Miguel Lozano: Otan faz ensaios de guerra na Espanha
Enquanto os acontecimentos da Ucrânia recordam os inícios das guerras mundiais, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) realiza na Espanha manobras que poderiam adaptar-se a um cenário derivado desse conflito.
Publicado 04/05/2014 05:26
Cerca de 1.400 militares de 20 países iniciaram na última sexta-feira (2) em Menorca, Ilhas Baleares, os exercícios Trident Jaguar 14, cujo objetivo é certificar o quartel de Bétera, em Valência, como o primeiro da Otan com capacidade de comandar missões conjuntas terrestres, aéreas e navais.
Na base de San Isidro, Menorca, simula-se o combate contra Bothnia, um país fictício, que ataca um país membro da Otan desde o Mar Báltico, depois do que a aliança atlântica intervém em virtude do artigo 5 de seus estatutos, que permite apoiar um país membro atacado.
No exercício, a força com centro em Bétera com elementos aéreos, terrestres e navais (segundo a nova estratégia da Otan) é a encarregada pelo comando militar de realizar a operação.
A manobra programada de 2 a 16 de maio, começou realmente no mês passado com a chegada dos barcos El Camino espanhol e Martin Posadillo ao porto de Mahon com a maior parte do material para levantar as instalações do posto de comando.
O Quartel General de Alta Disponibilidade de Bétera pôs em marcha assim sua certificação como comando geral de uma nova forma de planejar operações militares com um enfoque integral aprovado na cúpula da Otan em Lisboa (2010).
Segundo o Ministério da Defesa espanhol, a decisão foi tomada ao analisar as experiências das últimas operações da aliança atlântica, e inclui melhorar a interação com civis e favorecer a gestão de crise e posterior fase de reconstrução.
Bétera é um dos oito quartéis generais de alta disponibilidade postos à disposição da Otan e deve ser o primeiro a alcançar a condição para dirigir uma Força Conjunta de Deslocamento.
Depois da certificação, o Quartel General de Bétera entrará em um período de alerta de 1º de julho deste ano a 30 de junho de 2015.
O Ministério da Defesa indicou que esse processo é símbolo do compromisso da Espanha com a Otan para proporcionar um entorno global mais seguro, apesar das críticas de setores opostos a ver o país envolvido em um conflito multilateral.
Além das Ilhas Baleares, a Otan conta na Espanha com as bases aeronavais de Rota, em Cádiz, y Moron, em Sevilha, onde recentemente se iniciou o estacionamento de barcos com sistemas de combate Aegis, parte do chamado escudo antimíssil.
Vários meios de imprensa alertaram recentemente sobre visitas de oficiais estadunidenses à base El Fuerte, nas Ilhas Canárias, que levantam a suspeita sobre o interesse por abrir ali outra instalação, dada sua proximidade de apenas 90 quilômetros de distância com a África.
De acordo com versões de meios de difusão regionais, o país supostamente atacado no exercício por uma nação fictícia é a Estônia, localizada precisamente na área fronteiriça com a Rússia, onde a Otan incrementa sua presença a partir da situação na Ucrânia.
Não escapa à atenção que, nesse caso, a nada desejável intervenção da Otan se realizaria, paradoxalmente, para defender um regime de tinturas fascistas, segundo denunciou recentemente o Partido da Esquerda Europeia.
Esse partido, que aglutina partidos de esquerda do continente, advertiu sobre o surgimento de um Estado nazista na Ucrânia, promovido pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Se os objetivos desses exercícios forem cumpridos, a base espanhola de Bétera ficará preparada – e em primeira linha – para envolver-se em um conflito de consequências inimagináveis em que, segundo advertem muitos observadores, poderia derivar a situação ucraniana.
Prensa Latina; tradução da redação do Vermelho