Derrotada, Marina troca alianças com tucanos e confirma velha política
Candidata derrotada nas eleições, Marina Silva (PSB-Rede) oficializou o apoio ao candidato tucano Aécio Neves (PSDB). “Com as bênçãos de Nossa Senhora, digo que hoje é um dia glorioso para nossa caminhada. A partir de agora somos um só corpo e um só projeto em favor do Brasil e dos brasileiros”, disse Aécio neste domingo (12), durante visita à Basílica de Aparecida do Norte (SP).
Publicado 13/10/2014 11:51
Essa troca de alianças, já que Aécio disse se tratar de um casamento com Marina, já era esperada e se desenhou durante toda a campanha eleitoral. Enquanto acreditava que poderia chegar ao segundo turno, Marina fez o discurso da “nova política” e se colocava acima do bem e do mal propondo a formação de um governo com ‘notáveis’ da política brasileira.
Aécio, por sua vez, vendo suas chances diminuírem nas pesquisas e com o aceno de aliados de partido – como Agripino Maia (DEM) e o próprio padrinho FHC – a candidatura de Marina, não poupou críticas à adversária, chegando a dizer que seu plano de governo foi “escrito a lápis” e que a candidata era despreparada para governar.
Nada de novo
Mas agora, com a derrota nas urnas em 5 de outubro, a “nova política” de Marina vem à tona. Para não embarcar escancaradamente na canoa de Aécio, a candidata apresentou pontos para formalizar a aliança, como o fim da reeleição e a defesa da ‘sustentabilidade’ que deveriam ser inseridas no plano de governo do tucano.
Apesar de dizer durante toda a campanha que suas propostas eram diferentes dos dois principais candidatos adversários, Marina não propôs mudanças ao plano de Aécio, já que ambos defendem o mesmo lado e o plano de governo propor as mesmas bases, como redução do Estado, corte de investimentos públicos e entrega das decisões econômicas ao sistema financeiro internacional.
Na quarta-feira (8) Marina se encontrou com o ex-presidente tucano FHC para acertar os detalhes, enquanto a executiva do PSB anunciava o apoio ao Aécio. A decisão de apoiar a candidatura neoliberal e conservadora tucana mergulhou o Partido Socialista Brasileiro, fundado por Miguel Arraes, numa crise sem volta.
Defesa do legado socialista
Num ato de resistência em defesa da história do partido, presidente do PSB, Roberto Amaral, divulgou neste sábado (11) carta que defende a reeleição de Dilma e denuncia a traição afirmando que alguns dirigentes traíram a luta do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos ao se aliar ao tucano. Ele diz ainda que o bloco que controla o partido “renega compromissos programáticos e estatutários” e “joga no lixo o legado de seus fundadores”.
Amaral refere-se ao apoio da família de Campos, encabeçado por seu irmão Antônio Campos, a Aécio no segundo turno. Em evento no Clube Internacional de Recife, o filho mais velho de Eduardo Campos, João Campos, leu uma carta assinada pela viúva Renata Campos em que declara seu apoio ao tucano.
“Ao aliar-se acriticamente à candidatura Aécio Neves, o bloco que hoje controla o partido, porém, renega compromissos programáticos e estatutários, suspende o debate sobre o futuro do Brasil, joga no lixo o legado de seus fundadores – entre os quais me incluo – e menospreza o árduo esforço de construção de uma resistência de esquerda, socialista e democrática”, argumento Amaral em sua carta. O PSB elege nesta segunda-feira (13) a nova direção do partido e Amaral deve deixar a direção que deverá ser ocupada pelos mesmo que aprovaram o apoio a Aécio.
Ainda no sábado (11), Aécio divulgou carta em que incorpora ao seu programa a pauta de Marina que, por sua vez, oficializou o seu apoio a Aécio. Entre as propostas apresentadas, Aécio diz que vai continuar o que está sendo feito pelo governo Dilma, que ele tanto crítica, como transformar o Bolsa Família em lei.
“Alternância do poder”
Apesar de toda a movimentação da semana e de adiar por vezes a oficialização de seu apoio a Aécio, aguardando justamente que o candidato anunciasse a inclusão dos pontos sugeridos por ela ao programa, Marina disse que as promessas feitas em carta pelo candidato não foram resultados de seu acordo político, mas do que chamou de “compromisso”. Ah, tá.
Para justificar o apoio a Aécio, o discurso de Marina se resumiu na defesa da “alternância do poder” pura e simplesmente, como se isso fosse causa de problemas ou soluções para o Brasil.
A candidata à reeleição, Dilma Rousseff, considerou natural a aliança dos candidatos. “Eu acho que esse anúncio, essa opção, é compreensível, porque a proximidade que ela tem é com o programa econômico do Aécio. E tem menos proximidade com o programa social do meu governo”, frisou Dilma.
A candidata enfatizou que ambos os candidatos representam o retrocesso e voltou a afirmar que ninguém é dono do voto do povo brasileiro. “Acredito na democracia. O voto é de quem vai lá na urna e registra”, afirmou.
Sentimento de mudança
De fato, o dono do voto é o povo brasileiro, como afirma a presidenta Dilma. As urnas demonstram que existe na população um sentimento de mudança. O povo quer continuar avançando na melhoria das condições de vida e trabalho, com valorização da renda e o fim das desigualdades. Mas existe também um sentimento de repúdio à velha política que subordina os interesses nacionais em favor do capital financeiro internacional.
A avalanche midiática tenta embaçar a visão política desta eleição. Neste segundo turno estão em disputa dois projetos de Brasil/; um que já demonstrou que é capaz de promover as mudanças, pois elas estão em curso; e outro que também já demonstrou o seu compromisso com o rentismo que deixou o Brasil com o pires na mão junto ao FMI durante todo o seu governo, enquanto o povo sofria as consequências dessa escolha com desemprego, arrocho salarial e desmantelamento do Estado.
Dilma, com o apoio das forças progressistas deste país, é quem tem o compromisso e as condições de promover as mudanças e os avanços que o Brasil precisa.
Da redação do Portal Vermelho, Dayane Santos
Com informações de agências