Cláudio Ferreira Lima: Retrato do Brasil em perspectiva

Por *Cláudio Ferreira Lima

As eleições deste ano no Brasil colocaram em evidência um dos embates que vigora no país e no mundo. E, com isso, clarearam o presente, ajudando a projetar o futuro.

Como vimos, parte da imprensa internacional, inclusive agências de notícias, além de bancos, bolsas de valores e agências de rating, uniram-se à nossa grande imprensa para destilar o ódio, o medo e a insegurança que inundaram as redes sociais. Sem esquecer o proselitismo de economistas neoliberais com seus livros sobre “governo grátis”, “economia que não cresce” e “país que vai se acabar”.

Para Boaventura Santos, em “Brasil, a grande divisão” (Ver: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Brasil-A-Grande-Divisao/32167), mais do que o pré-sal, a Petrobras e a voracidade do capital financeiro, estaria em jogo uma nova guerra fria. De um lado, o capitalismo neoliberal global e, do outro, a social-democracia, que tem prosperado no Brasil e em outros países latino-americanos.

Com a potência hegemônica ocupada no Oriente Médio e em outras campanhas, o Brasil, sob a égide da Constituição de 1988 (e, em especial, a partir do primeiro governo Lula), subtraindo recursos da pura acumulação capitalista, adotou políticas sociais para atender mais fortemente às demandas das camadas marginalizadas, localizadas, em boa medida, no Nordeste.

Tais políticas foram de encontro aos interesses do capital, sobretudo o financeiro, sediado majoritariamente em São Paulo. E, da mesma forma, o tratamento dado aos pobres e às regiões mais atrasadas desagradou fração importante, respectivamente, da classe média tradicional e da população do Sul/Sudeste.

Daí, a força da oposição, que, tendo perdido as eleições, continuou o combate, obrigando a presidente reeleita, para garantir a governabilidade, a entregar o coração da economia a uma equipe da confiança do mercado.

Mas nem por isso as pressões arrefeceram: a grande mídia, com sua tropa de choque, prosseguiu repisando a agenda negativa e alimentando as redes sociais, os movimentos de rua e outras ações contra o governo.

Por que não seguir o rumo tomado? Qual o mal em combater as discriminações, oferecer oportunidades para todos e expandir o mercado interno, incluindo milhões de pessoas, reduzindo as desigualdades sociais e fazendo do Nordeste uma das principais fronteiras econômicas do país? Qual o mal em buscar a integração mundial que, como a aliança dos Brics, dê mais autonomia ao país?

Mas o governo deve promover ajustes de política econômica e social, e a instância competente persistir no combate à corrupção, punindo corruptos e corruptores, sem que isso sirva apenas de biombo para mascarar as questões de fundo.

Cabe-nos fomentar a consciência crítica e cidadã, a fim de que a população se previna contra as manipulações que visam dividi-la para enfraquecer os laços nacionais. Mais que nunca, temos de continuar atentos, juntos e coesos no caminho do novo Brasil, apagando as heranças do colonialismo e da casa grande & senzala que tanto têm impedido o nosso desenvolvimento.


*Cláudio Ferreira Lima é economista

Fonte: O Povo


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