Farc retomam diálogo em meio a incertezas eleitorais na Colômbia
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano retomaram na segunda-feira (12) os diálogos de paz em Havana, dias após o desmantelamento de uma rede de espionagem que interceptava as comunicações de ambas as partes.
Publicado 13/05/2014 17:27
“Somos insurgentes e sabemos que o Estado e todos os atores sociais que nos enfrentam desde o início do confronto apelam para a espionagem”, declarou Andrés París, um dos delegados de paz das Farc.
O Ministério Público colombiano acusou na semana passada o especialista em informática Andrés Sepúlveda de ter interceptado e-mails do presidente Juan Manuel Santos e de membros das Farc. Sepúlveda foi preso no local onde funcionava o escritório de espionagem e deve responder perante um juiz a quatro acusações, incluindo violação, interceptação de dados e espionagem.
Leia também:
Farc rebatem EUA e negam participação no narcotráfico
Farc reiteram necessidade de reforma judicial na Colômbia
Perto de concluir tema das drogas, EUA atrapalham paz das Farc
Em uma entrevista à Agência France-Presse, Santos afirmou que este caso de espionagem é uma tentativa de minar o processo de paz. Da mesma forma, París declarou que “o que estamos presenciando é a espionagem contra o conjunto da sociedade colombiana”. Segundo o membro do grupo guerrilheiro há “vontade (mútua) de avançar o mais rápido possível” na discussão sobre as drogas ilícitas, terceiro ponto da agenda em prol de um acordo geral para o término do conflito na Colômbia.
A expectativa é que este ponto seja concluído muito em breve. No ciclo de diálogos anterior, Iván Márquez, chefe da delegação de paz das Farc, leu uma declaração indicando que as partes tiveram um “progresso significativo” e afirmou que há um "bom ambiente" na mesa.
Os inimigos do processo de paz e a campanha eleitoral
No início do ano, Iván Márquez disse que o ex-presidente Álvaro Uribe estaria "por trás" das interceptações ilegais da comunicação da guerrilha com o atual governo colombiano. "Não esqueçam que Uribe é o inimigo público número um da paz na Colômbia", disse ele em Havana.
Este ciclo de negociações com as Farc coincide com a última etapa da campanha para o pleito presidencial, que acontece no próximo dia 25 de maio. As pesquisas indicam que Santos (que concorre à reeleição) está empatado tecnicamente com o candidato de Uribe, Oscar Ivan Zuluaga.
Durante as últimas semanas, a imagem de Santos foi abalada por escândalos de financiamento ilegal da campanha política. Além disso, Juan José Rendón, um de seus assessores, renunciou no início do mês, após ter sido acusado por um traficante de receber 12 milhões de dólares para mediar com o governo a rendição de quatro de seus companheiros.
Por sua vez, o nome de Zuluaga, do movimento Centro Democrático, foi relacionado ao último caso de espionagem revelado no país. Isso acabou provocando também a renúncia de Luis Alfonso Hoyos, um dos principais assessores da campanha do opositor.
O Partido Centro Democrático, criado por Uribe, considera que Santos "entregará o país às Farc", e afirma que o caso de espionagem é "uma cortina de fumaça" para distrair a atenção do escândalo que abalou a campanha do presidente e candidato.
Théa Rodrigues, da Redação do Portal Vermelho,
Com informações da Prensa Latina e AFP