Direto da China: Brics, o G-5 do mundo em desenvolvimento
Terminada a Copa do Mundo, um dos maiores eventos do calendário mundial, o Brasil recebe em Fortaleza, capital do estado do Ceará, a 6ª Cúpula do Brics, grupo formado pelos maiores países em desenvolvimento do mundo, nomeadamente Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Direto da China, José Medeiros da Silva* e Rafael Gonçalves de Lima**
Publicado 15/07/2014 10:51
Para a China, a segunda maior economia do mundo, o espaço Brics vai se consolidando como um relevante instrumental para a concretização de alguns dos seus interesses estratégicos como a consolidação de uma ordem internacional multipolar e o estabelecimento de um ambiente internacional pacífico, fundamentais para o êxito do seu projeto nacional de desenvolvimento.
A percepção chinesa sobre si e sobre o mundo ajuda a compreendermos seus esforços para a consolidação desse G-5 do mundo em desenvolvimento. De desacreditado no seu começo, quando ainda se denominava BRIC, o agrupamento ganhou uma nova visibilidade e já se transformou em um dos principais eventos da política internacional.
Depois da sua 3ª Cúpula realizada na China, quando oficializou-se a entrada da África do Sul, o grupo ganhou um novo peso e uma nova perspectiva, pois esse “S” (de South Africa) do agora Brics, mais do que uma letra ou um país, representa a aproximação do grupo com todo um continente. Quanto mais se reúnem, mais os países do Brics demonstram sua capacidade de contornar suas assimetrias para focar em objetivos comuns e gerar benefícios para todos. “O Brics é de fato não apenas uma boa perspectiva, mas uma realidade (…) Somos de fato muito mais parecidos do que eventualmente podem querer nos fazer entender. A Cúpula de Fortaleza ganha ainda mais força, principalmente depois que o G-8 expulsou a Rússia e virou G-7”¹.
Nesta 6ª Cúpula que se realiza em Fortaleza se anunciará a criação do Banco Brics, que oficialmente será chamado de Novo Banco de Desenvolvimento e a criação do Arranjo de Contingente de Reservas. Esses mecanismos financeiros elevarão o Brics a um novo patamar, aumentando ainda mais a responsabilidade e a interdependência entre os seus membros. Além do mais, também servirá como recado para os países desenvolvidos que controlam algumas instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial e o FMI.
Como se pode observar, ao contrário do que muitos podem imaginar, o Brics não é um conjunto de letras soltas, mas sim “a constituição de uma aliança estratégica dos maiores países do mundo que emergem para a cena internacional nesse começo de século e de milênio”² . A força movente que une esses países advém de uma necessidade comum de se criar um ambiente internacional mais seguro que beneficie a realização dos seus respectivos projetos de desenvolvimento, abrindo novas perspectivas para a melhoria de vida das suas populações.
Esse G-5 do mundo em desenvolvimento representa 42% da população mundial. Apesar de importante, a criação do grupo Brics é apenas o passo inicial para o enfrentamento de desafios ainda maiores como o estreitamento dos laços culturais e interpessoais entres os seus povos. Essa não é uma tarefa apenas dos governos mas perpassa os mais diversos setores da sociedade como as empresas, sindicatos, universidades etc. É tarefa de todos nós, que quando alcançada, terá ajudado grandemente na construção de um ambiente internacional mais confiável.
No mundo em que vivemos, no qual parte significativa da humanidade ainda sofre devido à fome e guerras, é importante também manter acessa e compartilhar entre toda comunidade Brics a chama de muitas vozes que se ergueram na defesa de um mundo socialmente justo e humano, como por exemplo Confúcio, na China; os milhões de russos que doaram sua vida na luta antifascista, Gandhi na Índia, Mandela na África do Sul e toda a ancestralidade brasileira na sua saga para construir, na mestiçagem de diversos povos, uma humanidade plural, fraterna e acolhedora.
²CABRAL, Severino. O Brasil no BRIC: uma visão analítica. In: China, uma visão brasileira. Macau: Instituto Internacional de Macau, 2013, p. 34
*José Medeiros da Silva é Dr. em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Há sete anos vive na China e atualmente trabalha na Rádio Internacional da China, em Beijing.
**Rafael Gonçalves de Lima é bacharel em Relações Internacionais pela Faculdades de Campinas (FACAMP) e atualmente faz mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Jilin, na China, com bolsa do governo chinês.