Fim da ocupação da Palestina volta ao debate político na Europa
Eleito primeiro-ministro da Suécia, o socialdemocrata Stefen Lofven disse no início do mês que seu governo reconhecerá o Estado da Palestina. O Partido Trabalhista britânico também colocou a votação sobre o tema na agenda parlamentar desta segunda-feira (13), ainda que setores no seu seio se oponham afirmando simpatia à solução de dois Estados para o conflito, mas taxando a medida de contraproducente. O grupo chama-se “Trabalhistas amigos de Israel”.
Por Moara Crivelente*, para o Vermelho
Publicado 13/10/2014 12:40
No dia 3 de outubro, a posse de Lofven como premiê na Suécia suscitou várias análises a respeito de uma sinalização à esquerda em um continente em que a direita e até a extrema-direita têm tido avanços significativos e preocupantes. Neste contexto, houve alguma mudança ou um “chacoalhar” em temas internacionalistas como a luta do povo palestino pelo fim da ocupação israelense.
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Um posicionamento europeu chegou a ser ensaiado com extrema timidez no ano passado – quando a União Europeia emitiu “diretrizes” não vinculantes recomendando “evitarem-se” relações comerciais que beneficiem a produção israelense em colônias ilegais nos territórios palestinos. O bloco é parte do chamado “Quarteto” que ensaia mediações quase simbólicas nas esparsas negociações entre Israel e a representação palestina.
A Suécia deverá ser o primeiro grande país do bloco, ainda assim, a reconhecer o Estado da Palestina. Hungria, Polônia e Eslováquia, que já o reconhecem, fizeram-no antes de aderir à UE, hoje com 28 membros. No caso do Reino Unido, a votação do Parlamento será apenas uma sinalização, dizem observadores nacionais, uma vez que até mesmo a sua proposta de agenda foi contrária à posição de setores dentro do próprio Partido Trabalhista. O seu líder Ed Miliband é favorável, mas, assim como outros parlamentares, recebeu uma carta do partido homólogo israelense, que afirmava a decisão como contraproducente.
Segundo o jornal israelense Haaretz, o parlamentar Hilik Bar, secretário-geral do Partido Trabalhista de Israel, escreveu aos representantes britânicos organizados a favor da votação para instá-los a recuar. Ou melhor, para “implorar” por isso. Bar integra o grupo parlamentar pela promoção de uma solução para o conflito Israel-Palestina, mas disse opor-se às medidas “unilaterais” e defender a tal solução negociada. O mesmo dizem seus “Amigos” no Partido Trabalhista Britânico.
Por outro lado, a líder do partido israelense Meretz (“Energia”) Zahava Gal-On disse no sábado (11) que o partido de Bar “não pode dizer acreditar que Netanyahu promoverá uma colonização política e, depois, quando elementos estrangeiros tentam avançar uma medida na ONU, pedir para freá-la. O Partido Trabalhista está agindo como a segunda Chancelaria de Netanyahu, um tipo de coalizão da oposição.”
Impasse perpétuo e ocupação
Há muito que o tom burocrático e de manutenção de um impasse de alguns representantes de centro-esquerda em Israel e na Europa tem sido criticado. Seu posicionamento é contraditório e ignora deliberadamente todos os sinais e evidências dados pelos sucessivos governos de Israel sobre a incapacidade de avanço positivo na questão, seja pela explícita falta de vontade do líder, neste caso o premiê Benjamin Netanyahu, seja pelas conformações das coalizões de governo.
A atual coalizão, formada por Netanyahu ainda no início de 2013, é repleta de representantes dos colonos ou dos defensores ativos da manutenção da ocupação por questões aparentemente religiosas ou “estratégico-securitárias”, alegando que a retirada militar dos territórios palestinos ocupados seria um risco para a própria existência do Estado de Israel. Os ministros da Economia, Naftali Bennett (na foto com Netanyahu) e das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, entre outros, chegaram a ameaçar a coalizão de Netanyahu – que tem suas próprias alegações deletérias contra a liderança palestina e as negociações – caso um acordo provisório fosse estabelecido no último período de diálogos, entre julho de 2013 e abril de 2014.
Este período, como tantos outros anteriores, terminou sem qualquer avanço em questões centrais para uma eventual solução da questão – o estabelecimento efetivo do Estado da Palestina – e representou um dos maiores avanços na ocupação e na colonização sobre a Cisjordânia, enquanto manteve a Faixa de Gaza completamente bloqueada e, em seguida, outra vez alvo de mais de 50 dias de bombardeios devastadores.
A política europeia a respeito da Palestina é variante, conta com defensores do fim da ocupação e toma medidas profundamente insuficientes para sinalizar aos cidadãos a ilusão de um posicionamento. Um dos maiores aliados de Israel tanto em questões políticas e comerciais quanto militares, o Reino Unido viu também, durante a ofensiva israelense de julho e agosto contra Gaza, manifestações com mais de 100 mil britânicos contra o massacre dos palestinos e pelo fim da ocupação. Protestos importantes também ocorreram na França, por exemplo, o que revela a insatisfação popular com as medidas sinalizadas por seus líderes.
Em 2012, quase 140 países reconheceram o Estado da Palestina no seio da Assembleia Geral das Nações Unidas, enquanto nove votaram contrariamente e 41 abstiveram-se. Ao depararem-se com o aumento do apoio à sua causa e à sua opção deliberada e acertada pelo direito internacional – mantendo a disposição à diplomacia constantemente afirmada – os palestinos buscam avançar no sentido da efetivação do seu Estado enquanto sujeito das normas internacionais, aderindo a tratados e organizações.
Do lado oposto, a liderança israelense continua optando pela ocupação, pelos massacres e pela colonização, esquivando-se cinicamente das denúncias de crimes de guerra cometidos ao longo de tantos anos, mas recorre à mídia aliada e aos amigos-patrocinadores, como os EUA, para dizer que quem rechaça a paz são os palestinos. É realmente passada a hora de maior afirmação entre parlamentares e lideranças sobre o respaldo à luta pela libertação da Palestina, de uma vez por todas.
*Moara Crivelente é cientista política, jornalista e membro do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), assessorando a presidência do Conselho Mundial da Paz.