Tatiana Tabunova: Porochenko exclui Donbass da Ucrânia
O presidente ucraniano Piotr Porochenko recusou a ideia de federalização do país. Discursando na quinta-feira (27) na primeira sessão da nova legislatura da Suprema Rada (parlamento), Porochenko citou o desejo de todos os ucranianos, sem exceção, de verem a Ucrânia como um Estado unitário.
Por Tatiana Tabunova*
Publicado 28/11/2014 19:52

Piotr Porochenko repudiou publicamente o Donbass. Na presença de todos os deputados e debaixo das objetivas de dezenas de câmeras da mídia local e estrangeira, ele declarou que 100% da população da Ucrânia apoiam uma conceção unitário do Estado. Dessa forma, os quase 7 milhões de habitantes que residem nos distritos de Donetsk e de Lugansk, e que recentemente votaram pela criação de repúblicas independentes, foram simplesmente excluídos da Ucrânia por Piotr Porochenko. Ele destrói com suas próprias mãos um Estado unido, considera o analista político Pavel Danilin:
“Ao recusar a federalização da Ucrânia e, paralelamente, aprovar medidas restritivas, punitivas e militares contra o Donbass, Porochenko está de fato sublinhando que não considera o Donbass como fazendo parte da Ucrânia. Ou seja, Kiev já há muito que se conformou que o Donbass não é parte da Ucrânia. Esta administração faz tudo para destruir o país, para que a oeste da Rússia se crie um buraco negro que contenha tanto a Ucrânia, como a União Europeia.”
No mundo existem muitos países com sistema federativo. A Rússia, os EUA, a Alemanha, a Índia, o Brasil, o México, a Suíça e a Áustria são federações no seio das quais convivem perfeitamente os diferentes sujeitos com base no reconhecimento e no respeito pelos seus direitos por parte do poder central. Mas esse cenário não serve ao poder de Kiev, refere o cientista político Serguei Markov:
“Na Ucrânia neste momento há um governo terrorista que não se quer conformar com a existência de direitos iguais para pessoas diferentes. Como na Ucrânia se prevê instalar um cenário ultranacionalista, ao Donbass não é proposto que faça parte da Ucrânia com sua língua russa, com direitos iguais e por via pacífica, mas existe a intenção de Kiev em subjugar o Donbass.”
Como não se conseguiu encerrar o assunto por via militar, Kiev decidiu recorrer à via econômica. Por decreto do presidente da Ucrânia, no Donbass foram cancelados os pagamentos das pensões e prestações sociais aos idosos e deficientes. Foram congeladas contas bancárias de pessoas jurídicas e físicas. Foi suspenso o funcionamento das empresas de energia. A região não é abastecida de produtos alimentares, nem de medicamentos. A ameaça de uma catástrofe humanitária apenas estimula as autoridades de Kiev a reforçar o bloqueio, diz o analista político Mikhail Remizov:
“Neste momento em Kiev reina uma relação dúbia quanto ao problema do Donbass. Por um lado, eles estão satisfeitos por o Donbass não participar nas eleições. Isso determinou, inclusive, a composição da atual Suprema Rada. Por outro lado, o tema da revanche não desapareceu da política ucraniana. Kiev está orientada para solução de força na questão do leste do país. O bloqueio é visto como um elemento dessa solução de força. A classe política ucraniana espera que o Donbass não consiga resolver seus problemas econômicos, administrativos e organizativos que irão surgir devido a esse bloqueio.”
Mas os métodos escolhidos por Kiev apenas favorecem as jovens repúblicas autoproclamadas e independentes de Donetsk e de Lugansk. As autoridades ucranianas separam elas próprias o Donbass da Ucrânia cortando todos os laços. Com o tempo as dificuldades serão superadas e a vida voltará à normalidade. Mas os habitantes do Donbass, sejam quais forem suas opiniões políticas de ontem, nunca conseguirão perdoar e voltar a acreditar em Kiev depois de este os ter deliberadamente condenado ao sofrimento.
*Articulista da emissora pública de rádio Voz da Rússia