Aldo Rebelo defende mudanças na legislação do futebol
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, defendeu mudanças na legislação relacionadas à gestão do futebol no país. A derrota por 7 a 1 do Brasil ante a Alemanha evidenciou a necessidade de mudanças, disse Aldo.
Publicado 10/07/2014 17:11
Ele citou dois pontos relacionados ao futebol em que cabem a interferência do governo: a negociação da dívida dos clubes e a alteração no que a lei considera trabalho infantil. “Não pode o Estado ser excluído da competência de zelar dentro do esporte e das suas instituições pelo interesse público e pelo interesse nacional”, disse Aldo.
No caso das crianças, o país precisa ter uma política que diferencie exploração e oportunidade: “Precisamos discutir a legislação do ponto de vista de trabalho de menores”, disse o ministro.
Ele citou a Alemanha como exemplo: lá, crianças comparecem ao treino nos clubes três vezes por semana. “Aqui no Brasil temos situação de que criança de 15 anos pode ficar consumindo droga na rua, mas não pode permanecer em centro de treinamento porque isso é considerado trabalho infantil.”
Assim, os clubes europeus ficam de olho nas crianças brasileiras com talento em futebol e contratam seus pais para trabalhar no exterior, acrescentou. “A família se muda para a Europa e lá coloca o filho para treinar na categoria sub-15 do clube, o que é permitido”, disse Aldo.
“Em outras ocasiões já havia manifestado a opinião de que o futebol brasileiro precisa de mudanças. A derrota para a Alemanha expõe ainda mais essa necessidade, mas mesmo que não tivesse acontecido, sempre disse que deveríamos aproveitar o esforço que fizemos para ter estruturas como as arenas que sediaram a Copa do Mundo, as dezenas de Centros de Treinamento que foram reformados e estão distribuídos por todo o país para melhorar o nosso futebol, além da necessidade de elevar a qualidade da gestão dos nossos clubes”, afirmou Rebelo, que citou a discussão do Proforte, no Congresso Nacional, como uma das ações em curso para elevar a qualidade do futebol brasileiro.
“O governo, onde é da sua competência, tem procurado enfrentar, discutindo no Congresso Nacional a modernização da gestão dos clubes, para que eles assumam compromissos e responsabilidades no que se refere ao calendário, respeito aos atletas e gestão financeira. A infraestrutura da Copa vai ficar e, independentemente do resultado adverso que tivemos, todo esse esforço é necessário”, acrescentou.
Um dos desafios para que o futebol brasileiro suba de patamar, segundo o ministro, é a revisão das leis que permitem com que jovens valores saiam do país.
“Vários críticos e analistas apontam para o enfrentamento do problema de que somos exportadores de matéria-prima, de que nossos craques ou talentos vão muito cedo para o exterior. Fiquei sabendo pelo Alexandre Gallo (treinador das seleções de base do Brasil) que parte importante dos atletas da divisão sub-15 já está no exterior. Nossa lei facilita essa exportação, dá superpoderes aos empresários, enquanto os europeus se especializaram em exportar serviços futebolísticos.”
Gestão das confederações
Perguntado sobre as declarações feitas pelo ex-jogador e deputado federal Romário Farias (PSB-RJ), Aldo afirmou que o Ministério do Esporte está a aberto a receber todas as propostas que o deputado fizer e pretende tornar todas as propostas públicas.
Porém, até o momento, Romário não havia proposto nada. Sobre a investigação à CBF, o ministro declarou que chegou a lutar pela criação da CPI no Congresso, ainda quando era deputado, e que Romário precisa entender que essa instauração fica inviável por causa da independência entre os poderes.
O ministro também afirmou que defende a ideia de que o Estado participe da gestão das confederações esportivas nacionais, pois o esporte é uma matéria de interesse nacional.
Ele ainda disse que o assunto é discutido no Congresso, visando uma participação efetiva nos esportes de alto rendimento e amador, para que assim possa intervir em determinadas situações em defesa do interesse nacional e público.
Para ele, essas são medidas importantes para que o Brasil seja uma potência esportiva e não, somente, "um fornecedor de pé-de-obra" para o futebol mundial. Rebelo demonstrou preocupação com relação ao pagamento de atletas, cujos salários são mais baixos e enfrentam dificuldades para receber.
1950 e 2014
Pela segunda vez na história, o Brasil recebe a Copa do Mundo sem conseguir levantar a taça em casa. Para Aldo Rebelo, a seleção de 1950, que ficou marcada por muitas décadas por ter perdido o jogo decisivo para o Uruguai no Maracanã, era superior à atual.
Apesar de não ver a equipe de Felipão como favorita diante da Alemanha, o ministro afirmou que o placar foi um acidente e que não se repetiria se os dois países voltassem a se enfrentar.
“Claro que são dois acontecimentos lamentáveis: a derrota para o Uruguai era a primeira final que o Brasil disputava. Em 1950, e com o peso não só de ser a decisão, mas tínhamos a convicção de que iríamos vencer. Era uma seleção muito superior à que temos hoje, era uma constelação de craques. A seleção que perdeu para a Alemanha as pessoas achavam que até poderia vencer, mas não seria uma grande surpresa se perdesse. Estou entre aqueles que acham que poderíamos ter ganhado. Se repetirmos o jogo várias vezes, não teremos esse resultado. É uma marca terrível no futebol brasileiro. Acho que aquilo foi um acidente, que tem as suas causas que devem ser examinadas, mas a melhor atitude a tomar é analisar estas causas e superar as falhas, para que isso não volte a acontecer”, afirmou.
Do Portal Vermelho, com agências