Palestina é a causa central dos povos árabes, diz líder comunista
A Palestina está novamente sob o fogo indiscriminado de Israel. A ofensiva israelense das últimas semanas já provocou centenas de mortos, muitos deles crianças, em um conflito cujas causas repousam na dominação imperial.
Publicado 19/07/2014 08:12
Em entrevista exclusiva à Prensa Latina em El Salvador, o secretário geral do Partido dos Trabalhadores Comunistas Jordaniano, Mazzen Hanna, ressaltou que a cada dois ou três anos a Palestina sofre uma agressão de Israel e cada vez são mais agressivas e brutais. "A causa palestina é a causa central dos povos árabes porque a ameaça sionista vai bem mais além, pois na região persegue-se todo o movimento de libertação árabe e de esquerda", enfatizou o também secretário geral da Aliança de Comunistas Jordaniana.
Trata-se de uma situação muito complexa, na qual somam as facilidades da região para que seja agredida, assegurou.
O imperialismo e o sionismo têm aliados, como os grandes donos do petróleo e as forças de terror religiosas que governam o mundo árabe, ao contrário do que ocorre na América Latina, onde cresce a esquerda e os comunistas têm chegado ao poder apoiados por forças populares gigantescas.
"Como Cuba, Venezuela, Nicarágua e mais recentemente El Salvador", dimensionou Hanna, que foi recebido em El Salvador pelo secretário geral da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), Medardo González, e o presidente da Assembleia Legislativa, Sigfrido Reyes.
O imperialismo, que tem no sionismo um aliado essencial e cujos propósitos se estendem a outros confins do mundo, trabalha arduamente para liquidar a causa palestina, afirma.
"Nós estamos levando a cabo contra esses planos uma luta em todos os níveis, no contexto de uma situação que se fez bem mais complexa depois dos acontecimentos no Egito, Tunísia, Líbia e Síria", ressaltou.
A respeito do ocorrido na Líbia, assegurou que esse país não significava uma ameaça nos últimos anos para os Estados Unidos nem para ninguém, sobretudo a partir da entrega de suas armas químicas ao ocidente.
Na realidade, o apoio de Muamar Kadafi à causa árabe foi o que incomodou os imperialistas, enfatizou.
"A Líbia estava muito frágil, com estruturas velhas estagnadas no poder, e tinham muito espaço as forças tradicionais tribais, e se aproveitaram disso, mobilizaram as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e apresentaram a situação ali como se tivesse uma revolução popular", recordou.
Já na Tunísia, numa luta levada a cabo pela classe operária, foi possível derrubar o regime, mas o imperialismo, para poder conservar seus interesses ali, utilizou o exército e deu seu golpe, acompanhado pelas forças religiosas reacionárias, as quais são o fundamento do regime anterior, explicou.
O político, que é médico por profissão, acrescentou que o mesmo se passou no Egito, quando durante as primeiras duas semanas de protesto popular o Ocidente não emitiu nenhuma opinião, e esperava que Hosni Mubarak pudesse contornar a crise e ficar no poder.
"Quando se deram conta de que isso era impossível, mobilizaram o exército e permitiram ao islã político instalar-se e deram dois golpes de Estado, primeiro contra Mubarak e depois contra o presidente Mohamed Morsi", sublinhou.
As revoluções na Tunísia e no Egito obrigaram os imperialistas a mudar seus planos e aproveitaram os dois momentos para tratar de liquidar o movimento de libertação árabe em toda a região, assinalou Hanna.
Em sua opinião, no mundo árabe as forças de esquerda são perseguidas e reprimidas ao mesmo tempo em que o fundamentalismo religioso tem tomado força e espaço.
Depois da queda do campo socialista e da União Soviética, o imperialismo tratou de se introduzir em alguns países da Europa oriental, África e América Latina, afirmou o comunista e também escritor jordaniano, autor de cinco livros.
No entanto, em nossa região demorou duas décadas para aproveitar essa queda do socialismo pela questão palestina, porque a agressão sionista unifica os povos árabes contra o sionismo, enfatizou.
Quanto à Síria, afirmou Hanna, esse país representa o último baluarte da resistência árabe.
Ali não há movimentos reacionários fortes, por isso tiveram que levar 120 mil jovens de 48 países, terroristas islâmicos e reacionários, em uma tentativa de derrubar o governo sírio e dominar a região, afirmou.
Pensavam que ao implementar esse plano na Síria liquidariam a causa palestina porque debilitariam a resistência árabe, cortariam as unhas do Irã e tudo passaria ao domínio absoluto dos Estados Unidos, e Israel se converteria na única força na região, disse.
"Independentemente de que, como comunistas, estejamos de acordo ou não com alguns aspectos do governo sírio, o fato é que esse país está na trincheira anti-imperialista e antissionista", destacou.
Esse governo tem tido muitas conquistas de caráter econômico, financeiro, na agricultura, entre outros, que têm beneficiado a população, por isso que o plano imperial não deu certo e não conseguiu dividir o povo nem o exército, detalhou.
A Síria tem conseguido resistir também porque foi apoiada pelo povo árabe, pela resistência libanesa e pelo estímulo da Rússia, ressaltou.
Em meio a esta situação, assegurou que o mais perigoso neste contexto é a ausência da consciência e lamentavelmente se recrutam jovens de pouca idade que não defendem nem direitos reais nem causas justas, pois lhes fazem crer na falsa ilusão de que podem fazer um reino na terra que é o caminho para o reino do céu.
"Esse é um instrumento utilizado pelo imperialismo, financiam e vendem as ilusões", lamentou.
Para o político jordaniano, as forças de esquerda no mundo árabe, especialmente os comunistas, estão em uma fase transitória, pois após a queda do campo socialista se debilitaram, ao que se soma a fragilidade da classe operária e suas organizações sindicais.
Alguns partidos mudaram sua natureza, passaram de esquerda à direita, houve divisões, como no próprio Partido Comunista Jordaniano, que nos obrigou a sair e fundar o Partido dos Trabalhadores Comunistas Jordaniano.
Alguns se mantêm e estão na linha de fogo nesta luta e trabalhamos com eles, sublinhou.
Hanna chegou a El Salvador nesta semana, convidado pela embaixada da Nicarágua, e também para felicitar a direção da FMLN por seu recente triunfo eleitoral, compartilhar e desenvolver as relações entre os dois partidos.
E também, para aproveitar a experiência de outros povos e demonstrar "as nossas nações que há outros caminhos na luta pela justiça".
*Da sucursal da Prensa Latina em El Salvador.