Economia com Dilma ‘melhorou efetivamente’, diz Renato Meireles

Em entrevista ao jornal espanhol El País, o fundador da Agência Data Popular, Renato Meireles, fez uma análise das intenções de voto, do peso da questão econômica no processo eleitoral e destaca que a chamada classe C vai definir a eleição. O Data Popular é especializado em pesquisas com a população da baixa renda.

renato Meireles

Classificando a população por faixas numa pirâmide, em que a base é formada pela população mais pobre e o topo pelos mais ricos, Meirelles diz que Dilma tem o eleitorado da classe D e E, não teria da classe A e B e decidiu priorizar a classe C. “Aécio Neves tem o voto da classe A e B, não teria o da D e E e prioriza a classe C. A Marina não tem esse voto da classe C. Ela tem o voto da classe média revoltada, mais jovem e escolarizada, que estava votando nulo até então, tem o voto mais básico, evangélico, dos menos escolarizados, e não tem o voto da classe C”, analisa.

Meirelles destaca que a chamada classe C representa 54% do eleitorado e vai definir a eleição. “Por si só é maioria absoluta do eleitorado. Temos consolidados os votos na classe D e E e na A e B.Temos uma maioria da classe C que é Dilma, obviamente. Se não a Dilma não ia ter a votação que tem. Mas não significa que ela esteja satisfeita com os rumos do país. Ela está em busca de uma alternativa de mudança. Se essa alternativa vai ser a própria presidente Dilma, se vai ser o Aécio ou a Marina, os próximos dias vão dizer”, enfatiza.

Imagem de Marina

“A imagem simbólica da Marina é maior do que ela como candidata”, diz ele, destacando que o eleitor quer saber mesmo quais são as soluções que tanto ela, como os seus adversários, vão apresentar para melhorar os serviços públicos dos quais ele depende: de saúde, à educação, transporte público. “As pessoas querem alguém que dê o suporte e as ferramentas necessárias para que, por mérito próprio, ele melhore de vida”, afirma.

Meirelles diz que a inflação, utilizada como instrumento de terror na campanha dos tucanos e ecoado na campanha de Marina, tem peso entre os eleitores mais pobres. Segundo ele, a inflação, diferente da taxa Selic, é perceptível por esta faixa da população. “O Brasil passou uma década com uma economia crescendo e com as pessoas conquistando coisas que não conquistavam antes. As pessoas estão assim: o Lula entrou, o país crescendo, a economia bombando, as pessoas achavam que a vida ia continuar melhorando na mesma velocidade que em 2010. Ela melhorou. Mas numa velocidade muito menor. Só que a expectativa da pessoa ficou lá em cima”.

Política de valorização do salário mínimo

Segundo ele, a economia com Dilma continuou a crescer. “Melhorou, efetivamente. Melhorou a renda média dos trabalhadores, o número de universitários cresceu. Objetivamente, melhorou. Só que imagina o seguinte: você está numa estrada a 120 por hora. Aí você vê aquela placa: Reduza a 70km/h. Aí você reduz. Qual é a sensação? Que você está parado. A sensação térmica é que o Brasil está parado”, avaliou.

Mas ele ressalta que a inflação é importante, mas existem outros pontos que o eleitor vai considerar. “A política de salário mínimo coloca muito mais dinheiro na economia que o Bolsa Família. Ou seja, é muito mais importante para distribuição de renda que o Bolsa Família. Para efetivamente conseguir controlar a inflação e conseguir dar aumento real do salário mínimo, o desafio é a produtividade. Ou eu aumento a produtividade, ou eu só vou ter como política de controle da inflação aumento de juros”, declarou Meireles.

Jovens

Sobre o jovem, ele destaca que hoje existe uma perspectiva diferente. “Essa eleição não é uma eleição de futuro, é uma eleição de legado. O papel desses jovens é muito maior do que em outras eleições. É um jovem mais escolarizado do que o pai, ele é um jovem que contribui mais pra renda familiar da classe C que o jovem da classe A, ele é um jovem muito mais conectado que os pais, ele tem o dobro de conexão comparado à geração dos pais dele. Está muito mais interessado em saber o que vai ser daqui pra frente do que foi até aqui. Por isso a discussão não é de legado. Só um terço do eleitorado tem condições de comparar o Governo Fernando Henrique com o Governo Lula”, comparou.

E finaliza: “É preciso pensar políticas públicas para esse jovem, ele não quer mais dentadura, ele quer Plano Nacional de Banda Larga. Ele não quer cesta básica, ele quer Prouni. Para esse eleitor, que é digital, enquanto a classe política é analógica, completamente desconectada, é um grande desafio de políticas públicas e de manutenção da democracia no Brasil”.

Fonte: El País