Fotos revelam abusos durante revistas em penitenciária na Argentina
Despidos, em posição de reverência, com o rosto contra o chão e mãos atadas atrás das costas, numa revista coletiva ilegal no pavilhão de jovens do Serviço Penitenciário Provicial de San Luis, Argentina, presos são submetidos a tratamento desumano. Imagens de um desses momentos vieram a público recentemente e têm gerado repercussão no país.
Por Marcela Belchior, na Adital
Publicado 27/06/2014 11:23
As fotografias foram realizadas em 22 de abril de 2013, durante revista no pátio de recreação do pavilhão dos adolescentes reclusos. O procedimento respondia a investigação interna sobre uma briga ocorrida na noite anterior, que teve como saldo um jovem ferido com arma branca. O site SanLuis24 publicou as fotografias recentemente com exclusividade e não revela o autor dos registros.
De acordo com o SanLuis24, nas imagens é possível identificar o oficial principal Mariano Ibañez (de camisa azul), que ocuparia o cargo de diretor da Unidade de Menores atualmente, e José Vélez, que seria ajudante.
Diante das imagens, o diretor do serviço penitenciário, Inocencio Carpio, se disse constrangido pelos métodos utilizados pelos agentes penitenciários. "Fico com a cara no chão de vergonha, mas tenho que corrigir isso. Tomara que não volte a ocorrer, o fato eu não nego. Afronta-me como chefe do serviço. Aqui, são feitas muitas coisas, mas isso é coisa de um grupo minúsculo que não está de acordo com as novas políticas”, afirmou o funcionário, segundo SanLuis24.
De acordo com o site, Carpio disse não ter conhecimento do fato e que já ordenou investigação sumária do caso. "Não quero minimizar o tema, são práticas que estou mudando no serviço penitenciário. As revistas são feitas diariamente e são retiradas pílulas, lanças, de tudo, mas esse procedimento não eé permitido. O que me dói é que quem tirou isso [fotografias] é um agente penitenciário e não veio falar com a direção”, disse o diretor. Ele explica que as revistas em que os presos devem se despir é para serem realizadas na cela de cada interno, resguardando o pudor e a intimidade dos reclusos.
O site conta que integrantes da "Campanha contra a violência institucional na Argentina”, que funciona através de uma rede de advogados, estudantes de Direito, promotores e voluntários, visitaram a penitenciária e comprovaram que as torturas são parte de uma série de irregularidades sofridas pelos internos. "As fotos, que foram publicadas, não são as únicas que existem. Temos feito contato com familiares de presos para assisti-los”, afirmou o membro da campanha Daniel Sosa ao SanLuis24. Diante do caso, Sosa disse que é necessário refletir sobre os níveis de intolerância e fascismo que afloram em vários setores da sociedade.
Ana María Garraza, diretora de Direitos Humanos de San Luis, por sua vez, afirmou que o fato se situa num contexto de crise de magnitude institucional, que transcende os nomes dos envolvidos. "O problema não passa pela perversidade pessoal das pessoas do turno, isso é uma política de Estado. A responsabilidade é do governo da província, do governador e do ministro de Segurança”, assegurou ela a SanLuis24. O governador de San Luis, Claudio Poggi, pediu a renúncia do diretor da penitenciária e a instalação de processo administrativo para apurar o caso.