Andrei Fedyachin: Ucrânia volta a sonhar com a Otan
Kiev voltou a sonhar com o ingresso na Otan. O premiê, Arseni Iátseniuk, procura fazer passar pelo novo parlamento emendas constitucionais que visam alterar o estatuto ucraniano de não-alinhamento. Esse será o primeiro passo a ser dado rumo à filiação na Aliança Atlântica.
Por Andrei Fedyachin*, na Voz da Rússia
Publicado 20/11/2014 17:48

No caso de eventual mudança de estatuto, se colocará a questão da concessão de garantias de não ingresso da Ucrânia na Otan, anunciou, esta quinta-feira em Moscou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Alexander Lukachevitch. É óbvio que tais garantias serão indispensáveis para a Rússia, já que, no caso de admissão, ela terá de proceder à revisão de sua política militar.
Seja como for, a questão da filiação deve ser resolvida pelos ucranianos e não pelo chefe de governo, disse o dirigente da filial ucraniana do Instituto da CEI, Denis Denisov:
“Arseni Iátseniuk faz declarações precipitadas. Não lhe compete definir os futuros passos da Ucrânia – se estes serão dados rumo à Otan ou em qualquer outra direcção, se irá a Ucrânia mudar o seu actual estatuto neutro ou não. Para tal será necessário realizar uma consulta popular”.
No parecer do primeiro vice-presidente da Duma de Estado, Oleg Morozov, a incorporação de Kiev na Otan parece muito problemática:
“Nem a Ucrânia, nem a Aliança Atlântica, estão prontas para a integração da Ucrânia na Otan. Para aderir à Aliança será necessário cumprir uma série de exigências. Umas delas é a ausência de conflitos com os países vizinhos. Esse é um condicionalismo importante que hoje impossibilita a adesão da Ucrânia a esse bloco político-militar.
Mais um requisito a preencher se refere aos padrões vigentes ao abrigo da Otan. Ora, se trata de um programa de longo prazo. Em termos econômicos, a Ucrânia não está pronta para efetuar programas de rearmamento em plena consonância com as normas da Otan por possuir a dívida externa no valor de US$ 138 bilhões, quase igual à da URSS em 1991”.
Segundo declarou há dias a chanceler alemã, Angela Merkel, a questão do ingresso não foi examinada. Entrevistada pelo canal televisivo ARD, assinalou ser possível “uma colaboração bilateral, embora a questão da entrada nem tenha sido incluída na agenda”.
Na primeira fase, Kiev terá que introduzir alterações à Constituição e revogar o seu estatuto de neutralidade, sustenta Serguei Ermakov, analista do Instituto de Pesquisas Estratégicas:
“Para que servem estas mudanças? A nova direcção ucraniana não se sente capaz de acabar com a difícil situação na política externa. E quase não tem forças para resolver os problemas econômicos realmente graves. Daí, uma tentativa de inverter e recanalizar o descontentamento popular para a esfera de política externa. Por outras palavras, apresentar a Rússia como um inimigo do qual será preciso fugir para a Otan”.
De acordo com o periódico alemão Die Welt, a Otan encara a hipótese de realizar, no próximo ano, manobras militares sem precedentes perto da fronteira russa. Seus prazos e qual o país a acolher os participantes ainda não foram definidos. Segundo fontes do comando da Otan, as manobras irão abranger um contingente de 25-40 mil soldados e oficiais de vários Estados-membros.
Até hoje, os exercícios dessa envergadura tinham sido levados a cabo somente nos países ocidentais da Aliança, perto das maiores bases militares e centros de aquartelamento das tropas.
*Articulista da emissora pública de rádio Voz da Rússia
Fonte: Voz da Rússia