Rússia e EUA trocam acusações na ONU pela violência na Ucrânia
Os últimos eventos na Ucrânia levaram Rússia e Estados Unidos a trocar duras acusações nesta sexta-feira (2) no Conselho de Segurança da ONU, onde Moscou assegurou que os norte-americanos e a União Europeia estão impedindo qualquer solução pacífica ao apoiar as operações militares de Kiev.
Publicado 02/05/2014 20:11
A Rússia, que solicitou a reunião de urgência do Conselho, acusou as autoridades ucranianas de "violarem" os acordos de Genebra e de utilizarem tanques e helicópteros "contra manifestantes", enquanto Washington respondeu que o discurso de paz russo não é coerente com suas ações. "Se estas aventuras criminosas não forem detidas rapidamente, será inevitável que haja consequências catastróficas", advertiu o embaixador russo, Vitaly Churkin.
O representante da Rússia, como já tinha feito previamente seu Ministério das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, assegurou que durante as operações empreendidas pela Ucrânia na cidade de Slaviansk "se ouviu inglês entre os que atacavam", dando a entender que havia soldados ocidentais envolvidos.
Churkin considerou "inadmissível" qualquer intervenção estrangeira na Ucrânia e acusou os Estados Unidos e a União Europeia de terem "aniquilado" qualquer possibilidade de aplicar o pactuado em Genebra e resolver o conflito por essa via pacífica. "O Ocidente deve deixar de jogar com o destino da Ucrânia para suas próprias metas geopolíticas", disse o embaixador, que ainda pediu aos EUA e à União Europeia que não cometam "erros fatais" e analisem as consequências de suas ações.
A embaixadora norte-americana perante a ONU, Samantha Power, replicou com um duro discurso no qual acusou a Rússia de "desestabilizar, ameaçar e aterrorizar" a Ucrânia e de manter uma retórica em favor da paz que não é coerente com suas ações. "O fato de convocar uma reunião de urgência em protesto (pela ofensiva ucraniana) é uma amostra a mais de que as autoridades de Moscou subestimam a inteligência do resto da comunidade internacional ou têm intenção de repetir no leste da Ucrânia a farsa da Crimeia", disse Power.
Ela defendeu a operação empreendida pela Ucrânia em Slaviansk e assegurou que qualquer governo teria atuado da mesma forma ao ver seu território ocupado por "paramilitares" violentos.
Mais uma vez, os EUA acusaram a Rússia de dar respaldo a essas milícias e de ser a causadora da instabilidade na Ucrânia, uma mensagem similar à lançada por países como a França e o Reino Unido. "A escala da hipocrisia russa é apavorante", denunciou o embaixador britânico, Mark Lyall Grant, que disse que se os sublevados no leste da Ucrânia fossem "ativistas pacíficos", como diz Moscou, não teriam sido capazes de derrubar helicópteros ucranianos.
Lyall Grant defendeu que a resposta da Ucrânia está sendo "proporcionada" e pediu ao Kremlin que ponha fim a sua "propaganda" e trabalhe para reduzir a tensão.
O embaixador francês, Gérard Araud, assinalou que a "retórica russa não é só ridícula, mas também perigosa" e pediu a recuperação do bom senso e o apaziguamento dos ânimos.
China e outros países como a Argentina pediram também a retomada da via do diálogo e uma solução diplomática.
Em declaração escrita, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, advertiu sobre a deterioração da segurança no leste da Ucrânia e assegurou que a violência e a perda de vidas em Slaviansk são "um claro recordatório do quão perigosa é a situação".
Ban ressaltou que a tomada de edifícios públicos por parte de milícias descumpre os acordos conseguidos em Genebra em 17 de abril entre Ucrânia, Rússia, EUA e a UE, e assinalou que a ONU tratará de impulsionar a via diplomática. Para isso, o subsecretário político das Nações Unidas, Jeffrey Feltman, viajará para a próxima semana tanto a Kiev como a Moscou para se reunir com responsáveis ucranianos e russos.
Fonte: Opera Mundi