Fukushima espera acolher Jogos Olímpicos
A cidade japonesa de Fukushima, capital de uma prefeitura, prejudicada fortemente em resultado de terremotos, tsunami e avaria na usina atômica em 2011, decidiu acolher uma parte dos Jogos Olímpicos do verão que irão decorrer em Tóquio em 2020.
Por Liudmila Saakyan, na Voz da Rússia
Publicado 22/12/2014 11:23
O governador de Tóquio, Masao Uchibori, já efetuou negociações em Tóquio, apresentando a ideia. Nas palavras do governador, as estruturas esportivas da cidade são apropriadas para realizar uma etapa de qualificação das competições olímpicas. Conforme afirmam as autoridades municipais, na cidade podem ser realizados, por exemplo, alguns encontros do torneio de grupo de futebol. Ao mesmo tempo, os responsáveis de Fukushima têm certeza da segurança dos atletas apesar da proximidade da central atômica avariada. A usina Fukushima 1 encontra-se aproximadamente a 60 quilômetros da cidade.
A realização de provas de qualificação fora da capital da Olimpíada é uma das propostas do COI que faz parte de sua nova estratégia Agenda 2020. Inicialmente, o caráter compacto foi anunciado como uma das principais vantagens do pedido de Tóquio de acolher os Jogos: todas as estruturas esportivas serão afastadas a não mais de 8 km da Vila Olímpica, encontrando-se numa ilha artificial no golfo de Tóquio. Contudo, os organizadores dos Jogos Olímpicos de 2020 estão analisando agora a possibilidade de efetuar algumas provas em outras cidades do Japão: em Osaka e em Hiroxima.
Será real realizar dentro de 5 anos algumas provas em Fukushima? Será seguro organizar torneios internacionais numa prefeitura cuja parte considerável está poluída com radionuclídeos e os incidentes na usina avariada surgem com uma frequência assustadora? Vamos perguntar especialistas.
Alla Sipyagina, doutora em Medicina que trabalha no Centro de Proteção contra Radiação da Rússia, desaprova essa ideia: “Não recomendaria que as provas fossem realizadas naquela cidade, especialmente, as provas dos Jogos Olímpicos. Para dizer sim ou não, é necessário dispor de dados exatos sobre o nível de poluição radiativa. Se há territórios “limpos” lá, pode ser que isso não seja muito arriscado. Ao mesmo tempo, não pode haver zonas absolutamente “limpas” adjacentes aos territórios poluídos. Será que o Japão não tem outros locais para os Jogos Olímpicos? Como entendo, eles pretendem demostrar que tudo está perfeito em seu país. Mas é necessário pensar em primeiro lugar nas pessoas…”
Alexander Uvarov, dirigente do centro noticioso russo Atominfo, reage mais tranquilamente à ideia de efetuar algumas provas olímpicas em Fukushima, embora não esteja entusiasmado com essa proposta: “Evidentemente, trata-se de um passo propagandístico, de uma tentativa de demonstrar que tudo corre bem na nossa terra. Em princípio, é possível encontrar um lugar limpo na prefeitura que é bastante grande. A população até não foi evacuada de alguns distritos. E se nestas regiões vivem pessoas que não atingiram dose anual de radiação, significa que a vida lá é possível em geral.
Segundo, se forem organizados um ou alguns encontros esportivos e pessoas passarem um ou até meio-dia, não haverá perigo para a saúde. Não haverá consequências nocivas tanto para atletas como espectadores, cuja dose de radiação não será maior que em outras prefeituras do Japão ou mesmo em seus países.
Mas a carga psicológica será inevitável. As pessoas que não conhecem nada sobre a radiação à exceção do fato de Fukushima ter sido prejudicada em resultado de um acidente na usina atômica, irão sentir com certeza um desconforto. Há casos quando doenças psicossomáticas aparecem simplesmente quando uma pessoa se convence do perigo. Resumindo, podemos dizer que um perigo real não ameaça as pessoas, mas não recomendaria realizar essa ideia…”
Ao que tudo indica, a fama “radiativa” continuará a acompanhar Fukushima ainda durante muito tempo, tal como Tchernobyl. Não é por acaso que esses dois nomes se transformaram num símbolo de desgraça radiativa. Ao mesmo tempo, os mitos sobre o perigo tornam-se frequentemente mais resistentes do que os próprios elementos radiativos na atmosfera e no solo. O tempo irá mostrar se o COI vai aceitar essa ideia.
Fonte: Voz da Rússia