Crise e recessão: Os bilionários permanecem intactos
A revista Forbes reconheceu em julho passado como o homem mais rico do mundo o mexicano Carlos Slim, que vive em um país onde cerca de 45,5 por cento das pessoas apresenta condições de pobreza.
Publicado 09/11/2014 17:32
Uma vez mais o dono da companhia América Móvel incrementou seu patrimônio acima do co fundador da Microsoft, o estadunidense Bill Gates, devido a um forte aumento acionário que elevou sua fortuna até os 79 mil 600 milhões de dólares.
Quando 53 milhões de mexicanos sofrem de pobreza extrema ou moderada, o dono de assinaturas de telecomunicações, correntes de restaurantes e equipes esportivas conseguiu que só durante os primeiros 11 dias de julho seu capital aumentasse em 5 bilhões e 100 milhões de dólares.
Tal situação, vista no contexto mexicano, reflete um panorama de grandes diferenças entre ricos e pobres que se estende a toda a órbita e que se encontra fora de controle, segundo denunciou recentemente a organização Oxfam Internacional.
Conquanto a crise econômica iniciada em 2008 levou a recortes e políticas de austeridade que incrementaram os níveis de desemprego e precariedade em grande quantidade de países, desde então até a data o número de multimilionários se duplicou.
De acordo com um relatório da instituição com sede no Reino Unido, a quantidade de pessoas com mais de bilhões de dólares passou de 793 em 2009, a 1.645 neste ano, pois a riqueza acumula-se acima e seguirá fazendo-o a não ser que os governos atuem para evitá-lo.
No começo de 2014, Oxfam assinalou que os 85 mais ricos do planeta possuíam um patrimônio equivalente aos bens da metade da população mundial, mais de três bilhões e 500 milhões de habitantes.
A entidade não governamental advertiu nesse momento que as elites econômicas estavam sequestrando o poder político para manipular as regras do jogo econômico.
O reporte esteve acompanhado por dados que mostraram o incremento da concentração da riqueza em poucas mãos desde 1980 até a atualidade, bem como a abertura da brecha entre ricos e pobres apesar da recessão ter completado seis anos.
Segundo o estudo, desde a crise financeira 1% dos cidadãos estadunidenses tem se apropriado o 95 % do crescimento, enquanto, na União Europeia, os rendimentos conjuntos de 10 pessoas superam o custo total das medidas de estímulo aplicadas no bloco de 2008 a 2010.
Quase ao finalizar 2014, Oxfam voltou a abordar o tema das desigualdades, e assinalou que a riqueza combinada dos multimilionários atuais tem crescido 124 por cento nos últimos quatro anos, pelo que tem um monte de 5,4 bilhões de dólares.
Para ilustrar essas cifras, a instituição indicou que se Slim gastasse um milhão de dólares a cada dia, lhe tomaria 220 anos acabar com sua fortuna; enquanto, com esse ritmo, a Gates lhe levaria 218 anos para terminar com todo seu patrimônio.
América Latina continua sendo a região mais desigual do mundo, como reconheceu a poucos dias em uma visita a Cuba a secretária executiva da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe, Alicia Bárcena.
Essa declaração foi confirmada nos dados de Oxfam, segundo os quais nesta área geográfica os mais ricos ganharam quase 50 por cento dos rendimentos totais e o número de multimilionários cresceu 38 por cento durante os últimos 12 meses.
A situação, no entanto, dá-se em todas as latitudes, pois na África subsaariana há 16 multimilionários que convivem com 358 milhões de pobres, enquanto em um país desenvolvido como Espanha, o 1% mais rico possui tanto quanto 70 % dos cidadãos.
Inclusive no Reino Unido as cinco famílias mais ricas concentram patrimônios superiores a um quinto de toda a população do país.
Ao dizer do relatório apresentado em outubro em meio a centena de nações, o fundamentalismo de mercado e a captura política por parte das elites, bem como as leis feitas à medida dos interesses de uns poucos, são as principais razões do rápido incremento das diferenças econômicas.
Por fundamentalismo de mercado entende-se então o enfoque de que a expansão econômica sustentada só é possível se se reduz a intervenção estatal, o qual limita a regulação e a fiscalização necessárias para manter a desigualdade sob controle.
Ao mesmo tempo, tanto nas nações em via de desenvolvimento como nas mais avançadas, as elites utilizam sua influência a fim de conseguir prerrogativas como isenções fiscais, contratos privilegiados, concessões de terra e subvenções.
Não deveríamos permitir que as doutrinas econômicas, que só procuram o benefício em curto prazo, ou as pessoas ricas e poderosas, que só procuram o benefício próprio, nos ceguem ante estes fatos, apontou Winnie Byanyima, diretora executiva de Oxfam Internacional.
Milhões de pessoas morrem ao redor do mundo devido à falta de atenção médica e milhões de crianças não acedem à escola, enquanto uma pequena quantidade acumula mais dinheiro do que poderia ser gastado em toda uma vida, apontou.
O organismo tem estimado que a contribuição de só o 1,5 por cento do volume dos bilionários somaria suficiente dinheiro para assegurar que os infantes dos países de maior pobreza vão à escola e para proporcionar assistência sanitária nos 49 Estados mais atrasados.
A pobreza e a desigualdade não são inevitáveis ou acidentais, e sim o resultado deliberado de decisões políticas. Precisam-se ações urgentes para equilibrar a balança, pondo em marcha medidas que redistribuam os recursos e o poder que atualmente se concentra em uma minoria, considerou Byanyima.
Por isso, o reporter chamou os governos a seguir um plano para reduzir as diferenças com medidas drásticas contra a evasão fiscal, o investimento em sistemas de saúde e educação gratuitas, e a adoção de um acordo global sobre o tema.
Ao mesmo tempo, apontou a necessidade de promover políticas tendentes a garantir um salário mínimo digno e a reduzir a brecha entre as retribuições que recebem homens e mulheres.
Essas poderiam ser vias para reverter a situação de um mundo no qual sete em cada 10 pessoas vivem em países onde a desigualdade entre ricos e pobres é maior agora do que a 30 anos.
Fonte: Prensa Latina