A sociedade ocidental é muito mais ideológica do que era a soviética
Se o Ocidente quer realmente resolver os problemas que o mundo enfrenta deve compreender claramente as suas causas. Semelhante desejo começa a aparecer entre os peritos ocidentais, o que foi constatado por Alexander Lukin, chefe do Departamento de Relações Exteriores da Escola Superior de Economia, que recentemente participou numa reunião de peritos em Bruxelas.
Por Andrei Ivanov*, na Voz da Rússia
Publicado 30/10/2014 16:09
Ao falar das disposições nessa reunião, Lukin explicou ao correspondente da Voz da Rússia que o Grupo Internacional de Crise existe principalmente devido ao apoio financeiro do Ocidente e, em primeiro lugar, dos EUA, e isso define em grande parte o tom das discussões dos problemas internacionais.
"A sessão em que participei foi dedicada à situação geral no mundo, mais precisamente, àquilo a que no Ocidente se chama gestão global. Os peritos ocidentais, incluindo o conhecido financista George Soros, afirmaram que, embora este sistema tenha algumas insuficiências, ele funciona em geral e pode ser aperfeiçoado. Eu e o conhecido professor chinês Wang Jixi, grande especialista em EUA, a propósito, considerado um liberal na China, manifestámo-nos de fato contra o Ocidente.
Comecei por dizer que, na língua russa, não existe o termo “gestão global”, que cheira a um certo centro internacional que tenta alargar a sua influência ao mundo, nomeadamente através da chamada teoria da “responsabilidade na defesa”, para os próprios objetivos, para impor a sua vontade e lutar contra os regimes incómodos.
O professor chinês declarou que no mundo não existem quais valores universais, que isso são apenas manhas ocidentais. Eu, pelo meu lado, acrescentei que o atual sistema de gestão de crises, para ser realmente globais, deve ter em conta os interesses de todos os países e agir em conformidade com as decisões do Conselho de Segurança da ONU, o que, a propósito, coincide com a posição da Rússia. Caso contrário, esse sistema “gestão global” será considerado por parte significativa dos povos do mundo como meio de garantia do domínio do Ocidente sobre os países com quem tem discordâncias.
A propósito, ninguém, além de nos países do Ocidente, reconhece esse sistema de “gestão global”. E de que “gestão global” se pode falar se o Ocidente derruba unilateralmente um regime, tenho em vista a Ucrânia, e provoca uma crise no centro da Europa? Além disso, o quê e que eles têm vista quando falam de valores universais? A Europa é apenas um terço da China quanto à população. Fiquei com a impressão de que os presentes parecem ter começado a pensar que o Ocidente não é todo o mundo.
Voz da Rússia: Quer dizer que no Ocidente há pessoas que estão prontas a procurar formas de solução dos problemas que satisfaçam a todos?
Alexander Lukin: Lá há várias pessoas. Os membros desta organização: Grupo Internacional de Crise, querem resolver problemas concretos. Eles apoiariam passos que poderiam levar à solução pacifica do problema, por exemplo, da Ucrânia.
O problema é que as pessoas estão ideologizadas. A sociedade ocidental é muito mais ideologizada do que era a soviética. A ideologia, como mostra a experiência, tende a recusar fatos evidentes que não se enquadram nela. É mais agradável considerar propaganda russa à fatos de que não se gosta.
Mas simplesmente no Ocidente não se vê em lado nenhum fatos que confirmam isso, enquanto que o que mostra a Russia Today é recebido como propaganda. Todavia, é impossível resolver os problemas sem a compreensão das causas reais. Aqui é necessário romper o bloqueio informativo, que realmente existe.
Por isso, não devemos suspender os contatos, mas enviar ao Ocidente pessoas que possam explicar de forma acessível e amiga, a nossa posição. Claro que é complicado e até impossível mudar a sua forma de pensar. Não se pode convencer um homem ocidental de que o Ocidente não é a melhor sociedade e não é o ideal a atingir. Mas pode-se contribuir para a mudança das suas abordagens face a um problema concreto.
*Correspondente da Voz da Rússia em Bruxelas