Eleições legislativas na Ucrânia: será possível alcançar a paz?
As eleições para a Suprema Rada (parlamento) irão aprofundar ainda mais a cisão política na Ucrânia. Tal opinião prevalece em previsões de políticos do Ocidente.
Publicado 22/10/2014 09:11
O escrutínio está agendado para o dia 26 de outubro. Segundo as últimas sondagens, nessa campanha eleitoral lidera o bloco presidencial de Piotr Poroshenko, capaz de obter cerca de um terço dos votos dos eleitores. A segunda posição tem sido ocupada pela Frente Popular do premiê Arseni Yatsenyuk, com 9%. E a terceira poderá vir a ser ganha pelo Partido Radical, encabeçado pelo nacionalista Oleg Lyashko.
Os ultranacionalistas pretendem aproveitar esse sufrágio para transformar seus “méritos militares” em capital político, escreve o periódico britânico Sunday Times. Os líderes destas unidades paramilitares, criadas pelo governo e financiadas por oligarcas locais para a luta contra as milícias do sudeste, tencionam também ocupar assentos parlamentares. Tal correlação de forças tem engendrado receios de especialistas ocidentais. Em sua ótica, os grupos paramilitares extremistas poderão, com o tempo, organizar um golpe de Estado.
O quadro geral do futuro parlamento já é praticamente conhecido. Conforme analistas russos, as listas de partidos concorrentes são feitas segundo um princípio: nelas figuram os “heróis militares”, os “heróis do movimento Euromaidan” e os “heróis do Facebook”. A sua maior tarefa é garantir a entrada na nova Rada de políticos antigos e já conhecidos.
O maior número de personalidades políticas antigas poderá ser conduzido pelo partido Pátria (Batkivschina) e pela Frente Popular de Arseni Yatsenyuk. No meio de novos candidatos inscritos em suas listas, uma quarta parte cabe aos militares. O maior número de desempregados, aposentados e assessores de deputados se verifica nas listas apresentadas pelo Partido Radical e pela Ucrânia Forte, liderado por Serguei Tigipko.
Yulia Timoshenko conseguiu incluir na lista seus antigos e experientes correligionários. Mas o seu partido Batkivschina não está vivendo os melhores tempos, assinala Vladimir Zharikhin, vice-diretor do Instituto de Países da CEI.
“O Batkivschina já não será uma força tão potente como antes. A Ucrânia retornou ao sistema eleitoral misto e metade do parlamento será formada em circunscrições eleitorais. Ali, o “recurso administrativo” tem um grande peso e uma boa parte dos deputados, não obstante seus slogans belicistas, irá integrar a equipe de Poroshenko. Depois, eles irão votar como o presidente lhes pedir”.
Se o elenco da futura Rada está quase conhecido, as previsões quanto à sua eficácia se mantêm bem vagas. A ONU expressa esperança de que as eleições legislativas venham dar passo rumo à reconciliação política. Mas se o Bloco de Piotr Poroshenko tem sido visto como um “partido da paz”, os demais participantes do processo eleitoral pertencem ao “partido da guerra”, sustenta o diretor do Instituto de Pesquisas Políticas Grigori Dobromelov.
“Se Poroshenko formar uma maioria estável na Suprema Rada e lançar um processo de reformas, ele talvez possa estar mais calmo, mais virado à paz. A escalada militar não lhe será vantajosa. Caso contrário, e se os partidos radicais forem bem sucedidos, o presidente terá de seguir a tática de forças pro-militaristas. Assim, o conflito armado será relançado em uma ou outra forma”.
Enquanto isso, o campo político está sendo saneado através da Lei de Lustração que entrou em vigor no dia 16 de outubro, devendo abranger os atuais dirigentes do país, incluindo o presidente, o premiê e o presidente do parlamento, visto que todos eles, sob Yanukovich, ocuparam altos cargos governamentais. Mas esse fato, não se sabe porquê, caiu no esquecimento. Além disso, a nova lei parece se coadunar pouco com as normas democráticas europeias.
Fica pendente mais um problema: Kiev não sabe como realizar a votação no território das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk. Estas repúblicas se preparam para a eleição de seus líderes e do parlamento, tendo o sufrágio local sido marcado para o dia 2 de novembro. Poroshenko já anunciou não aceitar seus resultados, tendo calendarizado as eleições oficiais para o dia 7 de dezembro. Pelo visto, Kiev, Bruxelas e Washington esperam que até essa data a situação venha a mudar.
Fonte: Voz da Rússia