Fátima Teles: Tempos líquidos, nada é para durar
Para Bauman (2010), o momento da história em que vivemos é marcado pela chamada modernidade liquida. Tudo é feito para não durar, dai se explicam o culto a aparência, ao ter, ao consumo, as relações amorosas descartáveis, a incerteza, a instabilidade geral e ao individualismo da humanidade.
Por Fátima Teles, especial para o Portal Vermelho
Publicado 18/07/2014 16:30
Vivemos apressados (as) em ser ou estarmos felizes e isso contribui para que não tenhamos paciência em solidificar nenhuma relação pela qual estamos inseridos (as). O ter sobrepuja o ser constantemente numa inversão de valores tão fortes, consequência do capitalismo predador a que estamos submetidos que já não buscamos mais ser alguém ou dar o melhor de nós para a construção da sociedade em que vivemos, mas nos importamos mais com o ter, ter algo, possuir algo ou alguém, como forma de afirmar-nos perante o poder, para sermos admirados pela sociedade que todo o tempo exige isso, como modelo de vida de seu contexto social.
Segundo o Bauman (2010), os nossos ancestrais tinham perspectiva de futuro e por isso plantavam, trabalhavam, tinham esperança no porvir. Eles queriam ser melhor do que a geração anterior e se esforçaram para deixar o mundo melhor para nós.
Nós não temos mais essa preocupação em ser melhor e deixar um mundo melhor para as gerações posteriores, pois vivemos como se não acreditássemos mais no amanhã. O futuro para nós é incerto e muitas vezes não acreditamos na sua existência. Não nos sentimos responsáveis pela construção de um mundo melhor. O nosso egoísmo faliu a nossa condição espiritual de espírito em evolução. Exigimos a felicidade para já. Queremos ser felizes hoje e a todo custo, ainda que alguém sofra ou chore, pois não sabemos renunciar. Estamos educando a nova geração para uma guerra civil. Serão lobos humanos devorando uns aos outros nas selvas de pedras, denominadas de Cidades ou centros urbanos.
Uma prova concreta dessa liquidez dos sentimentos citada por Bauman, é o mundo virtual. As amizades e os amores encontrados através das redes sociais perpassam por esse processo de descartabilidade das emoções e sentimentos. É muito comum ver pessoas terem milhares de amigos na sua rede social, como forma de demonstrar a sua capacidade de interagir ou comunicar-se e isso termina gerando uma forma de poder, quando na realidade nós só nos comunicamos com poucas pessoas, com aquelas que nós nos afinamos espiritualmente.
Se a bandeira da modernidade ou pós modernidade é o aqui e o agora, então não perdemos tempo com amigos(as) que nos levam a abrir os olhos, que nos questionam, que nos sacodem para a realidade. Como vivemos através de uma tecla, queremos apenas consolos e agrados e quando as pessoas nos desconfortam se torna muito fácil nos livrarmos delas. É só desconectarmos ou excluí-las. É o mundo descartável, onde as pessoas tem o mesmo valor dos produtos de consumo da nossa felicidade. Para isso elas nos servem, para satisfazer o nosso prazer e a nossa vontade. Isso é a falência espiritual da humanidade. E a pergunta seria se ainda tem jeito, ao mesmo tempo que podemos responder com uma frase de Chaplin retirada de seu último discurso, onde ele nos convida à reflexão: “Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”
Referências Bibliográficas
http://paginadoenock.com.br/amor-liquido-resenha-do-livro-de-zygn-zygmunt-bauman/
http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/102755_VIVEMOS+TEMPOS+LIQUIDOS+NADA+E+PARA+DURAR+
*Fátima Teles é Assistente Social e colaboradora do Vermelho
**Título original: Em tempos de liquidez dos sentimentos, a inversão de valores é a força motriz