Informação e rastreamento para combater câncer de mama
A qualidade da informação e o rastreamento e prevenção do câncer de mama por meio de mamografias foram discutidos, nesta quinta-feira (16), em audiência pública sobre o Outubro Rosa. O evento, que faz parte do Outubro Rosa, um movimento de mobilização pela conscientização sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama, foi realizado pelo programa Quintas Femininas, da Procuradoria Especial da Mulher no Senado.
Publicado 17/10/2014 10:33
A moderação na frequência do exame na faixa etária abaixo da recomendada pelo Ministério da Saúde, que é de 50 a 69 anos, foi uma das orientações dadas pelos profissionais que participaram do debate.
De acordo com a médica Carolina Fuschino, da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o ideal é direcionar a realização das mamografias para a chamada faixa prioritária, na qual há maior impacto na diminuição da mortalidade.
“A mamografia não é um exame que não vai ter efeitos colaterais. Se você aumenta muito o número de mamografias ao longo da sua vida, essa radiação a que você vai estar submetida tem efeitos cumulativos. Isso não vai ter um impacto importante para surgimento de cânceres. Mas, a partir do momento em que você começa a fazer mais cedo, essa radiação vai ser maior ainda”, explicou.
A mudança de postura se deve, entre outros pontos, ao chamado overdiagnóstico. De acordo com Arn Migowski, sanitarista, epidemiologista, tecnologista da Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede do Instituto Nacional de Câncer (Inca), muitos dos casos detectados num estágio bem inicial poderiam nem mesmo ter se desenvolvido e se tornado câncer. Além disso, pesquisas demonstram que, mesmo com o crescimento do diagnóstico precoce de tumores nas mamas, a sobrevida das mulheres não aumentou significativamente.
As duas médicas, no entanto, não refutaram a ideia de que o rastreamento se tornou inútil e concordaram que ele deve ser realizado após debate com o profissional médico, considerando malefícios e benefícios. Eles insistiram que a educação, a percepção corporal e uma vida saudável, com alimentação equilibrada, são essenciais para a saúde da mulher.
Falta de comunicação
A ativista Lilian Marinho, da Rede Feminista de Saúde, Diretos Sexuais e Reprodutivos, acusou a construção, por todo o Brasil, de uma “tirania do rosa”, com a iluminação de monumentos em várias cidades em alusão ao chamado Outubro Rosa e a imposição de um “véu da alegria” que acaba mascarando as verdadeiras necessidades.
Ela defendeu o fim da desinformação e o incremento da comunicação; e a atuação rápida nos casos diagnosticados de câncer de mama e colo de útero, pois o tempo é a melhor arma para o tratamento. Segundo disse, o Estado brasileiro não pode somente lançar uma suspeita de câncer sobre uma mulher sem garantir a ela continuidade e rapidez no tratamento em caso de diagnóstico positivo.
“Queremos que com o Outubro Rosa (a atenção) se estenda, para que se garanta a essas mulheres o que vem depois, tratamento e acompanhamento”, destaca.
Apesar de elogiar a campanha, que semeia a necessidade do cuidado, Lilian aponta falta de infraestrutura como a existência de poucos laboratórios de alto risco para câncer, a lentidão na continuidade do tratamento e interesses econômicos e da indústria de medicamentos e de aparelhos como fatores que lesam o direito de cada mulher ser tratada e, em casos extremos e não mais tratáveis, de ter uma sobrevida digna, sem dor e sofrimento.
Lilian Marinho também cita fatores como as desigualdades regionais, a falta de atenção a grupos específicos como presidiárias, albinas e moradoras de rua como problemas para a universalização do atendimento.
Assim como Lilian Marinho, Carolina Fuschino também aponta a falta de comunicação como entraves ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama e de colo de útero. Ela cita que a ausência de informação é tanta que o Outubro Rosa pode passar até mesmo uma mensagem equivocada, de que a mamografia evita o câncer de mama, como se fosse uma vacina, em vez de somente detectá-lo precocemente.
Informações claras, disseram as especialistas, podem levar mulheres a decidir melhor sobre quando fazer a mamografia. Não existe consenso sobre a idade ideal para se submeter pela primeira vez ao exame.
Vida saudável
As médicas destacaram ainda que mamografia não previne câncer, apenas detecta precocemente. O que pode prevenir, ressaltou Carolina Fuschino, é levar uma vida saudável, com alimentação natural, prática de exercícios físicos, sem fumo ou álcool. O Brasil deverá registrar, em 2014, 57 mil novos casos de câncer de mama.
Para a presidente da Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília (Recomeçar), Joana Jeker, é fundamental que a mulher conheça seu corpo e procure um médico em caso de dúvida, independentemente da idade. “As mulheres têm que ter acesso à mamografia de rastreamento, principalmente aquelas com caso na família”, disse Joana, que assistiu às palestras desta quinta.
A legislação brasileira assegura o acesso de todas as mulheres à mamografia a partir dos 40 anos, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Da Redação em Brasília
Com agências