Otan empurra Europa para confronto com a Rússia
A Otan está aumentando sua atividade junto às fronteiras ocidentais da Rússia. Isso não torna Moscou mais fácil de convencer, mas irá reduzir a eficácia do combate conjunto a ameaças reais.
Publicado 06/11/2014 12:07
Desde o início da semana, continuam na Lituânia os grandes exercícios militares Iron Sword 2014 (Espada de Ferro), nos quais participam mais de dois mil e quinhentos militares de nove países da Otan: República Tcheca, Estônia, EUA, Reino Unido, Canadá, Lituânia, Luxemburgo, Hungria e Alemanha. Seu objetivo é o treinamento e interação em contexto de resposta a uma hipotética “ameaça vinda do Leste”.
O comandante das Forças Armadas da Lituânia, major-general Jonas Zukas, associou essas manobras ao reforço da segurança no continente europeu. Contudo, na opinião de uma quantidade considerável de especialistas, os jogos militares da Otan na vizinhança imediata das fronteiras da Rússia, ao contrário, ameaçam essa segurança.
De acordo com o Ato Fundador Rússia-Otan de 1997, a Aliança Atlântica se comprometeu a não instalar no território dos seus países-membros, situados no Leste da Europa, forças militares significativas adicionais com caráter permanente.
Hoje essa promessa foi quebrada na prática. Na Europa do Leste está sendo instalado material pesado dos EUA, aumenta a atividade da aviação militar e das forças navais dos aliados da Otan. Entretanto, Moscou acabou por não receber uma resposta sobre as forças que os estrategos da Otan consideram “significativas”. Quanto ao “caráter permanente”, a constante rotatividade permite à Otan contornar mais um ponto do acordo.
Pela sua essência, as demonstrações de força são uma espécie de mensagem que Washington envia a Moscou, tentando obrigá-la a ceder suas posições políticas. Claro que a Rússia tomará todas as medidas necessárias para garantir uma segurança adequada de seus interesses nacionais. Mas, apesar da evidência da ameaça, a Rússia se abstém de entrar em confrontação. Isso mesmo foi declarado há dias pelo presidente Vladimir Putin.
“O mundo no século XXI não se tornou nem mais estável, nem mais seguro. Os perigos antigos não desapareceram. Numa série de regiões a situação até se agravou. Continua existindo um grave foco de tensão no sudeste da Ucrânia, junto à fronteira com a Rússia. Não param as tentativas para alterar a paridade estratégica estabelecida”, disse o líder.
Segundo ele, “os arsenais dos principais países estão se desenvolvendo e aprimorando. Na cúpula da Otan, em setembro, a sua liderança declarou abertamente que a Aliança iria aumentar suas capacidades militares. Em vez de uma resolução coletiva e civilizada dos problemas internacionais estão sendo usados, cada vez mais, mecanismos de pressão militares, econômicos e informativos. A Rússia não tenciona se envolver em uma confrontação que lhe tentam impor a qualquer custo. Nós estamos abertos a um diálogo justo e respeitador sobre todos os problemas da agenda global e regional.”
Na opinião do representante permanente da Rússia na Otan, Alexander Grushko, os acontecimentos na Ucrânia são para o Ocidente apenas um pretexto para aumentar as pressões sobre a Rússia. Muito antes disso, a Otan desenvolveu planos para uma grande intensificação de exercícios militares, de maneira a compensar a perda do gigantesco polígono permanente para treinamento de tropas que era a operação realizada pela Aliança no Afeganistão. O Ocidente precisava de um pretexto visível para regressar à política de defesa territorial do período da Guerra Fria. Esse pretexto foi encontrado.
Mas o mundo mudou desde então. Ao romper a cooperação com a Rússia, o Ocidente enfraquece o potencial dos esforços internacionais no combate ao terrorismo, à pirataria, à disseminação de armas de destruição maciça, ao narcotráfico e à instabilidade regional.
Dificilmente a Otan conseguirá combater esses desafios sozinha, por mais forte que a Aliança Atlântica pareça aos olhos dos seus apologistas.
Fonte: Voz da Rússia