"A Europa tem paixão de haver sido e já não ser", critica José Mujica 

O presidente do Uruguai, José Mujica, completou 79 anos nesta terça-feira (20). Sem agenda oficial para o dia e fiel a seu estilo de "nunca festejar seu aniversário", o presidente e sua esposa, a senadora Lucía Topolansky, se juntaram como dois cidadãos comuns à 19ª Marcha do Silêncio, uma mobilização em massa na qual desde 1996 os uruguaios pedem verdade e justiça pelos detidos desaparecidos do período ditatorial (1973-1985).

Por Théa Rodrigues, da Redação do Portal Vermelho

Mujica

O programa “Salvados”, do canal espanhol La Sexta, exibiu uma entrevista com o governante uruguaio aproveitando a ocasião de seu aniversário. Segundo o jornal RT, a declarações de Mujica “sacudiram” a internet na Espanha – mais de 100 mil usuários utilizaram a hashtag #umPresidenteDiferente para denunciar a situação política do país europeu. Os internautas espanhóis aproveitaram a oportunidade para transformar as redes sociais em um caldeirão de críticas e análises que comparam a trajetória do chefe de Estado uruguaio com a realidade dos funcionários do governo espanhol.

Ao ser questionado sobre seu estilo de vida (Mujica ganhou o título de presidente mais pobre do mundo), respondeu que “o estranho é como vivem eles [os políticos], não eu e a maior parte das pessoas. Os presidentes entram para viver como vive a minoria rica e aqui ninguém é mais que ninguém. A democracia tenta ser o governo da maioria e eu vivo com as pessoas vivem no meu país, mas há uma minoria poderosa que vive muito bem”.

A popularidade de Mujica é fruto não só da maneira como escolheu viver, mas também do impulso progressista que o levou a implementar leis consideradas revolucionárias como a legalização da maconha. Em seu programa de rádio exibido nesta terça-feira (19), o mandatário recordou que o Uruguai é um país “quase sem distâncias, o mais laico da América Latina e o que tem menos propensão a se prostrar diante de hierarquias, um país profundamente republicano”.

Ele admitiu ainda que o país sul-americano tem problemas, mas assegurou que “de longe é o mais justo da América, o mais inclusivo, o que tem ensino público gratuito há mais de meio século”, por mais que critiquem.

Visão europeia

“A Europa tem a paixão de haver sido e já não ser, de haver sido o epicentro da civilização e já não ser”, afirmou Mujica ao canal espanhol. Ele disse ainda que a política europeia o aterroriza, “dizem sempre as mesmas bobagens”.

Segundo Mujica, que se declarou inimigo do consumismo, “a gravata é um trapo inútil que te ata o pescoço”. Para ele, “estamos esquecendo coisas fundamentais e gastando um esforço humano que pouco tem a ver com a felicidade humana”.

“O primeiro requisito na política é a honradez intelectual. Se não existe honradez intelectual, todo o resto é inútil”.

“Presidente Diferente”

Em meados da década de 1970, Mujica fundou o Movimento de Libertação Nacional (MLN-Tupamaros) junto com Raúl Sendic, entre outros. Como integrante dessa guerrilha urbana esteve preso durante 14 anos e em duras condições antes e durante a ditadura que governou o Uruguai entre 1973 e 1985.

Após a recuperação da democracia fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), que o tem como seu líder, e com ele ingressou na coalizão de esquerda Frente Ampla (FA).

Foi eleito deputado nas eleições de 1995 e senador nas de 2000, reeleito em 2005 e ocupou o Ministério de Pecuária, Agricultura e Pesca durante o primeiro governo da FA na história, com Tabaré Vázquez (2005-2010) como presidente.