Para Singer, Marina expressa ‘seu compromisso com a direita’
Para o cientista político e professor da USP, André Singer, a posição entreguista da candidata Marina Silva (PSB) é uma expressão de seu compromisso assumido há algum tempo com os setores direitistas, e não tem nada de novo na sua política.
Publicado 10/09/2014 17:34
“O tipo de movimento que Marina está fazendo hoje, de assinar esse tipo de compromisso com setores da direita, apenas reflete ou expressa de maneira mais clara à opção que ela já fez há um bom tempo, esses movimentos não são novos”, disse Singer em entrevista ao jornal Brasil de Fato.
Segundo ele, a fragilidade de Marina começa a aparecer quando ela não responder questões como: o que ela pensa em fazer? Qual é o seu projeto de país? O que ela representa?. “Já começaram a aparecer questionamentos sobre a consistência das propostas dela, tanto das outras campanhas como da própria imprensa. Eu acho que o eleitorado vai pensar nessas semanas que nos separam do primeiro e segundo turnos. Quanto ao Aécio Neves eu diria que hoje, com os dados que temos, é difícil imaginar que ele consiga reverter essa situação”, avaliou.
Singer compartilha da mesma avaliação feita pela campanha de Dilma de que, se eleita, Marina teria uma base partidária muito frágil, diante da sua proposta da política do “eu sozinho”. “Na prática, as dificuldades para ela serão enormes porque a governabilidade, em alguma medida, passa por uma maioria congressual. Sem isso, ela vai ter que negociar com os partidos que lá existem. Como ela se colocou no centro ideológico da disputa, a questão então será de saber pra que lado ela fará essa composição. Ela teria que ser muito pouco realista para entrar por um caminho de desconhecer as forças políticas representadas no Congresso nacional”, enfatizou o cientista.
Ninho no PSDB
Ele afirma que sem apoio Marina vai se aninhar no PSDB. “Ela pode tentar essa composição com forças heterogêneas que estejam em diversos partidos, mas me parece um caminho muito arriscado e pouco promissor. Se ela vencer, terá que partir pra uma composição partidária mais sólida do que essa de pegar nomes aqui e ali de maneira fragmentada”, frisou.
Sobre a questão econômica do governo Dilma, Singer afirma que houve avanços, mas de forma gradual. “Eu não concordo com a ideia de que o ciclo se esgotou, mas que ele se confrontou com uma situação bem mais difícil do que vinha enfrentado no período anterior, que a economia mundial estava crescendo e valorizando rapidamente as commodities brasileiras”, disse.
A reforma política é considerada por Singer como um passo importante e promissor. “Acredito que ela aponta na direção de uma transformação necessária e muito positiva e que fundamentalmente passa pela questão de democratizar a democracia. A democracia é um regime político insuperável do ponto de vista dos interesses populares, mas ela está sempre em movimento, não é uma obra acabada e encerrada e tanto pode sofrer pressões tanto no sentido de ser colonizado pelo dinheiro quanto no sentido de ser reapropriado pela própria população. No caso brasileiro, a reforma me parece fundamental porque embora tenhamos aspectos democráticos muito interessantes, como o referendo, as conferências nacionais e essa proposta de formalização dos mecanismos de participação por meio dos conselhos, as campanhas eleitorais são das mais caras do mundo e o sistema de financiamento delas se transformou em um sistema empresarial”, argumentou Singer.
Fonte: Escrevinhador