Ocidente versus Rússia: isolamento é impossível
Neste momento não existe uma ameaça militar direta à soberania ou à integridade da Rússia. Mas não cessam as tentativas de desestabilizar a situação dentro do país. Os russos não irão permitir no seu país uma repetição do cenário usado pelo Ocidente nos países fracos, diz Vladimir Putin. O presidente fez essa afirmação na reunião do Conselho de Segurança da Rússia.
Por Igor Siletsky, na Voz da Rússia
Publicado 23/07/2014 19:11
Entretanto Washington ameaça Moscou com o isolamento internacional. Será capaz o Ocidente de executar suas ameaças numa situação de uma nova realidade mundial?
Moscou cumpre com rigor as normas do direito internacional e suas obrigações perante os parceiros. Contudo, relativamente à Rússia, assim como a outros países, cada vez mais se ouve a linguagem dos ultimatos e das sanções.
O próprio conceito de soberania nacional está sendo diluído, e os regimes incômodos, assim como os países que têm uma política independente, ou simplesmente são obstáculo aos interesses de alguém, são desestabilizados. Para isso são usadas as chamadas “revoluções coloridas” ou, se chamarmos as coisas pelos seus nomes, golpes de Estado, afirmou o presidente russo. Esse cenário não irá funcionar na Rússia, disse Vladimir Putin:
“Se regressarmos aos cenários desse tipo em geral, isso é completamente inaceitável e contraproducente. Isso destrói a atual ordem mundial. Sem qualquer dúvida, esses métodos diretos contra a Rússia não irão funcionar. As receitas que funcionam contra países fracos, falhados, minados por contradições e conflitos internos, não funcionarão no nosso país. Os cidadãos da Rússia não o permitirão.”
As relações das capitais europeias com Moscou, já de si difíceis devido à crise ucraniana, ainda se deterioraram mais depois da catástrofe do Boeing malaio. Kiev, e seguidamente Washington, declararam que o avião tinha sido abatido pelos milicianos de Donetsk, quase com a ajuda direta de militares russos.
Sobre a razoabilidade das autoridades de Kiev nem vale a pena falar. Mas neste caso também o Ocidente se comporta de forma pouco razoável: ele ignora mesmo os dados do controle objetivo apresentados pela Rússia e, sem qualquer investigação, designam Moscou como culpada pelo incidente. Na opinião dos analistas, isso apenas corrobora a versão de a queda do Boeing ter sido uma provocação planejada pelos estadunidenses. Não é difícil explicar qual é o interesse dos EUA nessa jogada, considera o diplomata russo Valeri Morozov:
“Se for possível confirmar, de fato ou no plano informativo, que a culpa é da parte russa, direta ou indiretamente, pelas mãos dos rebeldes, então os EUA conseguirão convencer a Europa a aprovar sanções mais duras e setoriais. Ficará a Rússia isolada? Penso que não.”
Segundo Morozov, a recente viagem de Vladimir Putin à América Latina demonstrou mais uma vez que na atual situação é impossível isolar a Rússia. Moscou tem contatos estreitos e apoio da parte de seus parceiros do BRICS – Brasil, Índia, China e África do Sul. Portanto, nunca ficaria num isolamento total.
Mas as sanções, em si mesmas, são uma coisa desagradável, refere o analista político Vladimir Evseev:
“Os processos internacionais, a que atualmente assistimos no norte de África e no Oriente Médio e Próximo, dizem-nos que o período de dominação global dos EUA está terminando. Nessas condições os EUA não conseguirão isolar a Rússia. Mas poderão criar muitos problemas à Rússia.”
Moscou espera que os legítimos interesses nacionais da Rússia serão, mesmo assim, tidos em conta e que ninguém irá interferir nos seus assuntos internos. No entanto, a Rússia está preparada para qualquer evolução dos acontecimentos. Vladimir Putin declarou na reunião do Conselho de Segurança russo que já é tempo de empreender novos passos para uma redução da dependência da economia nacional e do seu sistema financeiro da instabilidade dos mercados globais e dos riscos políticos.
Mas como o Ocidente não só ameaça com sanções, mas faz igualmente demonstrações de força junto às fronteiras russas, Moscou irá continuar reforçando a capacidade de defesa do país. A Rússia não é parte de qualquer aliança militar e isso, nas palavras do presidente, também é de forma significativa uma garantia da sua soberania, porque qualquer país ao entrar numa aliança cede uma parte da sua soberania. O que em muitos casos não favorece seus interesses nacionais.
Fonte: Voz da Rússia