Religiosos de matrizes afrcanas protestam contra a intolerância

Em protesto contra a intolerância religiosa, fortalecida com a decisão do juiz Eugênio Rosa de Araújo, da 17ª Vara da Justiça Federal no Rio de Janeiro, esta semana, o CEN (Coletivo de Entidades Negras) saiu em caminhada do Largo do Pelourinho à Estátua de Zumbi dos Palmares, na Praça da Sé, nesta quarta-feira (21/05). O ato político pediu a garantia dos direitos das religiões de matrizes africanas no país.

Para o coordenador nacional das entidades negras, Marcos Resende, o doloroso é perceber que boa parte dos setores reacionários constroem este pensamento no Judiciário. Segundo ele, apesar de o juiz ter mudado os argumentos, manteve a decisão, permitindo a permanência na internet dos vídeos que incitam a violência e desmoralizam o candomblé e a umbanda. "Parece que o intuito dele, voltado atrás, era nos desmobilizar. Mas, ele não entende a gravidade da situação. Isso tudo representa o reforço à intolerância religiosa e não pode ser tratado como liberdade de expressão. É um ato de violência".

Olívia Santana, secretária nacional de Combate ao Racismo do PCdoB e integrante da Unegro (União dos Negros pela Igualdade), acredita que a sociedade brasileira não pode, em nome da democracia, permitir que outras atitudes como esta se repitam. "O juiz transformou o racismo pessoal em decisão judicial. Essa postura significa que o racismo tem a chancela do judiciário". Para a militante, o racismo é coisa de Estado e o governo tem que interferir.

Táta Ricardo, do Terreiro do Lembá, em Camaçari, reitera. Segundo ele, a atitude é um exemplo claro do preconceito que as religiões de matriz africana sofrem no país. Resende complementa, lembrando que a população negra representa mais da metade dos brasileiros. "Ele não precisa reconhecer a nossa religião. Nós reconhecemos, o Brasil reconhece, a Constituição reconhece. Vão ter que nos aceitar em todos os setores da sociedade".

O ato aconteceu também em Brasília e no Rio de Janeiro. De acordo com o CEN, nova manifestação está prevista para o começo de junho, na capital federal, onde caravanas de diversos estados farão marcha rumo ao Congresso Nacional, para entregar documento pedindo respeito às religiões de matriz africana.

De Salvador,
Ana Emília Ribeiro e Maiana Brito