Com bombardeio a Gaza, Israel ainda mantém operação contra Cisjordânia
Os bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza mataram 172 pessoas em uma semana de ataques, mas ainda são acompanhados pela operação militar na Cisjordânia, lançada há um mês. Protestos contra a ocupação israelense e a escalada da violência, além da reação pelo assassinato de um jovem palestino, há duas semanas, são reprimidos violentamente pelos soldados israelenses, que atingem a população de forma generalizada e arbitrária.
Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
Publicado 14/07/2014 11:50

Mais seis palestinos foram mortos nesta segunda-feira (14) por bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza. Enquanto a atenção do mundo é atraída pela brutalidade dos ataques aéreos e desde os navios israelenses – oficializados em forma de uma “operação” intitulada “Margem Protetora” há exatamente uma semana, mas já noticiados dias antes – a violência da repressão na Cisjordânia, cenário de outra operação militar lançada há um mês, também é contínua, com a morte de mais de 10 pessoas.
No fim de semana, mais protestos foram reprimidos com bombas de gás lacrimogêneo e munições letais na estrada entre Jerusalém e Hebron, cidade da Cisjordânia mais afetada pela operação militar – e pela ocupação e colonização, como um todo – com toques de recolher, demolição de casas como “medida punitiva” contra “suspeitos” e detenções arbitrárias.
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Nesta segunda-feira (14), Ahmad Al-Badarin, de 21 anos de idade, também foi atingindo por uma das balas de metal revestidas de borracha usadas na repressão, mas foi impedido pelos soldados israelenses de receber socorro, em As-Samou, ao sul de Hebron, e acabou morrendo no local devido ao ferimento, de acordo com a agência palestina de notícias Wafa. Dos 18 palestinos detidos no domingo (18), segundo a Maan, 13 eram menores, inclusive seis de 14 anos de idade. Todos estavam no recinto da mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém, novamente invadida pelos soldados.
De acordo com fontes oficiais palestinas, mais de 850 pessoas foram detidas desde 12 de junho, quando a operação “Guardião Fraterno” foi lançada pelo governo israelense contra a Cisjordânia, sob o pretexto de procurar por três jovens colonos desaparecidos, depois descobertos mortos. Entre os detidos – que elevaram o número de palestinos em prisões israelenses para mais de seis mil – estão também centenas de crianças que denunciam abusos e tratamento cruel, como foi o caso de Tarek Abu Khdeir (foto), de 15 anos, espancado por dois soldados após ser capturado ao protestar contra o assassinato do seu primo, Mohammed, também de 15 anos.
De acordo com a jornalista Kelly Lynn, que escreve da Cisjordânia para o portal Modoweiss, aproximadamente 40 soldados israelenses participaram da repressão, que também usou, como em outros episódios, água “skunk”, ou malcheirosa, composta de um líquido químico nauseabundo e lançada por caminhões-tanque contra os manifestantes. O emprego deste recurso já foi denunciado antes por comitês populares de resistência na Palestina, cujos protestos são frequentemente alvo de repressão violenta. Em Belém, os efeitos da repressão a protestos de sexta-feira (11) foram divulgados em um vídeo pelo Mondoweiss.
Além disso, episódios de agressão dos colonos israelenses contra residentes palestinos da Cisjordânia e Jerusalém Oriental continuam sendo relatados, intensificados pelo discurso de incitação disseminado por diversos líderes desde que os corpos dos três colonos foram descobertos, resultando em tentativas de sequestro, no assassinato de Mohammed, que foi calcinado, e no atropelamento criminoso e também fatal de dois trabalhadores palestinos em Haifa, território cedido a Israel quando o Estado foi criado, em 1948.
Até agora, a operação militar na Cisjordânia e o contínuo bombardeio da Faixa de Gaza – que matou cerca de 100 civis, inclusive dezenas de crianças – têm sido denunciados por diversas manifestações populares em todo o mundo, com o rechaço manifesto por inúmeras comunidades judaicas e inclusive israelenses, mas a reação dos líderes mundiais e da Organização das Nações Unidas (ONU) continua sendo insuficiente, perpetuando a impunidade do governo israelense pelos crimes contra o povo palestino.
Atualizada às 14h45 para incluir a notícia dos seis palestinos mortos em Gaza.