Objetivo da Otan é influenciar a Rússia
A Rússia vai permanecer em isolamento até que aprenda a respeitar a soberania de outras nações. Só uma forte aliança ocidental poderá ensinar a Rússia a respeitar essa soberania. Por isso, a Otan deve estar preparada para usar a força militar. Estas são declarações de dois dirigentes da Aliança: Jens Stoltenberg e Alexander Vershbow.
Publicado 30/10/2014 09:22
Ao mesmo tempo, ambos frisavam que eles não querem uma nova Guerra Fria. As declarações contraditórias do secretário-geral da Otan e seu vice deram o que pensar a analistas.
Jens Stoltenberg, que recentemente assumiu o cargo de secretário-geral, discursou na German Marshall Fund, em Bruxelas. Segundo ele, a Otan não procura confronto com a Rússia, e ninguém quer uma nova "guerra fria" 25 anos após a queda do Muro de Berlim.
Além disso, segundo Stoltenberg, a aliança está desejosa de cooperar com a Rússia. Mas Moscou não está dando passos nesta direção. Por isso, a aliança terá que reforçar a sua presença no leste da Europa “sem colocar lá forças de combate substanciais”. Isso, na opinião do secretário-geral, vai “fortalecer a defesa coletiva da Otan”, o que “não contradiz o desenvolvimento das relações com a Rússia”.
O vice-secretário-geral da Otan Alexander Vershbow discursou em Seul, num fórum para o fortalecimento da paz. Ele acredita que “com suas ações imprudentes contra a Ucrânia e com a intimidação de seus vizinhos, a Rússia abandonou o caminho da cooperação, escolhendo em vez disso o confronto e a agressão”. E o objetivo da Otan é “incentivar Moscou a agir responsavelmente”, disse Vershbow. Até que isso aconteça, a Rússia deve saber que permanecerá em isolamento.
Em ambos os discursos, quase cada nova frase contradiz a anterior. As palavras de Vershbow de que o objetivo da Otan é influenciar a Rússia se assemelham mais ou menos à verdade. O ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, disse recentemente que a aliança, de fato, está se transformando num bloco antirrusso.
Nos últimos anos, a aliança violou se não todos, então a maioria dos acordos com a Rússia. Em particular, tem-se expandido para o leste, embora tivesse prometido a Moscou não o fazer. O Ocidente está tentando mostrar que a atividade da Otan é ditada pela ameaça alegadamente proveniente da Rússia por causa da crise na Ucrânia. Mas na verdade, todos os planos foram elaborados ainda antes do golpe de Estado em Kiev e tornados públicos na cúpula de setembro no País de Gales.
Há que notar que Stoltenberg assumiu o cargo há não muito tempo – talvez por isso ele se expresse muito evasivamente. Embora, talvez, ele esteja simplesmente jogando o cenário tradicional, sugere o especialista do Instituto de Globalização e Movimentos Sociais, Mikhail Neizhmakov.
“Lembramos que o seu antecessor, Anders Fogh Rasmussen, se permitia palavras bastante duras em relação à Rússia. Aqui existe um certo jogo muitas vezes jogado por figuras públicas, políticos, diplomatas: o oficial saindo de seu cargo se comporta de forma dura para que, em contraste, seu sucessor pareça estar desempenhando o papel de um 'bom policial' que propõe uma retórica mais suave a seus parceiros”.
Pode-se dizer que Stoltenberg não conseguiu ser um “bom policial”. Vershbow saiu um ator ainda pior, especialmente quando exortava a Rússia a “voltar ao cumprimento das regras geralmente aceitas, a respeitar a soberania de outros países, incluindo o direito destes países de escolher o seu próprio destino, mesmo que ela não concorde com essa escolha”.
Ou seja, na lógica de Vershbow, o patrocínio de um golpe armado na Ucrânia, o treinamento e o armamento de nacionalistas, o supervisionamento direto de agências de aplicação da lei em Kiev pelos Estados Unidos, não são violações da soberania. Espalhar caixotes com armas norte-americanas pela zona de conflito armado na Síria provavelmente se encaixa nas “regras geralmente aceitas”. E, aparentemente, “o direito de escolher seu próprio destino” tão pouco se aplica aos povos do Iraque, Líbia e da Síria.
Fonte: Voz da Rússia