BRICS: Comércio bilateral deverá sair fortalecido

O encontro será mais uma tentativa de sinergia entre os cinco países, iniciada ainda em 2001.

"Se você quer ir rápido vá sozinho, mas se quer ir longe, vá junto". O provérbio africano, descrito na entrada do aeroporto internacional de Johannesburgo, capital da África do Sul, traduz bem o significado do BRICS, uma nova comunidade política e de negócios formada pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, países que buscam ampliar as relações comerciais entre si, como forma de promover o desenvolvimento sustentável do grupo, abalado com a crise econômica global, nos últimos anos. Envoltos em problemas sociais, econômicos e estruturais distintos e de dimensões diferentes, os chefes de Estado dos cinco países se reúnem na próxima terça-feira (15/07), em Fortaleza, para realizarem a VI Cúpula do BRICS.

O encontro será mais uma tentativa de sinergia, iniciada ainda em 2001, quando o BRIC começou a ser formado – à época sem a participação dos africanos -, para fortalecimento das suas relações políticas e diplomáticas. Quase 13 anos depois, agora com denominação de BRICS, o grupo negocia a possibilidade de criação de um Banco de Desenvolvimento e de um Arranjo Contingente de Reservas, uma espécie de fundo anti-crise para seus membros.

De concreto até o momento, está agendada a celebração de tratados de cooperação econômica nas áreas de mineração, tecnologia industrial, agropecuária e de turismo entre os cinco chefes de Estados, com forma de viabilizarem a realização de futuras transações comerciais.

Comércio bilateral

Relações comerciais que, segundo explica o presidente do Instituto Brasil-África, João Bosco Monte, não necessariamente se darão em bloco. Pelo contrário, ocorrerão muito mais de formas bilaterais entre parceiros da nova comunidade comercial, em virtude das necessidades, dos interesses diferenciados e das peculiaridades políticas, geográficas, culturais, sociais e estruturais de cada um.

Opinião semelhante tem o presidente do Centro Internacional de Negócios (CIN), entidade ligada à Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Eduardo Bezerra. Segundo ele, é fácil compreender, até mesmo por questões geográficas e de logística, porque as relações comerciais entre o Brasil e a África do Sul ou entre a China e a Índia, por exemplo, têm mais possibilidades e facilidades de se realizarem; embora hajam interesses comuns de todos para com todos os integrantes.

Além dos interesses comerciais, explica Monte, a sinergia que une agora os países do BRICS se resume n o desejo de enfrentarem os seus problemas sócio-econômicos. Ele ressalta no entanto, que isso poderá acontecer, mas de forma isolada, dadas as diferenças e peculiaridades de cada um. "Os problemas sociais não constam nas agendas de nenhum agrupamento, seja o Mercosul, a União Europeia etc", explica Monte

Convergência

Na opinião do assessor para Assuntos Internacionais do governo estadual, Hélio Leitão, a VI Cúpula do BRICS será uma oportunidade de convergência de ideias, de intercâmbio de experiências, de proximidade, que irá redundar na geração de negócios futuros, inclusive para o Ceará, notadamente nas áreas de energia, agronegócio, metal mecânico e turismo. "Se o banco for criado nessa Cúpula, esse será um momento histórico para Fortaleza", torce.

Fórum pode render até US$ 50 mi em exportações

A VI Cúpula do BRICS e a consequente realização do Fórum Empresarial, que transcorrerá na tarde da próxima segunda-feira (14), paralelamente à reunião dos ministros de economia e comércio desses países, poderá render até US$ 50 milhões em negócios, em exportações do Ceará para os integrantes do grupo. A projeção é do presidente do CIN, Eduardo Bezerra, para quem a rodada de negócios que ocorrerá, reunindo empresários de vários setores e dos cinco países será muito positiva para todas, sobretudo para o Estado.

"Essa reunião vai nos trazer consequências muitas positivas, a partir da melhoria e do incremento das nossas relações comerciais, das transferências de tecnologias, com a possibilidade até de novas joint-ventures", sinaliza Bezerra. Para ele, a maior integração do BRICS irá facilitar a realização das transações bilaterais, contribuindo efetivamente para a melhoria das economias de cada país.

Agenda

Bezerra reconhece que a realização de negócios entre os países mais próximos geograficamente e de maior afinidade política do grupo serão facilitadas, mas nada impede que novas transações sejam acertadas, inclusive com empresas de países bem distantes do Ceará. "Se os melões do Ceará são consumidos nos hotéis da Rússia, por que não podemos também vender manga, sapoti, graviola?", pergunta. "Só se sai de uma crise (econômica) quando se vende e se compra", fala. Para ele, o Fórum será um momento de exposição, de apresentação dos empresários, das potencialidades mútuas, para fechamento de negócios futuros. "O Fórum consiste em uma série de palestras de incentivo ao comércio internacional", diz.

Presidente russo defende integração

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que o "potencial da cooperação econômica e comercial com o Brasil não foi 100% realizado", e que vai propor medidas para diversificar os laços entre os dois países.

Putin chega ao Brasil para a final da Copa no domingo (13), e depois participa da reunião de cúpula dos BRICS. A Rússia sediará a próxima edição do Mundial, em 2018.

Em entrevista à agência de notícias estatal russa Itar-Tass, Putin afirmou que "a instabilidade econômica" provocou a queda do intercâmbio entre os países em 2013. Naquele ano, o saldo comercial brasileiro ficou superavitário em US$ 2,4 bilhões, embora neste ano esteja até aqui favorável à Rússia.

Defendeu maior transferência de tecnologias e a integração econômica. A carteira de comércio é dominada pela exportação de carnes brasileiras – com o levantamento de embargos, há aumento expressivo na compra russa de bovinos, e há expectativa de isso aumentar com as sanções europeias a Moscou. Do lado russo, vende-se muitos produtos químicos e insumos agrícolas.

Fonte: Diário do Nordeste