com bastante segurança, que não se trata de uma conversação espontânea, e por vários motivos (e seguem-se os motivos técnicos)”. A conclusão é enfática: “Muito provavelmente os dois interlocutores estão seguindo um script previamente elaborado, não necessariamente lido durante a interação, mas visivelmente planejado (…) A gravação não pode ser considerada autêntica, no sentido em que retrata apenas uma encenação”.

O Globo: O perito não colaborou – III

O laudo é devastador para Cunha que havia garantido ter gravado uma tentativa de chantagem enquanto o perito contratado por O Globo afirma que tudo não passou de encenação. O que estava sendo destinado à manchete foi colocado na página 7, edição 22/1, e O Globo providenciou rapidamente outro perito para afirmar que a gravação “não parece nada teatral”. Agora que o laudo da Globo falhou, vamos esperar pelo laudo da PF, que investiga o assunto.

A mídia não é esquizofrênica

Ao mesmo tempo em que os comentaristas econômicos da mídia hegemônica elogiam as medidas ortodoxas do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o tom de terceiro turno continua, com matérias, entrevistas e colunas de opinião em profusão atacando o governo e acusando Dilma de estelionato eleitoral. Por que atacam o governo se aplaudem as medidas de “austeridade” da nova equipe econômica? Não é esquizofrenia, é luta política. Ao mesmo tempo em que buscam influir nos rumos da macroeconomia, fazem o possível para fragilizar um governo que não é o deles. Cabe à esquerda e ao movimento popular ter a sabedoria de não deixar de disputar os rumos do que deve ser corrigido ao mesmo tempo em que se recusa a fazer o jogo da direita.

Continua o terceiro turno na mídia

Aliás, o empenho da mídia no terceiro turno continua evidente para quem lê os jornalões. A edição de 22/1 do jornal O Estado de São Paulo deixa clara a intenção do PIG em continuar a disputa. As principais manchetes são todas negativas ao governo: Após apagão, país importa energia da Argentina, Brasil prejudica desempenho da AL, Dirceu articula nova ala política no PT, Ministro do STF vê indícios contra políticos. Para quem acha que a disputa de outubro de 2104 foi renhida, prepare-se para 2015.

A mídia e a vitória cubana

Cuba resistiu e resiste durante quase 53 anos ao criminoso bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos EUA, bloqueio este condenado em peso pela comunidade internacional e que só agora o governo americano dá os primeiros passos para levantar, o que é uma grande vitória do povo cubano e do governo socialista da ilha. Mas para a colunista de O Globo, que assina a coluna Gente Boa, edição 22/1, Cuba “começa a viver os primeiros passos de uma abertura política” e implicitamente liga isto a uma exposição de Portinari que pela primeira vez irá a Cuba. A colunista conhece pouco da realidade cubana, um país que sempre viveu em grande efervescência cultural, principalmente depois da revolução. E talvez conheça pouco também de Portinari, que como é do conhecimento público, era comunista.

O silêncio da mídia sobre a crise da Vale do Rio Doce

É gritante a diferença do tom da mídia hegemônica em relação aos problemas na Petrobras e na privatizada Vale do Rio Doce. Em relação à Petrobras tudo é negativo e quando boas notícias surgem (elas existem) são na prática escondidas. Com a Vale é o oposto. Nas recentes quedas da Bolsa de Valores, na maioria das vezes é a Vale que puxa as quedas, mas só se fala da Petrobras. Desde 2012 quando viu seu lucro líquido despencar em 74,3%, a Vale vem colecionando más notícias. Em 2014 a mineradora enfrentou mais uma forte queda no faturamento e viu sua exportação anual de minérios cair em 22,7% (no mesmo período a Petrobras teve uma queda na exportação de menos de 6%). O silêncio é sepulcral. Contudo, O Estado de S. Paulo de 22/1 cita algumas das más notícias sobre a Vale, mas vejam a manchete da matéria: “Vale mantém o posto de maior exportadora”.

Parem as máquinas!

Temos certeza de que você não poderia viver sem saber desta notícia: a cantora Simone tem participado todas as noites da missa na Igreja de São Conrado, Rio de Janeiro. A trepidante notícia está na coluna Gente Boa, publicada por O Globo de 22/1.


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