Tereza Cruvinel: A força da internet e das redes sociais
Como pesquisa é pesquisa e eleição é outra coisa, ninguém pode apostar hoje no resultado de domingo. Mas é certo que o eleitorado fez movimentos importantes nos últimos dias, que resultaram na inversão da vantagem numérica a favor de Dilma, apontada por duas pesquisas Datafolha seguidas.
Publicado 23/10/2014 13:31
O instituto talvez tenha feito uma logo depois da outra como resposta aos questionamentos iniciais da candidatura de Aécio. Dilma pode não ter 52% (teria 49% no limite mínimo da margem de erro), e ele pode não ter 48 (tendo 51% no teto da margem de erro), persistindo, a rigor, a situação de empate técnico. Mesmo assim, a vantagem numérica está sendo um aceno da vitória para Dilma, embora até domingo muita coisa ainda possa acontecer. Haverá um debate na sexta-feira em que ambos apostarão todas as fichas.
Para o que aconteceu nos últimos dias e horas, muitas são as explicações. A Folha de São Paulo atribuiu nesta quarta-feira (22) o crescimento de Dilma ao aumento do otimismo com os principais indicadores da economia: inflação, emprego e situação econômica geral, apesar do crescimento pífio do PIB este ano, projetado em 0,3%.
Outra explicação, esta já ensaiada pelo próprio PSDB, responsabiliza os ataques da campanha de Dilma a Aécio pelo crescimento dela, e em particular a exploração da crise hídrica de São Paulo. Há que se discutir isso. O Datafolha pesquisou a reação dos eleitores à pancadaria e colheu uma desaprovação geral de 71% dos entrevistados. Mas 36% apontaram Aécio como o mais agressivo, contra 24% que apontaram Dilma como tal. Outros 27% disseram que ataques fazem mesmo parte das campanhas. Pode ser (e isto é uma especulação) que a percepção maior de agressividade em Aécio tenha origem na forma com que ele se dirigiu à presidente-candidata, chamando-a de mentirosa e leviana, embora ela tenha desferido ataques contundentes, mas sem adjetivar: acusou-o de empregar parentes, fazer aeroporto em benefício próprio e recusar-se a fazer o teste do bafômetro, entre outras coisas. A Folha sugere que o conjunto de mensagens contra Aécio – somando horário eleitoral, debates e redes sociais – impactou negativamente os eleitores que recentemente haviam aderido ao tucano.
Aqui, entra o elemento Internet, que nunca teve tanta força como nesta campanha. O assunto eleições adquiriu uma predominância inédita nos conteúdos publicados e nas mensagens pelas redes sociais. A pesquisa Datafolha realizada na segunda-feira (20) apurou que para 19% dos entrevistados, as redes sociais “influenciaram muito” o voto no primeiro turno. Outros 20% disseram que “influenciaram um pouco”. O hábito de declarar o voto nas redes sociais também foi medido: 20% disseram ter feito isso no primeiro turno e 22% já o fizeram agora, no segundo. Segundo a pesquisa, 75% dos internautas inscritos em redes sociais estão lendo notícias sobre as eleições por meio de suas contas: 68% usam o Facebook, 41% o WhatsApp e 11% o Twitter. A soma dá mais de 100% porque alguns usam mais de uma rede. De cada 10 eleitores, seis têm acesso à Internet. Metade destes conectados (47%) conta em alguma rede social e 46% deles dizem compartilhar notícias sobre o pleito.
Os serviços de monitoramento de redes sociais não oferecem ainda dados precisos sobre a força da “militância virtual” de cada candidato. Petistas e tucanos trocaram chumbo pesado o tempo todo e a artilharia de Dilma deve ter tido um peso particular em sua recuperação. Tanto é que os tucanos reclamam muito do bombardeio com “calúnias e infâmias” contra o candidato. Na selva da Internet, vale tudo, e quem tiver mais pontos vulneráveis levará a pior.
E há também, nesta nova força das redes sociais nas eleições, diz o professor Cristiano Henrique, professor da Escola de Comunicação da UFRJ, um ganho para democracia: as redes impulsionaram a ressurreição da política como espaço de reflexão, debate e participação da sociedade, ainda que tenham tratado mais de aspectos pessoais dos candidatos do que de suas propostas. Mas isso já é bem melhor que a passividade e a alienação. Sinais de amadurecimento democrático. Os candidatos que se preparem para estes novos tempos, em que as redes terão tanto peso quanto o horário eleitoral e os debates e o papel da grande imprensa e seus formadores de opinião será cada vez menor.
Tereza Cruvinel* atua no jornalismo político desde 1980, com passagem por diferentes veículos. Entre 1986 e 2007, assinou a coluna “Panorama Político”, no Jornal O Globo, e foi comentarista da Globonews. Implantou a Empresa Brasil de Comunicação – EBC – e seu principal canal público, a TV Brasil, presidindo-a no período de 2007 a 2011. Encerrou o mandato e retornou ao colunismo político no Correio Braziliense (2012-2014). Atualmente, é comentarista da RedeTV e agora colunista associada ao Brasil 247.