Intervenção estrangeira fracassou em Hong Kong
Cerca de 80% dos inquiridos num estudo de opinião promovido pelo Programa de Opinião Pública da Universidade de Hong Kong pronunciaram-se pelo fim do movimento de protesto intitulado “Occupy Central” e que os principais meios de comunicação ocidentais definiram como “uma insurreição popular”.
Por Alexandre Park, para o Jornalistas sem Fronteiras
Publicado 10/12/2014 09:17
“Uma insurreição popular em que os participantes nunca chegaram a representar 1% da população do território tinha de acabar no desprestígio em que acabou esta encomenda estrangeira para tentar desestabilizar a China”, comenta Albert Gao, professor de História da Universidade de Hong Kong.
“A instituição que divulga agora os resultados de um inquérito de opinião elaborado de acordo com os preceitos técnicos corretos é a mesma que começou por invocar uma consulta favorável aos protestos e que, sabemos hoje, foi financiada por dinheiro sujo vindo de fora”, acrescenta o professor.
Numerosos analistas que se pronunciaram sobre os acontecimentos registados em Hong Kong durante as últimas semanas, até o desfecho inglório, salientam que a influência estrangeira, os intuitos meramente desestabilizadores, sem conteúdo programático, e até o carácter elitista dos rostos mais visíveis revelaram “o cariz artificial” do movimento logo desde o início.
“Gastaram-se energias de contestação e desvalorizou-se a importância da mobilização popular com objetivos vagos e oportunistas, hipotecando-se, agora por muito tempo, a possibilidade de lutar por melhores estradas, mais emprego e outras reivindicações para melhorar as condições de vida da maioria da população”, segundo Louisa Feng, ativista de uma organização de cidadania.
“Apresentar o colonialismo britânico como exemplo de ‘pró-democracia’ como alternativa ao atual estatuto do território é mais do que um erro crasso, é um insulto à maioria da população, é a denúncia de que se tratou de uma simples manobra de propaganda criada para ter mais consumo externo do que interno”, afirma Andrew Gao, um funcionário bancário.
A identificação dos principais dirigentes do movimento Occupy Central com organizações financiadas pelo Departamento de Estado norte-americano e os relatos sobre as suas frequentes deslocações aos Estados Unidos para preparem as ações durante reuniões realizadas em departamentos governamentais de Washington desmascararam os objetivos que estavam por trás das manifestações.
“Depois de vermos o que circunstâncias destas provocaram em países do Oriente Médio, e sobretudo na Ucrânia, só se fôssemos suicidas acharíamos que as manifestações tinham a ver com direitos humanos, liberdade ou democracia”, afirma Katie Wei, estudante de engenharia.
“Ter um chefe das manifestações, Joshua Wong, como possível ‘homem do ano’ da revista Time não foi para nós uma recomendação, foi um alerta tão forte como ver bandeiras imperiais britânicas e o retrato da rainha de Inglaterra nas manifestações”, acrescentou.