Israel não pode apagar a Nakba da história, diz diplomata palestino
A Palestina reconheceu o direito do Estado israelense de existir em 1988. Entretanto, desde a sua criação, em 1948, Israel ainda não reconheceu o Estado da Palestina. Nos 66 anos desde a Nakba, ou “Catástrofe”, os palestinos lembram seus mortos e refugiados, o exílio e a ocupação israelense dos seus territórios, “embora apenas uma palavra não possa começar a explicá-la, nem um único dia possa começar a honrá-la,” escreve Saeb Erekat, chefe da equipe diplomática palestina nos diálogos com Israel.
Publicado 15/05/2014 16:38
Embora a mesma resolução que garantiu a criação do Estado de Israel previsse também um país para os palestinos, nenhum governo israelense chegou a reconhecer este direito nacional à Palestina. A Nakba, marcada todos os anos, no dia 15 de maio, lembra a “catástrofe” em que se assentou o estabelecimento de Israel: a colonização brutal a partir do massacre de 15 mil pessoas, a destruição de 530 vilas e a expulsão de 750 mil palestinos.
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“Mais do que nunca, Israel precisa reconhecer os horrores que causou em 1948, encerrando a subjugação de milhões, ao invés de intensificar a negação e tentar legitimar a perseguição. A paz só pode resultar da justiça e da reconciliação,” escreveu Erekat na quinta-feira (15), em artigo publicado no jornal israelense Ha’aretz e na mídia palestina.
“A Nakba é uma história de medo e intimidação, de negação e perseguição, uma realidade cruel e sem fim,” continua o diplomata, que também é membro do Comitê Central da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). “Todos sofreram, e 66 anos depois, todos continuam a sofrer.” Na Jerusalém Oriental ocupada e anexada por Israel em 1980, “as famílias palestinas são despejadas dos seus lares devido às alegações de que a sua propriedade pertencia aos judeus antes de 1948, enquanto são proibidas de retornar às suas casas em Jerusalém Ocidental”, afirma Erekat.
“Em Gaza – uma das áreas mais densamente habitadas no mundo – 1,2 milhões de refugiados vislumbram as áreas abertas no que é agora o sul de Israel. Em minha cidade natal, Jericó, há dois campos de refugiados onde milhares continuam a viver em condições miseráveis. Em 2014, crianças palestinas morreram de fome no campo de refugiados de Yarmouk, na Síria.”
Erekat menciona o projeto de lei da “nacionalidade” promovido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em que determina Israel como Estado-nação judeu, “mais uma em uma longa linha de leis discriminatórias contra um quinto da própria população israelense, os habitantes originais da terra. Uma lista de leis que tornam não só aceitável, mas legalmente admissível, discriminar os próprios cidadãos israelenses por pertencer a um grupo étnico-religioso diferente.”
“Enquanto isso, na terra que Israel ocupou ilegalmente desde 1967, colonos e soldados usam métodos similares de intimidação e medo para forçar os palestinos a deixarem as suas casas. A realidade na Cisjordânia não é menos do que um apartheid e, em Gaza, de sítio. Tanto dentro da Palestina ocupada quanto no exterior, aqueles que estão esperando há 66 anos, com suas chaves nas mãos, continuam esperando.”
Além da negação ao direito de retorno dos refugiados, Erekat também denunciou a tentativa de alterar a história ao negar a presença dos palestinos em sua terra e a própria Nakba, episódio que Israel ainda precisa reconhecer. “Esta é uma forma de nos pedir para negar a existência do nosso povo e os horrores que caíram sobre ele em 1948. Nenhum povo deveria receber este pedido. Nós não seremos cúmplices da noção de que qualquer grupo étnico-religioso deve ter o domínio sobre outro. Não aceitaremos a privação de direitos humanos básicos aos quais todos devem ter acesso.”
No Dia da Nakba, escreve Erekat, “lembramos aqueles que perderam as suas vidas nas mãos dos seus opressores, em sua busca por liberdade e dignidade. Apesar disso, estamos prontos para viver lado a lado, em paz, com os nossos vizinhos israelenses. Esperamos que os israelenses, se não o seu atual governo, caminhem nesta direção. Neste ponto, não sabemos como será o futuro em termos de uma solução, nem quando ele chegará. O que sabemos, por certo, é que permaneceremos.”
Da Redação do Vermelho,
Moara Crivelente, com informações das agências palestinas e do Ha'aretz