União Europeia e Ucrânia: a doença da cegueira

Depois das eleições realizadas nos territórios de Donetsk e de Lugansk no dia 2 de novembro, a União Europeia tenciona “se preocupar” novamente com o regime de sanções contra a Rússia. Bruxelas e Washington declararam as eleições nas repúblicas autoproclamadas como ilegais, afirmando que elas contrariam o “processo de paz” e os acordos de Minsk assinados em setembro do corrente ano.

Por Andrei Fedyashin, na Voz da Rússia

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Já se sabe com segurança que a União Europeia irá endurecer as sanções contra a nova liderança recentemente eleita da República Popular de Lugansk e da República Popular de Donetsk. Ou seja, ela irá incluir nas suas listas de proibições mais uma dúzia de pessoas de Donetsk e de Lugansk. Já a 17 de novembro, os ministros das Relações Exteriores da União Europeia devem decidir como podem castigar a Rússia ainda mais.

Como na União Europeia já todos se cansaram dessas sanções absurdas, o novo presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker achou necessário esclarecer a 5 de novembro em Bruxelas que não irão ser inventadas novas sanções, mas as existentes também não serão levantadas. Também Angela Merkel se pronunciou em Berlim de forma semelhante. “Nós gostaríamos de cancelar as sanções, mas tendo em conta a atual situação isso não me parece realizável.”

Em quaisquer outras circunstâncias, em princípio, na posição da União Europeia poderia ser encontrada alguma lógica. Mesmo que com dificuldade. Se a Ucrânia cumprisse as disposições do Protocolo de Minsk de 7 de setembro e tivesse iniciado a retirada de tropas e da artilharia pesada, parasse os bombardeios das cidades do Donbass e a destruição das usinas elétricas, escolas e hospitais.

Mas não acontece nada disso. Foi precisamente do fogo da guarda nacional ucraniana que em Donetsk e em Lugansk já morreram quase 400 civis desde o início do cessar-fogo de setembro. Do lado ucraniano não há quaisquer vítimas entre a população civil.

A União Europeia nem sequer reagiu de nenhuma forma ao bombardeio, a 5 de novembro, pelas tropas ucranianas de uma escola em Donetsk. Dois alunos morreram e seis ficaram feridos com gravidade. Isso aconteceu durante a vigência do regime de cessar-fogo. Se algo de semelhante acontecesse na Europa, haveria alarido para vários meses.

A ausência de reação a esse drama sangrento por parte das principais capitais da União Europeia já não é cinismo, mas um verdadeiro sacrilégio. A organização de direitos humanos Amnesty International classificou o bombardeio e a morte de crianças de “crime de guerra” e exigiu a realização imediata de uma investigação exaustiva.

Em vez de diálogo são-nos apresentados constantemente ultimatos, nossas casas são destruídas, matam nossas mães, irmãos, esposas e filhos, e ainda exigem que nós aceitemos as “regras de Kiev”, realizemos “suas eleições” debaixo dos canhões de seus tanques e quase deveriam cavar nossas próprias sepulturas, refere o recém-eleito presidente da República Popular de Lugansk Igor Plotnitsky: “Nós continuaremos sendo vizinhos da Ucrânia. Seria insensato manter um estado de guerra com os vizinhos, quando podemos ter relações políticas e econômicas e com isso retirar vantagens para o nosso próprio povo. Nós sempre estivemos dispostos a dialogar com Kiev.”

Fica uma persistente sensação que a União Europeia é dirigida por alguém e que a resistência e solidez da Rússia e do presidente Vladimir Putin, pessoalmente, são insistentemente testados, considera o professor da Academia de Serviço Público junto do Presidente da Rússia Vladimir Shtol. Neste caso é completamente irrelevante o que faz exatamente Moscou, mas sim quais as provocações que lhe podem ser feitas através de Kiev.

A própria colocação da questão sobre novas sanções e pressões adicionais é absurda do ponto de vista das normas elementares da diplomacia e das relações entre os Estados, considera Shtol: “Não se pode ter estes comportamentos em política. Um país declara que não permitirá ser sujeito a qualquer ditame externo e imediatamente sua resistência começa sendo testada, para se saber até que ponto suas palavras são confirmadas por atos. A Rússia não terá qualquer possibilidade de se comportar de outra forma, mesmo que o quisesse. Além de tudo o mais, a votação de Donetsk e de Lugansk não é uma escolha de Moscou. É uma escolha do povo dessas repúblicas.”

Até que ponto se pode repetir os mesmos erros, provocar Moscou e introduzir sanções completamente irracionais, enviadas do outro lado do oceano, declarou no Parlamento Europeu o deputado britânico do Partido da Independência do Reino Unido Nigel Farage: “Na longa lista de falhas e erros na política externa da União Europeia dos últimos anos, incluindo os bombardeios da Líbia e as tentativas para armar os rebeldes sírios, está também a provocação completamente inútil ao presidente russo Vladimir Putin. O Império da União Europeia, que anseia pela sua expansão, declarou seus direitos sobre o território da Ucrânia já há vários anos. Para agravar ainda mais a situação, alguns membros da Otan também começaram afirmando que gostariam de ver a Ucrânia na Otan. Nós provocámos abertamente uma rebelião na Ucrânia e a derrubada do presidente legítimos Viktor Ianukovitch. Isso resultou numa reação natural de Vladimir Putin. A moral de toda esta história é a seguinte: quando se cutuca o urso russo com um pau, não se deve ficar admirado com sua reação.”

A próxima reunião do Grupo de Contato tripartite para a Ucrânia, com participação dos representantes de Donetsk e de Lugansk, da Rússia e da OSCE não se deverá realizar antes de passadas duas semanas, anunciaram nesta quinta no Donbass.

“Na próxima reunião no formato de Minsk, os representantes das repúblicas irão propor uma nova redação ao Protocolo de Minsk. Isso é necessário porque a Ucrânia o anulou unilateralmente, tendo cancelado as leis do estatuto especial do Donbass e de anistia”, esclareceram os líderes das repúblicas autoproclamadas.

Mas tudo parece indicar que Kiev, depois de ter realizado o reagrupamento de suas tropas no leste e o seu rearmamento, está claramente violando o cessar-fogo neste momento.

Fonte: Voz da Rússia