Pepe Escobar: Os EUA estão jogando roleta russa?
Vivemos tempos sombrios. Estive trocando e-mails sérios com algumas das minhas fontes profundas – o pessoal que realmente sabe, mas não tem de exibir sabedorias. Estão todos profundamente preocupados. Aí vai o que me escreveu um deles, nova-iorquino. É análise semelhante à que já fizeram, publicamente, dentre outros, os professores Stephen Cohen, Noam Chomsky e Paul Craig Roberts. Escreverei em breve sobre isso.
Por Pepe Escobar*
Publicado 19/11/2014 19:57
O ataque de propaganda contra Putin, que o “declarou” igual a Hitler, é ataque de tal violência, tão grave, que é preciso considerar que, doravante, os russos já não acreditem em nada, absolutamente nada, que os EUA lhes digam ou prometam.
Não consigo acreditar que nós mesmos nos tenhamos posto em tal situação, só para proteger ladrões ucranianos, dos quais Putin saberia livrar-se e livrar a Ucrânia, pode-se dizer, sem dificuldade; e, na sequência, cometemos a estupidez arrogante de pôr, na presidência, um dos principais ladrões que havia por lá. Mas isso, agora, já é história.
O que é certo é que o que se conhece como “destruição mútua garantida” (em ing. MAD [lit. louco(a)], de Mutually Assured Destruction) já não é fator de contenção da guerra atômica, porque os dois lados usarão armas atômicas no instante em que qualquer deles concluir que o opositor obteve vantagem decisiva e as usará. A “destruição mútua garantida” como fator de equilibração e mútua contenção já acabou.
Pode soar extremo e exagerado – mas é a perfeita extensão lógica do que Putin disse em sua já famosa entrevista à rede alemã ARD de televisão, em Vladivostok, semana passada: o Ocidente está provocando a Rússia para uma Nova Guerra Fria. Concordo integralmente com essa análise.
Putin listou fatos reais, “em campo”:
Na mesma entrevista, Putin disse à coalizão dos vassalos-fantoches sem-noção da União Europeia que a Rússia pode facilmente e legalmente derrubar o castelo de cartas chamado Ucrânia: basta que Moscou exija o pagamento do dinheiro que a Ucrânia lhe deve. Disse também, claramente, que Moscou não permitirá que Kiev destrua/ esmague/ detone o Donbass e promova ali “limpeza étnica”.
Assim, portanto, é claro que está acionada a lógica da escalada. A União Europeia é piada: o que interessa aos EUA é a Otan. E não se vê nem qualquer mínimo indício de que os EUA tenham alguma vontade de des-escalar.
*Jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today, The Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
– Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
– Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
– Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
– Seu novo livro, Empire of Chaos, acaba de ser publicado pela Nimble Books.
Fonte: Redecastorphoto. Traduzido pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu