Ex-presidente da França Nicolas Sarkozy é detido por corrupção

“Corrupção ativa, tráfico de influências e receio de violação do segredo profissional” são as acusações formuladas contra o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, que saiu do período de detenção preventiva às 02h00 da madrugada de quarta-feira (2) sob termo de identidade e residência.

Por Sylvie Moreira, de Paris para o Jornalistas sem Fronteiras

Nicolas Sarkozy - AFP

As investigações às práticas de Sarkozy decorrem no âmbito de um processo aberto em fevereiro e que cruza dois casos aos quais o ex-presidente tem sido associado, através de numerosas provas, reunidas sobretudo pela agência Mediapart: o financiamento da campanha presidencial de 2007 pelo ex-dirigente líbio Muammar Khaddafi e contribuições eleitorais feitas pela proprietária da L’Oréal e a mulher mais rica da França, Lilliane Bettencourt.

“São dois casos diferentes mas que envolvem financiamentos ilegais que somam dezenas de milhões de euros”, afirma o jurista e colunista Jean-Jacques Perrin. “As investigações sobre a componente líbia têm conduzido à denúncia de trocas de favores e cumplicidades envolvendo interesses de Estados, o que, como se sabe não é legítimo”, acrescenta o jurista.

Nicolas Sarkozy tem negado sempre estas acusações, sucessivamente confirmadas tanto por antigos como atuais dirigentes da Líbia.

“Além das investigações judiciais há também leituras políticas a fazer deste caso, olhando para o modo como Sarkozy envolveu a França na guerra para derrubar Khaddafi e até como se terá comprometido nas condições que geraram a sua morte”, comenta Jean-Jacques Perrin.

O caso Bettencourt implica a acusação de “abuso de fraqueza” ou, “de chantagem, para usarmos linguagem comum”, explica o jurista. Através de Eric Woerth, seu ministro das Finanças e ao mesmo tempo tesoureiro do seu partido, a UMP, Sarkozy terá obtido financiamentos excedendo os limites legais, e em dinheiro, da fortuna de Bettencourt, exercendo pressão sobre a proprietária da L’Oréal por esta cometer infrações fiscais: contas no estrangeiro, em bancos suíços e outras formas de fuga aos impostos.

“Chantagem pura”, prossegue Perrin, “confirmada em numerosas gravações existentes e que chegaram a ser do conhecimento público.

E aí passamos a outro aspecto bem triste destes episódios: a censura exercida sobre a comunicação social”, diz o jurista: “o site da Mediapart está inundado de retângulos em vermelho dos locais de onde foi obrigado a retirar, sob pena de multas impagáveis, numerosas provas do caso Bettencourt”.

*Título original: "Sarkozy sob termo de identidade e residência"
Fonte: Jornalistas sem Fronteiras