Atentados terroristas em Paris: desequilíbrio na cobertura midiática
O atroz ataque contra o semanário satírico francês Charlie Hebdo, que provocou 12 mortes e mais de uma dezena de feridos, comoveu a opinião pública mundial, mas evidenciou um tratamento assimétrico ao tema do terrorismo internacional.
Publicado 13/01/2015 16:23
Esta ação repudiável evidenciou que existe um desequilíbrio em relação às reações e ao que se publica sobre fatos terroristas tão atrozes como esse e inclusive de maior magnitude em outras regiões do mundo, como é o caso dos assassinatos coletivos do grupo extremista Boko Haram, para somente citar um exemplo.
Essa organização provocou nos dias recentes centenas de mortos na Nigéria, onde o número de vítimas fatais, segundo as Nações Unidas, pode ser elevado a mais de duas mil. Mas neste caso as declarações de condenação têm sido tímidas.
No entanto, a marcha multitudinária em Paris, neste domingo (11), contra o terrorismo, contou com a participação de mais de um milhão de pessoas, lideradas pelo presidente Francois Hollande, e indignadas pelos assassinatos.
Entre os presidentes estrangeiros que participaram da marcha esteve o primeiro-ministro israelense, Benjamín Netanyahu, responsável por vários massacres qualificados de terrorismo de Estado, o mais recente em 2014, no qual morreram cerca de 2 mil e 200 civis palestinos.
Os ataques extremistas em Paris, qualificados por alguns como um novo 11 de setembro, levantaram o alerta em Washington e em seus principais aliados, cujas figuras políticas aproveitaram o fato para destacar a necessidade de dedicar mais recursos à luta contra este flagelo.
No caso dos Estados Unidos, setores conservadores tomam os referidos atentados como bandeira para defender no Congresso contra as legislações que tentam deter as escandalosas atividades de espionagem doméstica da Agência de Segurança Nacional (NSA).
Além disso, meios de imprensa no país do norte repetem opiniões de alguns políticos que chamam inclusive a reiniciar uma luta global contra o terrorismo, ao estilo da qual começou em 2001 o então presidente George W. Bush.
Neste contexto, porta-vozes de setores conservadores aproveitaram a conjuntura para dizer que os fatos em Paris mostram a necessidade de manter aberta a prisão estadunidense na base naval de Guantánamo.
Em janeiro de 2002, a Casa Branca abriu um centro de internação para estrangeiros acusados de terroristas, nessa instalação militar que Washington mantém em território cubano contra a vontade do povo e do governo da ilha.
Ao se somar a esta campanha, a senadora republicana Kelly Ayotte e outros de seus colegas se manifestaram contra o propósito do presidente Barack Obama de fechar a penitenciária, uma promessa que não pôde cumprir devido à oposição do partido vermelho e de outros setores da extrema-direita.
Os ataques terroristas também parecem ter impacto político na atual luta dos republicanos no Congresso estadunidense para deixar sem fundos as iniciativas de Obama sobre imigração.
Porta-vozes dos democratas advertiram do perigo que significam as intenções dos republicanos de bloquear o financiamento para uma parte do Departamento de Segurança Interior para neutralizar as iniciativas migratórias do chefe da Casa Branca.
De todas as formas, os repudiáveis atentados em Paris marcam uma virada nas prioridades dos Estados Unidos e seus aliados na luta contra o extremismo islâmico e lhes dá "oportunos" elementos para convencer a opinião pública de que qualquer esforço é pouco nesta contenda, inclusive possíveis ações de terrorismo de Estado.
Mas sobretudo, os ataques já são uma ocasião favorável para que os serviços de espionagem aumentem o controle sobre seus respectivos cidadãos, sob o pretexto da defesa dos valores ocidentais e, sobretudo, para vigiar mais de perto sua liberdade de expressão.
Fonte: Prensa Latina