“Há conflito de interesses na Sabesp”, diz Nivaldo Santana
O vice-presidente nacional da CTB, Nivaldo Santana, funcionário de carreira da Sabesp desde 1978, conversou com o Vermelho sobre a crise de água em São Paulo e esclareceu pontos importantes sobre a má administração tucana na empresa. Para ele, há um conflito de interesses entre as necessidades da população e o lucro do capital privado.
Por Mariana Serafini, do Vermelho
Publicado 21/10/2014 16:22
Nivaldo explica que em 2004 quando a Sabesp renovou o contrato com o Sistema Cantareira, havia uma série de clausulas a serem cumpridas com relação à infraestrutura, mas a empresa foi negligente e não realizou os investimentos necessários. Há muito se previa a estiagem e já era sabido a necessidade de ampliar os reservatórios, mas “a Sabesp não fez porque prioriza pagar os dividendos para os acionistas que dominam metade do capital da empresa”, esclarece Nivaldo.
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Segundo ele, atualmente a empresa é dividia praticamente “ao meio”, isso significa que 50% ainda pertence ao Estado e o restante são ações na Bolsa de Valores de São Paulo e de Nova York. “Os acionistas privados estão interessados apenas no lucro e não nas necessidades da população”. Isso justifica o conflito de interesses, onde atualmente os trabalhadores paulistas pagam pela estiagem enquanto o capital privado pouco foi afetado.
Além de não ter reservatórios capazes de suprir as necessidades de uma estiagem longa como a que ocorre este ano, a Sabesp perde cerca de 30% da água tratada durante a distribuição. De acordo com Nivaldo, isso acontece porque o encanamento do sistema é velho o suficiente para conter inúmeros vazamentos.
Para Nivaldo, a empresa foi negligente, “houve falta de planejamento e falta de investimento, em períodos de estiagem precisa ampliar a produção de água e os reservatórios”, explica. Ele afirma que agora, uma das alternativas seria buscar água em mananciais mais distantes da região metropolitana de São Paulo, no entanto, isso também implica em investimentos altos.
“A Sabesp precisa fazer campanhas permanentes de uso consciente dá água e ter bônus permanentes para quem economiza”, Nivaldo acredita que mediadas como estas podem contribuir para uma população mais preparada para o enfrentamento de estiagens. Ele aposta também na reutilização dá água para outros fins, como em serviços de limpeza, por exemplo.
Segundo Nivaldo, a infraestrutura da empresa não é suficiente para a população que precisa atender, há um déficit hídrico e a Sabesp deve desenvolver medidas não apenas para os períodos de estiagem. “Com a crise instalada, a empresa se vê obrigada a adotar medidas emergenciais, como a utilização do volume morto do reservatório”.
Nesta segunda-feira (20), o Governo Federal anunciou o empréstimo de recursos para o governo do Estado de São Paulo amenizar a questão da falta de água. Nivaldo vê com bons olhos a parceria, “não se pode adotar uma politica de autossuficiência”, afirma.
Apesar da crise, a empresa não admite que esteja ocorrendo racionamento, no entanto, diversos bairros da capital sofrem diariamente com a falta de água. O nível do reservatório do Sistema Cantareira já está em 3,3%.
O racionamento, não anunciado pela empresa, é tamanho que uma cidade a 400 quilômetros da capital precisou fechar as escolas e mais de dois mil alunos estão sem aula, em Cristais Paulista, por conta da falta de água. Segundo o secretário de Obras de Cristais Paulista, Moacir Almeida de Oliveira, a previsão é que as atividades escolares sejam retomadas apenas na próxima semana.
Em artigo publicado nesta segunda-feira (20), no Portal Vermelho, o administrador da FGV Sérgio Reis, afirma que: “independentemente do cenário, os próximos meses serão bastante complicados. Estamos cada vez mais próximos da morte do Sistema Cantareira, de guerras pelos últimos bilhões de litros, de transformações dramáticas na vida da população, de impactos imensos na atividade econômica”.