Renan Alencar: 30 Primaveras de UJS

Os sonhos não se afastam como o tempo, não se perdem como o pólen das flores, não se desgastam. Os sonhos não envelhecem, como ensina a música, não se abatem como os traços da pele, não se desfazem do peito e das mentes dos que sonham. Os sonhos são como o volver do vento e o correr dos rios. Os sonhos são perenes, são invencíveis, os sonhos estão sempre no mesmo lugar.

Por Renan Alencar*, no Portal da UJS

Congresso da União da Juventude Socialista com Dilma - UJS

No dia 22 de setembro de 1984, um grupo de jovens brasileiros fertilizou um sonho: o Brasil unido, o Brasil livre, o Brasil do socialismo. Hoje, trinta anos depois, no mesmo dia em que se recebe a estação da primavera, a União da Juventude Socialista comemora suas três décadas de existência com a certeza de sua máxima jovialidade. São trinta anos de lutas, de histórias de vida, de compromissos e conquistas com o povo brasileiro.

A UJS brotou com a força de 600 jovens, em um ato público na Assembleia Legislativa de São Paulo, enquanto o Brasil vivia os últimos auspícios da sua cruel ditadura militar. Naquele ano de 1984, a UJS surgia junto a históricos movimentos de massa como o das Diretas Já, com ampla participação da juventude organizada de todo o país. A democracia alcançada por aqueles jovens enfrentou um Brasil ainda fragmentado, que buscava sua reconstrução institucional após a barbárie de décadas de um governo ditador.

Essa etapa de reorganização do estado brasileiro contou com a participação fundamental da UJS, principalmente no período de criação da Constituição de 1988. Os jovens socialistas tiveram voz e atitude decisiva, por exemplo, na elaboração do artigo quinto da carta magna, o que trata dos direitos e garantias fundamentais e da liberdade de expressão na sociedade brasileira.

As primeiras políticas públicas de juventude, dentro da constituição federal, também foram definidas a partir das lutas da UJS. A maior conquista da organização nesse período foi o voto aos 16 anos, um marco de cidadania e justiça em um país que, durante o regime de exceção, perseguiu, torturou e matou, prioritariamente, aqueles que eram mais jovens. Além de garantir o direito ao voto da juventude, a UJS enfrentou e venceu outras batalhas importantes durante a constituinte, evitando, por exemplo, o movimento que levava á redução da maioridade penal no Brasil.

Em 1989, a UJS apoiou pela primeira vez a eleição de Luís Inácio Lula da Silva à Presidência da República, integrando a frente popular que se consolidaria com o passar dos anos. Algum tempo depois, em 1992, a UJS estava na linha de frente dos movimentos de juventude que realizaram a campanha do “Fora Collor”, pintando as caras, denunciando a corrupção, mobilizando milhões de brasileiros nas ruas e gerando o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo.

A década de 1990 foi marcada pela luta contra o neoliberalismo, as privatizações, a falta de oportunidades e perspectivas para os mais jovens. Vale lembrar as altas taxas de desemprego entre a juventude durante esse período. Foi uma época de resistência intensa da UJS contra as políticas do presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi também o momento de desenvolvimento de outras lutas como a da meia-entrada dos jovens em eventos culturais e esportivos, a reivindicação do passe livre nos transportes das grandes cidades, a mobilização internacional contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e contra a subordinação do Brasil aos grandes mecanismos estrangeiros como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em 2002, a UJS contribuiu de forma vital na eleição de Lula, capitaneando a juventude de diversas regiões do Brasil a favor de um modelo popular e democrático para o governo do país. A entidade produziu o manifesto “Os meninos e o povo no poder”, abrindo caminho para a unidade dos jovens que elegeram Lula para o cargo mais alto do poder executivo nacional.

Com a chegada desse projeto político, a entidade requalificou as suas lutas e viveu um momento diferenciado da história brasileira. Enquanto o mundo enfrentava uma crise econômica internacional de grandes proporções, o Brasil conheceu avanços na sua estrutura social, no combate as desigualdades, na consolidação de uma democracia mais participativa e voltada aos que mais precisam. A UJS acompanhou essas mudanças, sintonizadas com a eleição de outros líderes progressistas em países vizinhos como a Venezuela, a Bolívia e a Argentina.

Em 2005, frente ao período de maior embate entre o governo popular de Lula e as forças conservadoras do país, a UJS teve a coragem e ousadia de defender o presidente e as mudanças sociais em curso, com uma grande marcha em Brasília e a denúncia do golpismo da mídia e dos grandes grupos econômicos. No segundo mandato do presidente, a UJS seguiu pressionando pelas mudanças estruturais avançadas, principalmente na área da educação. Frutos dessa mobilização foram a ampliação do ensino superior brasileiro, o aumento de vagas nas universidades federais, a política de cotas e a criação do Prouni (Programa Universidade para Todos).

A eleição de Dilma Rousseff presidenta da República, a primeira mulher a ocupar o cargo no Brasil, também contou com o apoio da UJS. Durante o seu governo, a entidade teve papel determinante na busca por mais avanços educacionais, com destaque para a aprovação do Plano Nacional de Educação com 10% do PIB para o setor e a aplicação de royalties do petróleo e recursos do Fundo Social do Pré-Sal nessa área.

A UJS participou das manifestações de junho de 2013, em todo o Brasil, que levaram a juventude às ruas na luta por mais direitos e fizeram os governos rever políticas como a da tarifa dos transportes públicos e dos investimentos sociais. Vale ressaltar que o investimento de recursos do pré-sal para a educação chegou a ser vetado pelo governo Lula e foi somente aprovado após muita mobilização e pressão da UJS e outros movimentos. Foi também dessa forma que a entidade conquistou a aprovação da PEC da Juventude, que incluiu os jovens como sujeitos de direitos na Constituição Federal, e do Estatuto da Juventude, após muito barulho no Congresso Nacional.

Hoje, a UJS se mantém firme em busca dos avanços democráticos para o Brasil. A entidade defende transformações mais profundas, compreendendo que as políticas populares dos últimos 12 anos foram apenas o começo, uma porta de entrada para o futuro que a juventude deseja e espera. A geração de jovens brasileiros que se organiza, que milita em todas as regiões do país têm a consciência de que é necessário seguir corajosamente para alcançar um país realmente soberano, democrático e socialmente justo.

A UJS apoia a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, sabendo que é a única candidatura que representa esse modelo e que permite essas transformações para o país. É hora de reunir as experiências da última década para a promoção de políticas ainda mais avançadas, de reformas democráticas e progressistas que realmente alterem as estruturas ainda distorcidas da sociedade brasileira.

A UJS quer uma reforma política que garanta maior participação dos jovens, das mulheres, dos negros e índios, sem o financiamento de empresas, com inclusão e sem o domínio do poder econômico. Defende também uma ampla reforma na educação do país, melhorando a qualidade da educação básica e a cobertura do ensino superior, uma reforma urbana nas cidades brasileiras, com a ampliação da mobilidade, a construção de espaços mais humanos e a livre ocupação.

A luta pela educação, nos próximos anos, também precisa considerar a importância do desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, do crescimento da pesquisa e das tecnologias produzidas em solo brasileiro. É fundamental lutar pelo desenvolvimento do país com mais infraestrutura, mais redes de comunicação, acesso à internet, banda larga para todos e outros instrumentos que possam aproveitar todo o potencial criativo do povo brasileiro.

Os jovens socialistas também querem nova prioridade nas políticas de segurança pública, com atenção especial aos milhares de jovens negros e pobres mortos a cada ano por todo o Brasil. A UJS quer o fim do auto de resistência no país. A entidade também quer a revisão da atual política de combate às drogas, que permite o ciclo de violência contra a juventude nas favelas e periferias brasileiras enquanto protege os poderosos interesses econômicos dos grandes traficantes internacionais.

A entidade também se mantém na linha de frente da luta contra o machismo, o racismo e a homofobia, defendendo a liberdade religiosa, o estado laico e combatendo todas as formas de intolerância na sociedade brasileira. A defesa do meio-ambiente e da diversidade brasileira também está na pauta da UJS. Vale lembrar que esse é um tema antigo dentro da entidade, que chegou a levar o movimento dos “Jovens Curupiras” para os debates da Eco 92, a conferência ambiental global que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992.

Os sonhos de 30 anos da UJS estão reunidos no mesmo lugar. O tempo não feriu a chama acesa por aqueles 600 jovens de 1984, que se multiplicaram em dezenas de milhares de militantes em luta por todo o Brasil. Em cada grande ou pequena cidade, em cada zona rural ou periferia urbana, nas universidades, nos grupos da cultura, do esporte, em todos os espaços a UJS se faz presente, ainda aprendendo com a juventude e representando os seus mais avançados desejos.

A luta é do tamanho do Brasil e inspira apaixonadamente todas aquelas e aqueles que empunham a bandeira do socialismo. A UJS aguarda pela manhã de um novo tempo, um tempo em que os jovens convivam em um mundo de iguais, sem exploradores ou explorados, sem opressores e oprimidos, um mundo em que a positividade e a solidariedade sejam os valores máximos.
Já são aqui trinta anos sonhando esse mesmo sonho, que parece cada vez mais real e próximo. A UJS é a aurora de uma noite de esperanças, como diz o poeta Castro Alves nos versos:

“Toda noite – tem auroras
Raio – toda a escuridão.
Moços, creiamos, não tarda
A aurora da redenção”


Moços, moças, moçxs, jovens de todos os cantos desse nosso mundo chamado Brasil. Vamos em frente, vamos juntos em direção a mais 30, 50 ou quantos anos forem necessários. A nossa aurora tarda, mas não falha.

Vida longa à brava e inabalável militância da União da Juventude Socialista!

*Renan Alencar é presidente da União da Juventude Socialista