Cid propõe frente de esquerda em apoio a Dilma e a reforma política
Em entrevista à revista CartaCapital, o governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), defendeu a criação de uma frente de esquerda para trabalhar pela estabilidade e avanço nas conquistas do governo Dilma Rousseff e fazer um contraponto ao fisiologismo e aos conservadores no Parlamento. “É melhor ter uma base mais enxuta, porém mais confiável”, enfatizou ele.
Publicado 24/11/2014 11:29
Segundo Cid Gomes, o objetivo é garantir uma base aliada coesa e forte, abrindo campo para uma reforma política, que na sua avaliação é “uma unanimidade” na sociedade. “O Executivo precisa de uma nova forma de se relacionar com o Parlamento ou, pelo menos, deve tentar melhorá-la, torná-la mais ética e transparente. A Operação Lava Jato ajuda nesse sentido, pois fragiliza o núcleo central desse modelo de governança instituído em meados do governo Lula. Dilma tentou mudá-lo, mas teve que se render no principal”, pontua.
Quando questionado sobre quais setores integrariam essa base, Gomes afirma: “Aqueles que têm uma linha ideológica de centro-esquerda e que estejam insatisfeitos no seu partido, além das legendas dispostas a se alinhar integralmente. Não precisamos, necessariamente, de um partido novo. É um processo. Primeiro, cria-se um bloco. Depois, uma frente. Na medida em que as desconfianças são superadas, podemos pensar em outras formas de organização”.
Guinada à direita do PSB
Falando sobre o campo de esquerda, Gomes comentou sobre a guinada à direita por parte da direção do PSB na eleição que, segundo ele, se rendeu à uma parcela que se aproximou do campo mais conservador. “A expressão maior disso é a seção paulista do PSB. Talvez, hoje, Pernambuco tenha até mais notoriedade. No passado, a seção paulista era a que tinha mais deputados. Embora você tivesse ali uma Erundina, ela sempre foi minoritária. Hoje, Márcio França é vice do governador Geraldo Alckmin, do PSDB. O aliado tradicional do PSB sempre foi o PT, mas houve uma série de rompimentos. O partido também se dividiu após apoiar Aécio Neves no segundo turno. O atual comando do PSB está claramente à direita, mais conservador, mas você tem a seção do Amapá que ficou com a Dilma, assim como as seções da Paraíba e da Bahia. Imagino que há outras com a mesma linha”, avaliou.
Gomes também falou sobre economia. Segundo ele, muitos dos investimentos previstos para os dois últimos anos foram adiados por questões ideológicas e até certa antipatia por parte de setores do empresariado brasileiro. “Boa parte dos patronos das indústrias do Brasil tem reservas em relação ao governo, que ao meu juízo é justa em alguns casos, mas uma parte é injusta. Eles adiaram esses investimentos para ver o que aconteceria nas eleições”, disse.
Ele afirma que o Brasil vinha em uma linha de crescimento, produzindo mais e gerando mais emprego e renda. “A interrupção dos investimentos comprometeu o ciclo. Mesmo assim, o Brasil conseguiu manter um nível de geração de emprego acima do crescimento do PIB. Então, para as pessoas comuns, pouco importa se temos um 'Pibinho' ou 'Pibão'. Vale mais ter emprego e um salário melhor”, enfatizou.
Valorização do salário mínimo
Gomes ressaltou que a política de valorização do salário mínimo teve forte impacto no crescimento econômico do Nordeste. “Ainda somos uma região que concentra o maior número de pobres e miseráveis. Mas, nos últimos 12 anos, houve uma política de valorização do salário mínimo, com impacto direto na renda do trabalhador e nos benefícios previdenciários, sobretudo a aposentadoria rural, que tem um impacto muito forte na economia local. No Nordeste, o percentual de trabalhadores que têm a remuneração vinculada ao salário mínimo é maior do que a média nacional. E tivemos os programas de distribuição de renda”, asseverou.
Sobre os desafios do governo Dilma, Cid Gomes destaca a saúde, educação e o saneamento. “A saúde precisa de mais recursos, de uma melhor gestão. Tivemos uma ampliação do acesso ao em ensino superior no Brasil sem precedentes na nossa história, mas os indicadores de qualidade da educação ainda são muito ruins. Saneamento é um grande desafio. Mas, de certa forma, tudo depende do ambiente político e econômico. Vamos tirar dinheiro de onde? O Brasil precisa voltar a crescer, não tem escolha”, destacou ele.
Fonte: CartaCapital