Após eleições, União Europeia legitima clima de terror na Ucrânia

A União Europeia considera que os resultados das eleições presidenciais de domingo (25) na Ucrânia, que apenas se realizaram em condições próximas das normais na região de Kiev e no ocidente do país, “representam o desejo dos civis ucranianos”.

Por Pilar Camacho, de Bruxelas para o Jornalistas sem Fronteiras

Ucrânia - Sergey Dolzhenko/EPA

“O que a União Europeia fez foi abrir as portas para validar todas e quaisquer distorções democráticas desde que correspondam à situação que pretende estabelecer num determinado país”, alerta em Bruxelas um alto funcionário do Conselho Europeu. “Quando se alcançam fins sem olhar aos meios, mais tarde podemos ser vítimas de um efeito de boomerang e a situação na Ucrânia presta-se como poucas a isso”, advertiu.

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O comunicado da União Europeia coincidiu com a exigência do aparelho militar e de segurança, nas mãos das organizações fascistas, para que a resistência no Leste do país ao golpe em Kiev “se renda à ofensiva militar em curso”.

A União Europeia pretende também que a Rússia dialogue com o presidente eleito ucraniano, Piotr Poroshenko, que contribua junto da resistência para “aliviar o conflito” no Leste e que afaste as tropas russas da fronteira com a Ucrânia.

“Expressar estes desejos como quem apresenta uma cartilha de imposições a uma potência onde o nacionalismo cresce vertiginosamente é o mesmo que querer o melhor de todos os mundos como se vivêssemos em regime de impunidade absoluta”, afirma o general de um país da Otan em serviço em Bruxelas. O que o general considera “especialmente preocupante” é o fato de, no fundo, as posições da União Europeia “estarem reféns das estratégias dos países da Otan do Leste da Europa, que se limitam a seguir, com total docilidade, as linhas de conduta estabelecidas no Pentágono”.

 
Resultado das eleições na Ucrânia, em 25 de maio de 2014. Petro Poroshenko tem 57.31%;
a favorita IuliaTymoshenko, com 12.39% e Oleg Lyashko com 8.89%. Foto: EPA
No comunicado sobre as eleições ucranianas, a União Europeia manifesta a intenção de continuar estabelecendo parcerias com Kiev. “Vamos de manobra propagandística em manobra propagandística”, denuncia o alto funcionário do Conselho Europeu. “De fato, uma vez realizadas eleições, por aberrantes que tenham sido, agora é mais fácil aos dirigentes europeus ‘legitimar’ um regime que já tinham legitimado através de um golpe de Estado”, acrescentou. “Continua a escrever-se torto por linhas tortas, criando-se a ilusão de que estão mais retas”.

A Ucrânia já entrou em regime de gestão pelo Fundo Monetário Internacional e o governo de Kiev deverá em breve promover um referendo sobre a adesão à Otan, mesmo que decorra nas mesmas condições das eleições presidenciais.

A realização do referendo era uma reivindicação da candidata oficialista da União Europeia e de Washington, Iulia Tymochenko, e será por certo adotada pelo eleito Poroshenko – que começou imediatamente a revelar alinhamento pela estratégia decorrente do golpe, principalmente na forma como apoia a vaga de violência e terror lançada sobre o Leste do país.

Fonte: Jornalistas sem Fronteiras