Mídia de Israel destaca apoio à ofensiva "apesar das consequências"
Recentemente tem sido noticiado o hábito adquirido por israelenses de Sderot, reunidos para assistir aos bombardeios que já mataram mais de 500 palestinos em duas semanas. O jornalista experiente na região Robert Fisk pontuou que seis mil entre o 1,7 milhão de habitantes da Faixa de Gaza descendem de refugiados de Sderot, antes chamada Huj. Ou seja, os massacres sucedem-se na história, mas é o apoio às ofensivas que recebe destaque na mídia israelense.
Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
Publicado 21/07/2014 16:04
Embora se proliferem as vozes que apelam pelo fim da ofensiva, inclusive com manifestações na moderna Tel-Aviv, cidade litorânea hoje em território israelense, grande parte da mídia em Israel – salvo exceções como o jornal Haaretz e a revista eletrônica independente +972, por exemplo – tem pontuado a tendência de apoio ao que foi classificado como uma “guerra de necessidade” travada pelo governo agressivo de Benjamin Netanyahu contra os palestinos.
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O termo foi empregado por Ron Ben-Yishai, um “correspondente de guerra” do Ynet News, a versão eletrônica do jornal mais lido em Israel, Yedioth Ahronoth, em sua coluna de sexta-feira (18), um dia após a ordem do primeiro-ministro Netanyahu e do ministro da Defesa Moshe Ya'alon para a invasão terrestre de Gaza.
O cargo que se dedica a inflar sentimentos ultranacionalistas, sensacionalistas e extremistas entre os israelenses já havia sido identificado. Destaque é merecido, entretanto, pelas últimas três grandes ofensivas contra o enclave palestino, sitiado há sete anos. Entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009 foram 22 dias de bombardeios aéreos e de invasão terrestre que mataram mais de 1.400 pessoas; em novembro de 2012, oito dias de ataques aéreos mataram mais de 160 e, nas últimas duas semanas, a ofensiva aérea e terrestre já matou mais de 500 pessoas (veja abaixo a última lista de nomes das vítimas, com idades e local onde foram atingidas).
Ou seja, o número de vítimas fatais da incitação e da propaganda que sustenta a agressão israelense contra os palestinos já passa de dois mil, para aqueles que se afetam com números e estatísticas, ou não. Também deve ajudar a dar uma dimensão da situação o fato de a maior parte das vítimas serem civis, de as crianças mortas já serem quase uma centena, de os que foram forçados a deixar suas casas serem mais de 100 mil, de as escolas, lares, mesquitas hospitais, poços de água e emissoras destruídos completa ou parcialmente também já terem passado de dois mil. Para os meios oficiais, os números contam, ainda que para nada.
Repetição e massacre
O Conselho de Segurança se disse novamente “gravemente preocupado” após uma reunião de emergência e, assim como a mídia internacional, insiste em abordar a questão enquanto um “conflito” entre “duas partes”, ainda que esteja ciente da assimetria de poder, do bloqueio imposto por Israel (e acatado pelo Egito na sua porção da fronteira com Gaza), das suas capacidades militares – sustentadas pelos Estados Unidos – e da vulnerabilidade dos palestinos que, ainda assim, resistem, inclusive com armas. Entretanto, como são desqualificados pelo discurso oficial e midiático enquanto atores políticos, sobretudo no caso do Hamas, a sua “autodefesa” é retratada como “atividade terrorista”.
A repetição é constante. Em seis anos, Israel sentiu-se à vontade para retomar ataques aéreos constantes, ainda que só três tenham adquirido estatuto oficial através de nomes inventados e postos após o termo “operação”, como se isso significasse precisão, racionalidade e legitimidade militar. É preciso lembrar que os palestinos foram alvos dos bombardeios, sem grande alarde, muito mais vezes do que isso. A atual “operação”, inclusive, havia sido precedida de ataques aéreos nas semanas que causaram ao menos seis mortes, entre meados de junho e o dia do anúncio oficial, em 8 de julho, de acordo com as fontes diplomáticas palestinas.
Em 2008-2009, a estrela entre os “comentaristas de guerra” – como se tratasse de um “comentarista esportivo” – era Roni Daniel, que empregava todo o seu fôlego, na televisão israelense, para manter a máquina da propaganda aquecida, vestida em traje burocrático, enquanto as vítimas eram contadas às centenas. Na ofensiva atual, quando apenas no domingo (20) mais de 150 pessoas foram mortas – dezenas de membros da mesma família, inclusive crianças – a situação é a mesma.
“Apesar do temor de ferimentos graves e mortes entre os seus soldados, o público israelense está respaldando firmemente a operação terrestre de Israel em Gaza, e líderes na maior parte do espectro político se alinharam para o impulso,” diz o comentarista Nathan Jeffay em artigo para The Jewish Daily Forward, um diário eletrônico que se apresenta como judeu.
A ênfase é a mesma das ofensivas anteriores, embora a organização de soldados Breaking the Silence (Quebrando o Silêncio) já tenha denunciado que as ordens militares são dadas de forma difusa, sem informações suficientes e sem conhecimento dos objetivos concretos. Soldados que deram testemunho sobre a ofensiva de 2008-2009 disseram que não sabiam no que entravam ou que tinham a impressão de serem componentes de uma operação de teste de novos armamentos. Ainda assim, são usados enquanto ferramentas de propaganda nacionalista.
É verdade que há diversas vozes em Israel e na comunidade judaica em todo o mundo contrárias à opressão sistemática dos palestinos e que têm saído às ruas ou se manifestado pelas redes sociais e pela mídia alternativa contra a ofensiva criminosa das duas últimas semanas. Entretanto, enquanto o número de vítimas fatais entre os palestinos continua aumentando em ritmo acelerado diariamente, a propaganda de guerra de Israel segue cumprindo os seus objetivos.
Para manifestar algum esforço em quebrar o padrão "estatístico" da representação das vítimas fatais palestina, segue a última lista de nomes atualizada nesta segunda pela diplomacia palestina. Em vermelho, as idades das crianças vitimadas e, em maiúsculas, membros de uma mesma família.