Debate entre os presidenciáveis: Dilma é o alvo

O primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República na noite desta terça-feira (26) na TV Bandeirantes, com o aumento do número de participantes,  se estendeu por mais de três horas, entrando pela madrugada da quarta-feira (27). A presidenta e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) foi o alvo preferido, inclusive dos jornalistas da Band, que se valiam do candidato tucano, Aécio Neves, para atacar as iniciativas do governo de regulamentação da mídia e participação popular. 

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 A variedade de temas abordados e o número de candidatos impediram o aprofundamento da abordagem dos assuntos. Os candidatos também procuraram falar mais sobre a mensagem que queriam levar ao eleitor do que responder as perguntas que, na maioria das vezes, chegavam à provocação. As polêmicas maiores envolveram principalmente os três candidatos mais bem posicionados na pesquisa de intenção de voto. Além de Dilma Rousseff e Aécio Neves, Marina Silva (PSB) foi cobrada sobre suas posições.

As regras do debate impediam que um mesmo candidato fosse questionado mais de duas vezes em um mesmo bloco, para garantir que todos os demais candidatos participassem. O pastor Everaldo (PSC) defendeu o Estado mínimo, enquanto a candidata da Psol, Luciana Genro, anunciou que, se eleita, iria enfrentar o capital financeiro, acusando todos os demais candidatos de produzirem o mesmo modelo macroeconômico, que beneficia o capital e penaliza o trabalhador.

A presidenta Dilma foi a única que fugiu aos discursos subjetivos e às frases feitas de defesa da saúde, educação, segurança e infraestrutura. Ela apresentou os programas e ações que estão sendo realizados por seu governo, dando continuidade aos projetos do ex-presidente Lula, e apontou para avanços e aprofundamentos nas mudanças até aqui implementadas.

Ela citou por diversas vezes o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) para defender a educação como a base para o novo ciclo de desenvolvimento do país.

Novo ciclo de crescimento

No bloco em que os jornalistas perguntavam aos candidatos, o jornalista Boris Casoy perguntou a Dilma, com réplica de Aécio, sobre a economia. Dilma disse que o Brasil enfrenta uma crise internacional e que ela refez a velha receita que desemprega, arrocha salários e aumenta impostos e tarifas para o enfrentamento da crise. “Nos recusamos a fazer isso, mantemos o nível de emprego e a inflação sob controle. Ela está na mesma situação do que ocorreu nos últimos nove anos”, afirmou.

“Criamos as condições para um novo ciclo de crescimento, investindo em infraestrutura e educação, como o governo está fazendo. É inequívoco que as pessoas hoje têm mais oportunidades. O filho do trabalhador pode virar doutor”, disse, enfatizando que a educação é o caminho para o nosso futuro. E citou programas como Ciências sem Fronteiras, Pronatec, entre outros, que pretende ampliar em seu segundo mandato.

Aécio tentou ironizar e insistiu em falar sobre o aumento da inflação. Dilma acusou-o de ignorar a crise econômica mundial e indagou: “Hoje, tem ou não tem mais empregos? Tem ou não tem mais comida? Tem ou não tem mais proteção? Tem ou não tem mais moradia? Eu peço ao eleitor para comparar com o que ocorria no Brasil a 12 anos atrás”.

Os jornalistas da Band criticaram a proposta de regulamentação dos meios de comunicação, usando o argumento de que representa ameaça à liberdade de imprensa. A presidenta Dilma explicou que a liberdade integral dos meios de comunicação é básico, mas como todos os setores, (a mídia) tem que ter regulação econômica, não pode ter monopólio e precisa cumprir o seu papel. Ela lembrou que as agências reguladoras, a exemplo do que ocorre para energia elétrica, telecomunicação, petróleo, servem para mídia e para todos os demais setores.

Acusação leviana

Aécio tentou mais uma vez provocar a presidenta Dilma, pedindo que ela se desculpasse pela gestão da Petrobras, que ele considerou como temerária. Dilma classificou a acusação dele como “leviandade” e disse que ele desconhecia a Petrobras.

Dilma lembrou que foi durante os governos Lula e dela que a Petrobras descobriu e explorou o pré-sal, o que aumentou seu valor e transformou-a em uma das maiores empresas do mundo. E ironizou: “Não fomos nós que tentamos mudar o nome para Petrobrax e nem afundamos uma plataforma e nem investigamos sobre a troca de ativos da Petrobras com uma empresa argentina”, citando os casos suspeitos que envolvem a administração da Petrobras pelo governo tucano.

“É uma leviandade tratar a empresa dessa forma”, disse a presidenta, destacando que “quem investiga a Petrobras é a Polícia Federal porque o compromisso do meu governo é a luta contra a corrupção. Nós não escondemos debaixo do tapete e ser acusado de ter uma relação com o procurador-geral da República que era chamado de engavetador-geral da República”, afirmou a presidenta.

Para ter oportunidade de falar sobre os projetos para a produção de energia, Dilma perguntou ao Pastor Everaldo sobre o assunto. Ao exemplo do que dizia para tudo, o candidato do PSC defendeu o Estado mínimo e a transferência para a iniciativa privada de todos os setores econômicos. “Vamos liberar o mercado”, repetia.

Dilma defendeu o planejamento e a gestão da energia elétrica, lembrando que “a última vez que não houve planejamento tivemos racionamento de proporções gigantescas”, em referência ao apagão ocorrido no governo de Fernando Henrique Cardoso. Para atender à demanda dos próximos anos, ela defendeu a energia eólica como uma das alternativas que está sendo implantada pelo governo.

O Pastor Everaldo perguntou a Dilma sobre a reforma tributária. Ele disse que defende a reforma tributária, mas que é preciso construir maioria parlamentar e dialogar com os governadores para fazer a reforma, mas que o seu governo tomou iniciativas como desonerar a cesta básica e, para garantir os empregos, diminuir impostos das empresas sobre o trabalhador. E destacou a importância da universalização do Simples, reduzindo a tributação do microempreendedor individual.

O programa, que reuniu sete dos 11 presidenciáveis, foi dividido em seis blocos e conduzido pelo jornalista Ricardo Boechat. Estiveram presentes nos estúdios da Band, no Morumbi, em São Paulo: Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB-Rede), Aécio Neves (PSDB), Pastor Everaldo (PSC), Luciana Genro (Psol), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB).

Ao chegar ao evento, Dilma disse que esperava um debate proativo e propositivo. E anunciou que havia se preparado de forma intensa “porque temos muitos programas a apresentar”, acrescentando que “mas ainda temos muito o que fazer.”

Tudo deu certo

No primeiro bloco, todos os candidatos responderam a uma pergunta única, sobre a segurança pública, considerada uma das principais demandas da sociedade brasileira atualmente. As respostas dos candidatos se resumiam a uma generalização enquanto eles procuravam se apresentar.

Marina Silva falou sobre a morte de Eduardo Campos. O microfone muito baixo não favoreceu a candidata, que abaixou a cabeça, sem olhar para o eleitor. Aécio Neves defendeu a mudança do Código Penal para, segundo ele, “acabar com a impunidade”, reproduzindo o discurso dos tucanos que querem reduzir a maioridade penal.

Dilma Rousseff disse que embora a competência constitucional da segurança pública seja dos estados, ela deve ser compartilhada com a União para responder à população. E usou o exemplo do que foi feito na área de segurança durante a Copa do Mundo. Segundo ela, a integração entre todos os órgãos da segurança resultou em grande vitória na segurança da Copa.

No segundo bloco, quando os candidatos perguntavam uns aos outros, a dinâmica foi maior. Marina Silva perguntou à candidata Dilma Rousseff porque não deram certo os pactos anunciados pelo governo após as manifestações de rua em junho do ano passado.

Ao contrário de Marina, Dilma disse que tudo deu certo. Na educação, conseguiu aprovar mais recursos para o setor oriundos da exploração do pré-sal; fez o Mais Médicos, com mais profissionais de saúde no interior e teve o compromisso com a estabilidade econômica, com redução da inflação.

Sobre a reforma política, a presidenta disse que enviou proposta para o Congresso, que não foi aprovada, o que a levou a defender a participação popular e um plebiscito para definição do assunto.

De Brasília
Márcia Xavier