Natalia Kovalenko: Os perigos de um cemitério nuclear em Tchernobil
Teve início na Ucrânia um projeto de construção de um depósito único e centralizado para combustível nuclear usado. Os resíduos nucleares, que antes eram transportados para a Rússia para reciclagem, serão armazenados na Ucrânia.
Por Natalia Kovalenko*, na Voz da Rússia
Publicado 28/08/2014 14:30
O cemitério será construído na zona de exclusão de Tchernobil, num território onde há 28 anos um acidente na usina nuclear alterou todas as formas de vida existentes. Ainda recentemente as autoridades ucranianas anunciaram a criação de uma reserva natural nessa zona.
Estava planejada a estabilização do regime hídrico e a limpeza dos solos poluídos com radionuclídeos. Na região já não vivem pessoas há muito tempo, por isso aí poderia ser criada uma excelente reserva natural.
Mas as ambições políticas abafaram as vozes dos ambientalistas e do bom senso em geral. Na ânsia de romper todos os laços com Moscou, Kiev decidiu construir em Tchenobil um depósito de lixo nuclear.
O projeto foi atribuído aos norte-americanos, claro, nomeadamente à empresa Holtec International. O combustível usado das três usinas nucleares, que antes era enviado para transformação na Rússia, será agora acumulado na Ucrânia.
Na realidade, Kiev transfere o problema para cima dos ombros das gerações futuras, de acordo com o analista político Vladimir Evseiev. “Temos de entender que o ideal é o combustível nuclear usado ser reciclado. Durante o processo de transformação desse combustível são extraídos os materiais que podem ser reutilizados, como o urânio-235, enquanto os restantes serão depositados. A Ucrânia não está planejando isso. Na ausência dessa transformação, pode acontecer a liberação de material radioativo na atmosfera ou seu vazamento para as águas subterrâneas. Isso irá provocar a contaminação de uma área considerável.”
Mas a Ucrânia só está preocupada em pagar menos à Rússia por produtos e serviços, mesmo prejudicando sua própria segurança. Ela preferiu até comprar as barras de combustível para as usinas nucleares de fabricação soviética e russo aos Estados Unidos, à tristemente famosa Westinghouse, com a qual já tiveram problemas tanto os tchecos, como os próprios ucranianos.
O analista político Vladimir Evseiev lembra que “o combustível nuclear da companhia norte-americana Westinghouse foi produzido com recurso à espionagem industrial. A sua semelhança com o combustível nuclear russo é bastante elevada, mas suas características de exploração são consideravelmente diferentes. No passado, durante a utilização desse combustível numa usina nuclear ucraniana, ocorreu uma paragem de emergência de dois reatores. O combustível foi extraído da zona ativa com dificuldade. Apenas a ajuda de especialistas russos conseguiu evitar um acidente grave.”
Moscou avisa que esse tipo de experiências na área nuclear pode acabar mal. As decisões políticas precipitadas de Kiev aproximam não apenas a Ucrânia de uma catástrofe tecnológica, as consequências desse passo poderão ser sentidas por toda a Europa. O presidente da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o presidente suíço Didier Burkhalter, já expressou sua preocupação a esse respeito.
*Articulista da emissora pública de rádio Voz da Rússia