Paul Craig Roberts: “Ocidente pavimenta estrada para guerra”
Declarações oficiais do governo russo indicam que o presidente e o ministro do exterior continuam a confiar na boa vontade de seus “parceiros ocidentais” para o desenvolvimento de uma solução diplomática razoável para o problema ucraniano causado por Washington.
Por Paul Craig Roberts*, no Institute for Political Economy
Publicado 11/09/2014 17:38
Não apenas não existe qualquer evidência de boa vontade nas capitais ocidentais como as medidas hostis contra a Rússia seguem aumentando. Além disso, essas medidas hostis aumentam mesmo quando se torna claro que seus efeitos são desastrosos para a Europa.
Por exemplo: o presidente 'socialista' da França resolveu seguir caninamente as ordens de Washington e se recusou a entregar para a Rússia navios que está construindo sob contrato. As notícias sobre o assunto são tão mal relatadas que não dão conta se a Rússia já pagou pelo navio ou se o pagamento ainda está à espera de complementação. Se a Rússia ainda não pagou, então a falha na entrega causará danos apenas para quem financiou a construção do navio. Se a Rússia já pagou, então o imbecil presidente francês colocou a França em flagrante violação de contrato e sob a lei internacional o país estará sujeito a pesadas sanções financeiras.
Não está claro como isso prejudicaria a Rússia. São as forças estratégicas nucleares da Rússia que o ocidente tem que temer, não porta-helicópteros. A lição que Hollande está dando para a Rússia é a seguinte: não faça negócios com a França ou qualquer outro país da Otan.
A Rússia pode simplesmente colocar de imediato a violação contratual em julgamento. No caso a França deverá sofrer sanções com penalidades cujo valor pode exceder o próprio valor do contrato, ou então o ocidente estará provando que em suas mãos a lei internacional não passa de um amontoado de palavras sem sentido. Se eu fosse a Rússia desistiria tranquilamente dos navios porta-helicópteros apenas para deixar estabelecido esse ponto.
Atualmente a França tem apenas um líder: Marine Le Pen, a qual, embora seu apoio tenha crescido exponencialmente, não está no poder. Le Pen disse que a atitude subserviente de Hollande para com Obama “acarretará um custo enorme para a França: a perda de milhões de horas trabalhadas e uma multa entre 5 a 10 bilhões de euros”.
Hollande tenta justificar sua submissão abjeta aos EUA com uma mentira:
As ações da Rússia no leste da Ucrânia transgridem princípios fundamentais da Segurança Europeia.
Ocorre exatamente o oposto. São as ações estúpidas de Hollande, Merkel e Cameron que colocam em perigo a Segurança Europeia ao permitir que os EUA continuem com a sua rota de guerra contra a Rússia.
Tomando-se por base as reportagens (pelo que elas valem), os EUA e seus fantoches da União Europeia estão preparando mais sanções contra a Rússia. Levando-se em conta a incompetência crônica de Washington e Bruxelas, é incerto quem será mais prejudicado com tais sanções, se Rússia ou Europa. O que importa é que a Rússia nada fez para merecer que as sanções lhe sejam impostas.
As sanções baseiam-se na mentira dos EUA afirmando que, nas palavras de Obama (3 de setembro) “forças russas de combate, com armas russas e tanques russos” instalaram-se no leste ucraniano.
Conforme relato do professor Michel Chossudowsky no Global Research, observadores da OSCE (Organization for Security ond Cooperation in Europe – Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) “não houve registro de tropas, munição ou armas que tenham cruzado a fronteira entra a Rússia e a Ucrânia nas últimas duas semanas”.
As passagens seguintes são relatos do Professor Chossudovsky baseadas nas conclusões da OSCE:
O relato da OSCE contradiz as declarações do regime de Kiev e de seus padrinhos EUA e Otan. Confirma que as acusações que se referem ao fluxo de tanques russos não passam de uma mentira deliberada.
A Otan deu apoio para as declarações de Obama, baseadas em imagens falsas de satélite (28 de agosto ode 2014) as quais supostamente mostrariam forças russas engajadas em operações de combate no interior do território soberano da Ucrânia. Estas declarações foram refutadas detalhadamente por relatos da missão de monitoramento da OSCE estacionada nas fronteiras entre a Rússia e a Ucrânia. Os relatórios da Otan que se basearam nas fotos de satélite construíram uma evidência falsa.
Note-se como importante que a OSCE monitoriza cuidadosamente os movimentos através da fronteira, movimentos estes que consistem na maioria em refugiados.
Tal como no Iraque, Afeganistão e Líbia, atacados com base em mentiras evidentes e Síria e Irã, que estão na mira de outros ataques também suportados em mentiras transparentes, as sanções contra a Rússia igualmente se apoiam apenas em mentiras descaradas.
De acordo com o UK Telegraph as novas sanções proibirão que todas as companhias estatais russas de defesa ou petrolíferas façam captação de recursos nos mercados europeus de capital. Em outras palavras qualquer empresa petrolífera em operação na Rússia também pode ser excluída desse mercado. Ninguém ficará imune.
Uma das possíveis respostas russas a tal sanção pode ser o confisco de qualquer empresa ocidental em operação na Rússia como forma de compensação para o eventual prejuízo causado pelas sanções infligidas ao país.
Outra resposta pode ser voltar-se para a China na busca por financiamento.
Ainda outra pode ser o financiamento próprio para a indústria de energia e defesa. Se os Estados Unidos podem imprimir dinheiro para manter quatro ou cinco megabancos à tona, a Rússia pode muito bem imprimir dinheiro para financiar suas necessidades.
A lição que Washington está proporcionando para grande parte do mundo é que um país tem que estar completamente louco para fizer negócios com o ocidente. O ocidente usa os negócios de forma hegemônica para punir, explorar e saquear. É incompreensível que depois de tantas lições amargas ainda existam países que recorrem ao FMI para empréstimos. É impossível não ter consciência atualmente que os empréstimos do FMI tem dois propósitos: o saque do país pelo ocidente e a subordinação do país à política hegemônica ocidental. Pois mesmo assim, governantes imbecis ainda candidatam-se para os empréstimos do FMI.
Toda a escalada da situação ucraniana é trabalho dos Estados Unidos, União Europeia e Kiev. Aparentemente, Washington interpreta a resposta moderada da Rússia como se o governo russo estivesse intimidado. Mas, quando Putin tem todas as cartas na mão, pode destruir a Europa simplesmente desligando a torneira do fluxo de gás natural e pode reincorporar a Ucrânia inteira de volta para a Rússia em apenas duas semanas ou menos, como pode os EUA vir a impor seja o que for?
Será que a Rússia está tão desesperada para fazer parte do ocidente que sucumbirá, transformando-se em apenas mais um dos Estados fantoches de Washington?
*Economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século 21, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch e no Information Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.
Fonte: Blog Redecastorphoto