Turquia segue reticente em relação aos curdos e ao Estado Islâmico
A Turquia tem acompanhado de perto a defesa da cidade síria de Kobani, ponto estratégico importante, protegido por curdos que vão opondo resistência às forças do Estado Islâmico (EI). Especialistas procuram explicar causas de não ingerência de Ancara nessa crise fronteiriça.
Publicado 14/10/2014 11:06
Kobani é um dos maiores centros da administração autônoma dos curdos residentes no norte da Síria. Situa-se perto da Turquia, cujos habitantes podem observar o decurso de combates a partir de colinas vizinhas. A tomada de Kobani poderá vir a ser uma importante vitória do EI e, ao mesmo tempo, um sério desafio a Ancara por poder desestabilizar a situação na zona de fronteira, sustenta o especialista russo, Alexei Sarabiev.
“O EI vem ameaçando a segurança da Turquia. Se não forem tomadas medidas urgentes, será depois muito tarde remediar a situação atual. Não se esqueça de que ao longo dos últimos anos a Turquia tentava conter os separatistas curdos no seu território. É um fator que poderá forçar Ancara a proceder a ações decisivas”.
Importa notar que as milícias curdas conseguem se manter nas suas posições graças à assistência que vão recebendo através de ataques aéreos: a aviação dos EUA está infligindo golpes aos islamistas usando mísseis de grande calibre. A cidade, envolta em chamas e espessa fumaça das explosões, está quase destruída.
Enquanto isso, os refugiados e voluntários curdos, que se concentraram do lado turco, estão pedindo a autorização de Ancara para poderem ir socorrer seus irmãos. Ancara, por sua vez, fecha a fronteira, prestando uma atenção especial à infiltração para a Síria de recursos materiais e humanos.
É obvio que os turcos estão lutando contra quaisquer atos de contrabando, seja a favor dos curdos, ou a favor dos extremistas do EI. Há dias, eles confiscaram um lote de armas e munições que seriam suficientes para destruir uma cidade inteira de médias dimensões.
A polícia considera que as munições apreendidas teriam pertencido ao EI. A conclusão foi tirada depois de ter sido afastada a hipótese sobre um eventual envolvimento no incidente do Partido de Trabalho do Curdistão proibido.
Claro que para Ancara são igualmente inaceitáveis tanto um Estado islâmico como o curdo, se este for à meta final da luta em que se empenha a maioria dos curdos turcos.
É por isso que a polícia turca anunciou um alerta terrorista máximo em muitas províncias e cidades do país, inclusive em Ancara e Istambul. No entanto, os turcos não se apressam a permitir a utilização de sua base militar Incirlik situado no sul a partir da qual os EUA poderiam assestar golpes aéreos às posições do jihadistas. Isto apesar de os EUA usarem outras bases no âmbito do combate ao regime de Bashar Assad, constata o especialista, Boris Dolgov.
“As bases militares turcas têm sido utilizadas para treinar combatentes da oposição síria. Nisso, não há nada de novo. Antigamente, para o efeito eram atraídos combatentes de todos os grupos rebeldes. Hoje, se usam, sobretudo, os elementos do Exército Livre da Síria. Depois, eles vão atravessando a fronteira para travar combates contra as tropas governamentais da Síria. A meu ver, a utilização das bases militares turcas não pode afetar o equilíbrio das forças”.
Pois, se cria uma impressão de que, em última análise, para Ancara o maior alvo tem sido Bashar Assad e não o Estado Islâmico. Seja dito de passagem, tal conclusão se pode fazer em relação a Washington. Suas linhas estratégicas são semelhantes: instigar uns extremistas contra os outros e depois tirar as castanhas do fogo com a mão do gato.
Todavia, tal política se afigura como pouco producente. A tática de duplos padrões tem rejeitado os amigos, inspirando, contudo, os inimigos que, com a plena razão, encaram tal duplicidade como a fraqueza e a falta de sagacidade política.
Fonte: Voz da Rússia