Fagner Sena: Unidade estratégica e não conjuntural

Em março de 2014, portanto bem antes das eleições, defendi a reaproximação do PT e do PCdoB na cidade de Contagem. Passado o processo eleitoral, o tema merece ser retomado, com antigos e novos argumentos, tendo em vista os últimos acontecimentos (o convite do Prefeito Carlin Moura para que o Partido dos Trabalhadores integre o primeiro escalão do governo municipal).

Por Fagner Sena*

Antigos argumentos porque invoco aqui todos os utilizados no texto escrito em março, são eles: “Uma reaproximação da militância do PT e PCdoB em Contagem deve seguir o rito dos que acreditam na política como arte e como instrumento de diminuir as diferenças para a construção de uma sociedade melhor. Deve seguir os caminhos de quem acredita nos partidos para disputar eleição e para organizar o povo em torno de ideias avançadas. De que quem coloca os interesses da nação e da cidade de Contagem acima dos interesses de frações, pessoas ou grupos. É uma reaproximação para construir a quarta vitória do povo nas eleições de outubro, reelegendo Dilma; é uma reaproximação na organização dos movimentos sociais e comunitários para lutar por melhorias na cidade de Contagem”.

As novas reflexões e argumentos são decorrentes do resultado das eleições de outubro e da atual conjuntura política pós-eleitoral. Foi um acontecimento histórico de grandes proporções a reeleição da presidenta Dilma que enfrentou, além das forças conservadoras nacionais representada em seus partidos e lideranças, um consórcio midiático e financeiro interno e externo, numa aliança jamais vista e que fez de tudo para interromper o ciclo de mudanças iniciado por Lula em 2003. Sem contar com a imponderável reviravolta que quase alterou o quadro politico do País. Entretanto, passado o processo eleitoral esse mesmo consorcio conservador tenta de tudo para impor a política e econômica rejeitada pela maioria da Nação. Tentam, a todo custo, deslegitimar a presidenta reeleita e os milhões de brasileiros que escolheram aprofundar as mudanças.

Outros três fatores são importantes para a compreensão da realidade atual sobre a qual as forças progressistas atuam: o primeiro é que, apesar da vitória da presidenta Dilma, essa foi a eleição que, mesmo derrotada, a oposição saiu com maior força; segundo é que, apesar da maioria eleita pelos partidos da base governista, o Congresso Nacional é o mais conservador desde a redemocratização. Soma-se a isso a diminuição das bancadas dos partidos de esquerda: PT, PCdoB e PDT. Por último, a situação da economia mundial com o prolongamento da crise que afeta o ritmo do crescimento da economia brasileira. Nesse contexto a oposição, utilizando do mesmo discurso moralista e de combate á corrupção de sempre, tenta colocar a presidenta Dilma e a esquerda na defensiva. Na prática procuram criar a todo tempo um clima de instabilidade política, econômica e social.

Por outro lado, Dilma foi reeleita principalmente porque assumiu compromissos mais arrojados de aprofundar as mudanças no país. Só para lembrar alguns deles: 1) Reforma Política e Regulação Econômica dos meios de comunicação; 2) manter a geração de emprego e os salários; 3) defender a economia nacional, fortalecendo os bancos públicos e contra a autonomia do Banco Central; 4) mais investimentos na saúde com a criação de novos programas como o Mais Especialidades; 5) mais investimentos em infraestrutura; 6) Ampliar o Programa Minha Casa, Minha Vida. Esses são alguns dos compromissos da Presidenta Dilma. No entanto, existe a pauta das forças de esquerda e dos movimentos sociais que estão para além desses compromissos e sobre a qual devemos conduzir a disputa na sociedade.

Em síntese, vivemos um momento delicado no Brasil: reelegemos a presidenta Dilma que assumiu compromissos de aprofundar as mudanças; a situação política e econômica delicada; a oposição de direita, amparada em segmentos da mídia, no sistema financeiro e em algumas instituições do estado, está mais raivosa como nunca.

Neste momento, não existe outra pauta, outro assunto para esquerda e seus aliados: unidade! A esquerda consequente precisa compreender em profundidade este momento e fazer o que tem que ser feito. Primeiro, a defesa incondicional da democracia e das nossas instituições. Segundo, sustentar em todos os espaços da vida politica, econômica e social a presidenta Dilma para que faça o que a maioria da nação a elegeu para fazer. Terceiro, ganhar a sociedade para uma agenda de reformas, especialmente a Reforma Política e a Reforma Urbana. E, por último, a defesa da economia nacional com a manutenção e ampliação dos investimentos, dos empregos e dos salários.

Contagem, polo industrial dinâmico, cidade operária de importância politica e econômica não é e nunca será uma ilha. Precisamos dar o exemplo a Minas e ao Brasil. Por isso, a reaproximação entre PT e PCdoB em Contagem não pode ser vista como mero arranjo eleitoral e de ocupação de espaço na máquina pública. Portanto, o convite feito pelo Prefeito Carlin Moura ao PT precisa ser compreendido nesse contexto mais geral e deve se estender a todos os aspectos da vida política, econômica, social e cultural da Cidade. Unidade para fazer de Contagem uma cidade melhor, mas também para travar o debate sobre os rumos do Brasil.

Por fim, precisamos fazer como o velho Noé que, na passagem bíblica, pegou sua família e cada espécie de animal e ser vivente para juntos atravessarem as águas revoltosas do dilúvio em uma Arca rumo a terra firme. Ou como os chineses que, em 1937, uniram a nação para se defender contra o Japão. Ou como na segunda grande guerra mundial que fez americanos e soviéticos se unirem contra o nazismo.

A diferença é que a unidade entre PT e PCdoB não pode ser uma unidade conjuntural, precisa ser uma unidade estratégica dos dois principais partidos de esquerda que já compartilham uma visão sobre o Brasil que temos e o que queremos!

* Fagner Sena é secretário de Organização do PCdoB-Contagem